20 de abril de 2024

‘Depois da pandemia poderemos ter um período de libertinagem sexual e gastança desenfreada’

Em seu novo livro, Apollo’s Arrow: the Profound and Enduring Impact of Coronavirus on the Way We Live (“A Flecha de Apolo: o Impacto Profundo e Duradouro do Coronavírus na Maneira como Vivemos”, em tradução livre), ele analisa os efeitos da pandemia na sociedade a partir de uma perspectiva histórica e se debruça sobre o que pode acontecer nos próximos anos.

Considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo e pela revista Foreign Policy como um dos 100 maiores pensadores globais, Christakis é uma voz respeitada no ambiente acadêmico. Por isso, suas expectativas em relação às transformações sociais e o futuro da humanidade normalmente geram repercussão.

Desapontado com a forma como a Casa Branca lidou com a pandemia, o pesquisador diz ter esperança de que as vacinas ajudarão os Estados Unidos a sair da crise — mas ressalta que a imunidade de rebanho (coletiva ou de grupo) não será atingida no curto prazo.

Para ele, depois de enfrentar o impacto biológico da pandemia em 2021, a humanidade terá de lidar com as consequências sociais, psicológicas e econômicas do vírus por um período bem maior antes de efetivamente entrar no que pode ser considerado uma era pós-pandemia.

“Se você olhar para o que aconteceu nos últimos 2 mil anos, quando as pandemias acabam, há uma festa. É provável que vejamos algo parecido no século 21.”

Leia, a seguir, trechos da entrevista, editada para que tenha maior clareza e concisão.

BBC Mundo – Com o desenvolvimento de diferentes vacinas para frear a expansão de covid-19, estamos diante do princípio do fim da pandemia?

Nicholas Christakis – As coisas vão continuar ruins por algum tempo. Inventamos uma vacina, o que é algo milagroso, porque somos a primeira geração de humanos capazes de criar, em tempo real, uma resposta.

Isso nunca havia acontecido na história. Em apenas 10 meses conseguimos obter uma vacina. Ainda assim, ainda é preciso produzir centenas de milhões de doses, distribuí-las e, mais importante, convencer as pessoas para que se vacinem.

Pelo menos metade da população deve ser imunizada (para que os efeitos benéficos da vacina sejam percebidos), e isso levará pelo menos um ano, não vai acontecer mais rápido. Enquanto isso, o vírus segue se propagando.

Então vamos viver dessa maneira esquisita como temos vivido, com máscaras e restrições pelo menos até o fim de 2021.

Depois conquistaremos a imunidade de grupo, seja de maneira natural, porque o vírus infectou quantidade suficiente de pessoas para isso — com enorme custo humano —, ou porque muita gente se vacinou.

BBC Mundo – Essa é só a primeira parte do processo. E depois?

Christakis – Em seguida, temos que nos recuperar dos impactos sociais, psicológicos e econômicos.

Milhões de pessoas estão sem emprego ou tiveram de fechar seus negócios. Muitas crianças interromperam os estudos. E muitas pessoas estarão de luto. Superar todos esses problemas não será algo rápido.

BBC Mundo – Essa é uma dinâmica semelhante à de outras pandemias?

Christakis – Se observarmos a história das pandemias, voltando milhares de anos, isso tomará tempo. Penso que a atual etapa em que a pandemia se encontra se estenderá pelo menos até o fim de 2021, em seguida virá um período intermediário e, por volta de 2024, entraremos no pós-pandemia.

Não creio que estejamos no início do fim desta pandemia. Creio que estamos no fim do princípio.

BBC Mundo – E quais lições podemos aprender de outras pandemias que vivemos no decorrer da história?

Christakis – São muitas. A primeira é reconhecer que a maneira como vivemos hoje parece antinatural, como se vivêssemos em uma época estranha, desconhecida.

Mas as pandemias não são novas para nossa espécie, são novas apenas para nós. Pensamos que é maluco, selvagem viver esses tempos. Mas não é.

O que acontece é que estamos vivos em um momento em que há um evento que ocorre uma vez a cada 100 anos. É importante não perder a perspectiva.

Outra coisa é que, ainda que o vírus realmente seja perigoso, já que mata cerca de 1% da população infectada, não é pior que outros. Poderia estar matando 10%, 30% dos infectados.

Poderíamos estar enfrentando a peste bubônica em nível global, porque não há nenhuma razão específica para que um vírus mate apenas 1%. No filme Contágio, por exemplo, o vírus mata uma em cada três pessoas. Poderíamos estar nesse cenário, mas não estamos.

Ainda assim, estou irritado com a Casa Branca, porque eu e outros especialistas que trabalham com essas questões sabíamos que o vírus se tornaria um problema grave até o final de janeiro (de 2020).

E sabemos que o presidente Trump foi informado sobre isso há mais ou menos um ano e não tomou medidas. O país tinha que ter estado preparado para fazer um sacrifício compartilhado em nome da saúde coletiva.

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