Trump adota postura menos agressiva no último debate com Biden; confira destaques

O último debate da campanha para as eleições presidenciais de 3 de novembro nos Estados Unidos foi marcado na noite desta quinta-feira (22) mais pelo embate de ideias do que pelos violentos confrontos verbais que ocorreram no primeiro encontro do presidente Donald Trump com o rival democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden.

Trump, que está atrás nas pesquisas, adotou uma postura menos agressiva do que no debate anterior, em 15 de outubro, enquanto Biden demonstrou mais habilidade do que o rival na abordagem de temas sociais. O republicano, sempre que confrontado com temas nos quais se sente pouco à vontade, buscou voltar à questão dos negócios no exterior de Hunter Biden, filho do democrata.

Como era esperado, os dois divergiram profundamente sobre todos as questões abordadas, que incluíram a pandemia da covid-19 e a crise econômica provocada por ela, o racismo, o direito à saúde, o meio ambiente e as relações com a China e a Coreia do Norte.

O evento foi realizado em um auditório da Universidade Belmont, em Nashville. O público mais uma vez foi restrito e todos precisaram se submeter a testes para a covid-19, incluindo os candidatos.

As regras impediam que os candidatos fossem interrompidos pelo rival sempre que respondiam à primeira pergunta de cada segmento. A moderadora, Kristen Welker, da NBC News, foi incisiva ao manter o rumo das discussões.

Veja abaixo os destaques da noite:

Covid-19

Depois de pedir aos dois candidatos que debatessem de forma tranquila para os eleitores, Donald Trump foi questionado sobre pandemia do novo coronavírus, e suas ações para combater a doença. Ele pontuou alguns dados de estados que, segundo ele, mostram que a doença está sob controle, e prometeu que uma vacina estará pronta em breve. Voltou a lembrar de sua própria infecção, e de sua internação, além da quantidade de respiradores produzidos pelo país, algo sempre mencionado em seus discursos sobre a doença.

Biden, em sua primeira intervenção, atacou a gestão da Casa Branca durante a pandemia, dizendo que o presidente tem responsabilidade na morte de mais de 200 mil americanos.

— O que o presidente mostra é que ele não tem nenhum plano — afirmou, defendendo o uso de máscaras em todos os ambientes e um plano de ação focado na retomada das atividades socioeconômicas.

Na sequência, Trump não quis garantir que uma vacina estaria pronta em questão de semanas, como ele sugeriu em discursos passados, mas afirmou que uma imunização estará disponível em breve. Ainda declarou que pretende usar os militares no processo de distribuição.

Biden, por sua vez, voltou a lembrar declarações incertas do presidente durante a pandemia, e a criticar suas ações — Trump defendeu suas posições, citando a medida para fechar as fronteiras para viajantes vindos da China, no começo da pandemia. O presidente colocou em xeque a estratégia do governo Obama durante a pandemia do vírus H1N1, quando Biden ocupava a Vice-Presidência, “um desastre em sua opinião”.

Biden, mantendo o tom agressivo, questionou as palavras de Trump que, ao sair do hospital, disse que “tudo vai acabar em breve”, se referindo à pandemia. Trump, bem mais ameno do que no primeiro debate, disse que “aprendeu muito” com os eventos dos últimos meses, e afirmou, em resposta a Biden, que “assume a responsabilidade” pelas ações do governo.

Para Biden, a “inaptidão” de Trump provocou a paralisação de boa parte do país, e defendeu padrões para que sejam realizadas novas quarentenas ou medidas de isolamento social, como o fechamento de escolas. Ele citou as escolas, que precisam de mais dinheiro para que possam se adaptar às recomendações.

Trump criticou as ações de governadores democratas que, segundo ele, “fecharam tudo” sem necessidade. Ele disse querer reabrir as escolas, e que “não é possível manter o país fechado”, e citou supostos problemas de saúde provocados pelo isolamento, dizendo que “a cura não pode ser pior do que a doença”.

Biden refutou a ideia de que ele quer “fechar todo o país”, e defendeu medidas flexíveis, como adaptações em locais públicos e a disponibilização de testes rápidos de maneira ampla. Trump, ainda na linha dos fechamentos, disse que Nova York, governada por um democrata, virou uma “cidade fantasma” e que “todos estão saindo de Nova York”. Biden, por sua vez, disse que os estados onde o número de casos está aumentando são “quase todos republicanos”, mas que são “todos americanos”, e precisam receber atenção.

Ao ser questionado sobre suas visões sobre o infectologista Anthony Fauci, disse que “o escuta”, assim como a muitas outras pessoas, e que “ninguém sabia” do que se tratava a doença. Biden, como o fez no primeiro debate, afirmou que Trump sabia ainda no começo da pandemia sobre a gravidade da Covid-19, mas que “escondeu dos americanos”. Em um embate que fugiu do assunto, Trump disse que Biden é o candidato que mais recebe dinheiro de Wall Street.

Segurança nacional

Citando as acusações de que o Irã tenta influenciar as eleições nos EUA, Biden afirmou que qualquer país que leve adiante ações do tipo “terá que pagar o preço”, e que precisa defender a soberania americana. O democrata citou as acusações de que o advogado e aliado de Trump, Rudolph Giuliani, teria ligações com agentes russos, e lembrou a denúncia de que a Rússia pagaria aos talibãs no Afeganistão para cada morte de soldado americano no país.

Trump trouxe uma denúncia (que não foi comprovada) de que Biden teria recebido US$ 3,5 milhões da mulher do ex-prefeito de Moscou, e se colocou como um líder “duro com a Rússia”, citando os pacotes de sanções aplicados contra o país. Trump ainda sugeriu que os russos “provavelmente ainda estão pagando” dinheiro para o democrata, levantando ainda as denúncias contra o filho de Biden, Hunter, e seus negócios no setor de energia da Rússia.

Biden respondeu dizendo “não receber um centavo sequer” de qualquer país, recordando a revelação do New York Times de que as empresas do presidente mantêm uma conta corporativa na China. O republicano disse que vai revelar suas contas “em breve”, e disse que pagou milhões de dólares em impostos nos últimos anos, em resposta à denúncia de que pagou apenas US$ 750 de impostos federais recentemente, acusando o democrata de receber dinheiro da Rússia, Ucrânia e China

— Você é o grande cara, Joe — afirmou, enquanto Biden se mostrava surpreso diante das câmeras. O presidente disse ter sido “muito maltratado” pela Receita americana, e reafirmou ter pago milhões de dólares em impostos.

O democrata voltou a cobrar que o republicano apresente suas declarações de imposto de renda, afirmando que ele vem fazendo essa promessa nos últimos quatro anos. Trump se defendeu dizendo ter sido espionado durante a campanha de 2016 e, recuperando a investigação sobre a interferência russa naquela eleição, afirmou que suas contas foram reviradas e que “nada foi encontrrado”. Ele ainda levantou dúvidas sobre os bens de Joe Biden, sugerindo que ele recebe dinheiro de outros países.

Ao defender seu legado e a inocência de seu filho, disse que a pessoa que fez as acusações contra Hunter não tem credibilidade, assim como a recente denúncia apresentada pelos republicanos envolvendo possíveis negócios com a China.

Sobre suas contas em um banco chinês, Trump disse ter contas “espalhadas pelo mundo”, e que a abertura dela se encaixava em uma estratégia de expandir seus negócios no país, “assim como milhões de pessoas o fazem”, mas garantiu que ela foi fechada antes de começar sua campanha presidencial, em 2015.

Biden foi perguntado se faria a China pagar pelos estragos provocados pelo novo coronavírus, e defendeu medidas para forçar os chineses a atuarem de acordo com as regras do comércio internacional. Em um ataque a Trump, disse que ele abraça e legitima pessoas como o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e esquece dos velhos aliados. O republicano tentou voltar nas acusações contra Biden relacionadas à China, mas foi interrompido pela moderadora, que pediu a ele que respondesse sobre políticas relativas ao país. Trump defendeu sua guerra comercial contra Pequim, sugerindo que as políticas anteriores eram permissivas em relaçao aos chineses.

Questionado sobre a Coreia do Norte, Trump disse ter uma “boa relação” com Kim Jong-un, e que isso teria evitado uma guerra nuclear na região. Sem mencionar relações interpessoais, Biden defendeu uma aproximação diferente, dizendo que a Coreia do Norte “é um problema” e “precisa ser controlada”. Para ele, a abordagem de Trump, a de manter uma amizade com o norte-coreano, permitiu que melhorassem suas capacidades militares. O republicano disse que “não havia nada de errado em ter boas relações com outros países” e Biden prontamente sugeriu que o presidente também poderia dizer o mesmo de Adolf Hitler, logo antes do início da Segunda Guerra.

Saúde nos EUA

Em um dos temas mais sensíveis da campanha, a sucessão na Suprema Corte e uma decisão sobre o futuro do Obamacare, Trump elogiou uma decisão tomada em seu governo, o fim da obrigatoriedade em ter um plano de saúde, e prometeu acabar com o plano atual e construir “um lindo plano de saúde” focado na proteção de pessoas com doenças preexistentes. Ele ainda afirmou que Biden quer “socializar” a saúde.

O democrata, por sua vez, rejeitou a ideia de colocar fim aos serviços privados de saúde, como foi acusado pelos republicanos. Ainda declarou que as propostas de Donald Trump não trazem qualquer tipo de proteção aos segurados, lembrando de como o fim do Obamacare pode deixar milhões de pessoas sem seguro. Biden chamou de “ridícula” a alegação de que planeja criar um sistema universal de saúde, mas deixou aberta a possibilidade de uma opção pública a uma parcela da população.

Trump, em um ataque ao democrata, disse que ele passou décadas no Congresso e oito anos no governo e “não fez nada”, e sugeriu que ele é “mais liberal” do que o senador Bernie Sanders, um socialista dentro do Partido Democrata. Para ele, a “opção pública” oferecida pelos democratas é uma tentativa de colocar fim ao Medicare, um programa focado na população de baixa renda.

Biden afirmou que Trump não está concorrendo contra Bernie Sanders, e acusou o republicano de cortar o financiamento para programas sociais e para previdência social. Em uma fuga do tema, Trump sugeriu que o mercado de ações vai quebrar se Biden for eleito, e o democrata respondeu que a bolsa é apenas uma forma de medir o sucesso econômico do país, mas há outros fatores.

Questionado sobre o aumento da pobreza nos EUA, Trump colocou a culpa na presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, dizendo que ela não quer aprovar um pacote trilionário e emergencial para a pandemia. Biden, por sua vez, foi perguntado por que não pressiona seus colegas de partido para um acordo — Biden respondeu dizendo que foram aprovados planos específicos durante esse período.

Repetindo o tom de sua campanha de TV mais recente, Biden afirmou que vai governar para todos os americanos, não importando sua afiliação partidária — era uma resposta às críticas do presidente à forma como cidades democratas estão sendo geridas, em especial sobre a imigração. Ele ainda defendeu o aumento do salário mínimo nacional, mas Trump disse que essa precisa ser uma decisão tomada pelos estados, sugerindo que um reajuste até o patamar de US$ 15/hora, como quer Biden, colocaria os negócios em risco.

Imigração

No segmento, Trump foi questionado sobre a separação de crianças e seus pais, e respondeu falando que os EUA possuem “as mais fortes fronteiras de sua história”. Ele sugeriu que as muitas entram nos EUA sozinhas, trazidas por cartéis e traficantes de pessoas. Biden lembrou que as separações das famílias ocorreram já em solo americano.

— Crianças foram arrancadas dos braços de seus pais — afirmou Biden. Ele prometeu ainda apresentar, nos cem primeiros dias de governo, apresentar um plano ao Congresso para legalizar a situação de muitas pessoas hoje em situação irregular, em especial os que chegaram aos EUA ainda crianças e receberam uma permissão especial para ficar, os chamados “dreamers”. Ele ainda criticou as regras para concessão de asilo adotadas por Trump.

O republicano afirmou que Biden “não tem qualquer conhecimento sobre leis de imigração”, dizendo que muitos dos que cruzam as fronteiras são criminosos, e que “ninguém volta” aos seus países de origem depois entrar no país, com a exceção, nas palavras dele, de “pessoas com o QI muito baixo”.

Questão racial

Em um dos principais temas da campanha, o racismo na sociedade americana, Biden afirmou que pais negros, não importando seu nível de renda, são obrigados a ensinar seus filhos sobre como devem se portar na rua, e a se preparar para enfrentar abusos de autoridades. Para ele, Trump foi o primeiro presidente a promover a exclusão, não a inclusão — em seguida, defendeu a integração, especialmente a econômica.

A resposta veio rápido:

— Ninguém fez tanto pela comunidade negra como Donald Trump. Se você olhar, talvez com a exceção de Abraham Lincoln…ninguém fez o que eu fiz  — afirmou Trump, citando medidas como a reforma da Justiça Criminal, além de investimentos nas comunidades hispânica e negra.

Biden também negou ter chamado os negros de “superpredadores”, como Trump o acusa de ter chamado nos anos 1990. Também disse ter reduzido a população prisional, defendendo ações como o tratamento obrigatório para pessoas pegas com drogas, e não mais a prisão.

Fugindo do tema, apesar dos apelos da moderadora para que não o fizesse, Trump voltou a levantar acusações de que Biden teria ligação com negócios na Ucrânia, Rússia e China — em resposta, Biden afirmou que a comunidade de inteligência considerou as acusações “um bando de lixo”.

Diante de uma pergunta sobre o apoio de supremacistas brancos à sua campanha, criticou os ativistas do movimento Vidas Negras Importam, e sugeriu que ele querem matar policiais.

— Sou a pessoa menos racista nesta sala — afirmou.

Biden, por sua vez, disse que Trump é a pessoa mais racista da campanha, dizendo que ele “jogou gasolina em todas as fogueiras do racismo” e piorou a situação com os vizinhos com suas declarações. Por outro lado, reconheceu que legislações dos anos 1980 e 1990, que aumentaram o encarceramento, “foram um erro”, defendendo que as pessoas não sejam presas por problemas com drogas ou álcool.

Trump afirmou que ele foi vice-presidente por oito anos e “não fez nada”, um expediente que o atual presidente usou em diversos momentos do diálogo.

— Ele diz que vai fazer isso, vai fazer aquilo — afirmou. — Por que não fez isso nos oito anos de governo Obama. Ele só fala e nada faz.

Na mesma linha, afirmou que só concorreu à Presidência por causa de Biden.

— Joe, concorri por sua causa. Concorri por causa de Barack Obama. Porque vocês fizeram um trabalho ruim. Se achasse que vocês tinham feito um bom trabalho, jamais teria concorrido.

Mudanças climáticas

Neste tópico, Trump disse “amar o meio ambiente” e que está trabalhando com a indústria para melhorar a qualidade do ar — ao mesmo tempo, mencionou a China, dizendo “olhe quão suja ela está”, e criticou o Acordo de Paris por estabelecer padrões diferentes para os países, o que prejudicaria a economia americana.

Em uma abordagem mais científica, Biden disse que “estamos ficando sem tempo”, e que mais quatro anos de Trump no poder “nos deixarão em grandes problemas”. Ele defendeu seu trilionário plano para incentivar a economia verde nos EUA, afirmando que, além de melhorar o meio ambiente, ela vai criar “milhões de empregos”.

Trump sugeriu que haverá aumento de impostos para financiar o plano de Biden, e que as propostas de Biden são “o plano mais louco que alguém já viu”. Segundo o presidente, o custo real da proposta democrata é de US$ 100 trilhões, um número que Biden disse “não ter ideia de onde saiu”. Já o republicano criticou o uso de energias limpas, como a eólica que, segundo ele, “é extremamente cara” e “mata muitos pássaros”.

Para ele, não é possível ter a maior economia do mundo e reduzir a indústria do petróleo. Biden, por sua vez, disse que não vai banir o fracking, uma forma de extração de petróleo — Trump o acusa de querer eliminar essa prática, algo que teria impacto entre potenciais eleitores de áreas de produção, como a Pensilvânia.

O democrata, em uma declaração crucial, disse ter planos para fazer uma transição para o período posterir à indústria petrolífera — para ele, é necessário rumar em direção à neutralização das emissões de gás carbônico até 2050, um dos compromissos do Acordo de Paris.

Na última pergunta, sobre os seus planos para os próxiimos quatro anos de um mandato, Trump lembrou do estado da economia antes da pandemia, e disse que, com ele, isso vai voltar, prometendo cortar impostos, enquanto Biden “vai elevar os impostos” e transformar suas aposentadorias “em um inferno”.

Biden, por sua vez, afirmou que diria aos americanos que vai seguir o caminho da esperança ao invés do caminho do medo, focando em uma economia limpa, e que a eleição diz muito sobre o caráter do país. [Foto de capa: Chip Somodevilla/AFP]

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