Dinheiro público será usado para turbinar publicidade e ‘construir narrativa’ sobre Amazônia

Sob fortes críticas internacionais em relação à sua política ambiental, o governo brasileiro planeja turbinar campanhas publicitárias pagas com dinheiro público para “construir narrativa” sobre as ações da atual gestão em torno da Amazônia. A tática, já usada em 2019, está delineada em documentos produzidos pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL) aos quais O GLOBO teve acesso.

Uma das metas em estudo pelo conselho é aumentar em 70% as notícias positivas sobre prevenção e combate a crimes ambientais. O objetivo é reverter o que o governo classifica como “percepções críticas no Brasil e no exterior relativas à Amazônia”.

Os documentos mostram que os objetivos do governo são “desenvolver ações voltadas à projeção da imagem do Brasil no exterior em matéria de desenvolvimento sustentável da Amazônia” e “construir uma narrativa sobre a estratégia para a Amazônia Legal”.

Para atingir esse objetivo o governo estuda medidas como turbinar ações publicitárias pagas com dinheiro público, principalmente no exterior.

“Intensificar as campanhas publicitárias lançadas pelo governo, tais como: Brazil By Brazil e brazilbybrazil.com, com foco em meio ambiente e agronegócio”, diz outro trecho.

“Aumentar em 70%, até 2021, o número de notícias positivas divulgadas pelo Governo, no que diz respeito à repressão aos ilícitos transfronteiriços e transnacionais”, diz um trecho do documento.

As campanhas mencionadas no documento foram iniciadas em 2019, no auge da pressão internacional pelo aumento das queimadas na Amazônia. A estimativa feita no ano passado pelo próprio governo é de que a campanhas custariam em torno de R$ 40 milhões. No ano passado, foram veiculados anúncios com mensagens positivas sobre o Brasil em países como Reino Unido, Holanda, Irlanda e Estados Unidos.

Os documentos mostram também que o governo estuda acelerar a velocidade da divulgação dos resultados de operações na região e estabelecer novos critérios de “prestação de contas” dessas operações. Pelos documentos, no entanto, não fica claro se esses novos critérios representariam restrições a agentes públicos para divulgar dados sobre as ações do governo na região.

Temor que má imagem do país afete acordos estrangeiros

Os documentos obtidos pelo GLOBO fazem parte de uma apresentação entregue durante a última reunião do CNAL, no início de novembro. Eles detalham uma série de objetivos, metas e ações que o governo estuda sobre a Amazônia. Parte deles é referente às estratégias que o governo pretende adotar para mudar a imagem do país no exterior.

O temor é que a má imagem do país lá fora afete acordos comerciais e decisões sobre investimentos estrangeiros no Brasil. Nos últimos dois anos, o Brasil foi duramente criticado pela comunidade internacional por conta do aumento nas taxas de desmatamento e de incêndios na região amazônica.

“Desenvolver ações de diplomacia ambiental para reverter as percepções críticas ao Brasil no exterior relativas à Amazônia e o meio ambiente, que afetam os negócios comerciais e a decisão investimento”, diz um trecho dos documentos.

A reportagem enviou perguntas para a Vice-Presidência da República e para a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), vinculada ao Ministério das Comunicações. A Secom informou que o assunto era da alçada da Vice-Presidência e não forneceu nenhum outro esclarecimento. A Vice-Presidência, por sua vez, ainda não se pronunciou. [Capa: Romério Cunha/Agência O Globo]

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