Acreanos que não conseguem sair da Bolívia estocam comida temendo greve

Aumentaram em muitos graus nas últimas horas os níveis da temperatura política nas ruas da Bolívia, incluindo a Capital política, a gelada La Paz. Na fronteira com o Brasil, na região de Rondônia, Guajará Mirim, Costa Marques, e no Acre, em Plácido de Castro e Capixaba, na região do Abunã, e no Alto Acre, em Epitaciolândia e Brasileia, que fazem fronteira com Cobija, a Capital de Pando, a tensão é grande porque nessas regiões vivem muitos brasileiros.

Os bolivianos estão saindo às ruas em protesto pelo resultado das eleições que teriam reeleito o presidente Evo Morales para o quarto mandato consecutivo de cinco anos. Morales está no poder desde 2006, após a vitória nas eleições presidenciais de dezembro de 2005, eleito com 53,74% dos votos, frente a 28,59% de seu principal opositor, Jorge Quiroga. Pela primeira vez na Bolívia um indígena chegaria ao poder mediante o voto popular por uma margem considerável sobre o segundo postulante.

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Morales é apoiado pelos camponeses indígenas do pobre Altiplano Andino, que falam idiomas autóctones como o quéchua e o aimará, enquanto seus adversários são os políticos das províncias das planícies, que fazem fronteira com Brasil, Paraguai e Argentina, e têm forte presença branca, concentrando historicamente o poder econômico do país.

Em janeiro de 2009, referendo popular aprovou uma a nova Constituição do país. A partir da sua entrada em vigor, o país passou a se chamar Estado Plurinacional da Bolívia. Em dezembro de 2009, conforme previsto no texto, foram realizadas novas eleições gerais. O presidente Evo Morales foi o candidato mais votado, obtendo 64,2% dos votos.

Protestos tiveram início na segunda-feira em diversas cidades bolivianas/foto: reprodução

Em 2013, um ano antes do término do novo mandato presidencial de cinco anos, houve intensa discussão a respeito da possibilidade de o presidente concorrer mais uma vez ao cargo. Em abril daquele ano, o Tribunal Constitucional Plurinacional, órgão supremo do judiciário boliviano, aprovou a terceira candidatura de Evo Morales, sob o argumento de que, após a publicação da Carta Magna de 2009, o país foi “refundado” como um Estado Plurinacional e, por isso, Morales estaria cumprindo apenas seu primeiro mandato dessa nova fase da Bolívia.

As eleições gerais de 2014 apontaram Evo Morales como o candidato mais votado, com 61% dos votos. Em 2016, foi realizado novo referendo popular. A proposta sob avaliação eliminaria do texto constitucional as restrições sobre o número de mandatos presidenciais. O “não”, pela manutenção do texto, portanto, alcançou 51,29% dos votos.

Ainda assim, em novembro de 2017, o Tribunal Constitucional Plurinacional acolheu um recurso de parlamentares governistas para declarar que a restrição constitucional a respeito do número de mandatos não são compatíveis com o Pacto de San José da Costa Rica. O entendimento unânime foi de que o tratado internacional estabelece normas de direitos humanos mais favoráveis aos cidadãos bolivianos e, por isso, deve prevalecer sobre a Constituição e legislação eleitoral. Resulta que, dessa forma, Evo Morales pode concorrer a mais um mandato presidencial.

Manifestantes tomam as ruas bolivianas/Foto: reprodução

O que parecia normal para mais um mandato conquistado por Morales no último domingo (20) levou a derramamento de sangue e colocou o país sob ameaça de uma guerra civil. O opositor de Morales na atualidade é Carlos Mesa, presidente da Bolívia no período de 2004 a 2005, e candidato nas eleições presidenciais realizadas no país no último domingo, cujo resultado foi questionado por ele e seus aliados. Num primeiro momento, números parciais da apuração davam conta que haveria um segundo turno contra o atual líder do país. Em seguida, a corte eleitoral deixou de alimentar os dados e posteriormente proclamou que Morales havia vencido no primeiro turno mais uma vez, o que levou Mesa a questionar o resultado e convocar os protestos que atingiram todo o país.

Num vídeo postado em redes sociais, Carlos Mesa denuncia o que disse ser manipulação do resultado e chamou a atenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) para o que está acontecendo na Bolívia. “Não podemos aceitar que se trate de manipular um resultado que obviamente nos leva ao segundo turno”, disse Mesa em vídeo, o que levou a população a sair às ruas com o quebra-quebra. Em Cobija foram registradas mortes de populares nas ruas e o país está ameaçado de uma guerra civil.

No meio do fogo cruzado, estão muitos brasileiros, a maioria composta de estudantes que cursam medicina do outro lado da fronteira, principalmente nas cidades de Cobija, Cochabamba e Santa Cruz de La Sierra. Em Epitaciolândia, do lado brasileiro, o prefeito Tião Flores (PSB) recomendou aos estudantes brasileiros que não cruzem a fronteira por esses dias. O mesmo recomenda a prefeita de Brasiléia, Fernanda Hassem (PT). Alguns estudantes de medicina, como a funcionária pública Nadja Neri, já pensam em desistir do curso.

Vídeos postados em redes sociais mostram estudantes brasileiros que não conseguiram deixar o país, que vivem em cidades como Cochabamba, Sucre, Santa Cruz e até mesmo La Paz comprando e estocando comida. Eles temem ficarem sem suprimentos diante da ameaça daquilo que os bolivianos chama de “Paro”, uma greve geral em que o comércio costumar fechar as portas.

Pelo Twitter, autoridades brasileiras do Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, solicita que os brasileiros evitem a Bolívia nesses últimos dias. A fronteira do Acre com a Bolívia está fechada de Plácido de Castro, Capixaba, Epitaciolândia e Brasiléia.

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