24 de abril de 2024

Pesquisa feita por cientistas brasileiros sugere que polvos podem sonhar

Com oito tentáculos enrolados em torno de si mesmo, como se estivesse se abraçando, e pupilas estreitas como uma fenda, um polvo respira uniformemente. Seu corpo é totalmente cinza esbranquiçado.

De repente, ele começa a mudar de cor – uma mudança hipnotizante entre o laranja queimado e o vermelho ferrugem. Seus olhos, músculos e ventosas se contraem como se estivesse tendo um sonho particularmente vivido.

Essas mudanças na cor, no comportamento e no movimento são, segundo cientistas brasileiros, evidências de uma fase do sono, na qual o animal alterna entre o sono ativo e o tranquilo.

Seria algo semelhante ao que ocorre com os humanos, que alternam entre o sono profundo e o REM (Rapid Eye Movement), quando há uma movimentação rápida dos olhos.

As descobertas, publicadas na quinta-feira (25), na revista iScience, mostram como o sono pode ter evoluído de maneira semelhante em criaturas muito diferentes e sugere que os polvos podem experimentar algo semelhante a um sonho.

“Não é possível afirmar que os polvos sonham porque eles não podem nos dizer isso, mas nossos resultados sugerem que, durante o ‘sono ativo’, o polvo experimenta um estado análogo ao sono REM, que é o estado durante o qual os humanos mais sonham” explicam Sidarta Ribeiro e Sylvia Medeiros, autores do estudo.

Ribeiro é professor de neurociência do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e Medeiros é aluna de doutorado na mesma universidade.

Os cientistas costumavam pensar que apenas mamíferos e pássaros experimentavam diferentes estados de sono – pense em um gato adormecido se contorcendo como se estivesse perseguindo um pássaro no quintal.

No entanto, pesquisas mais recentes revelaram que alguns répteis e chocos (uma espécie de molusco marinho e parente do polvo) apresentam sono não-REM e REM.

Os polvos têm uma estrutura cerebral muito diferente da dos humanos, mas compartilham algumas das mesas funções dos cérebros dos mamíferos.

Eles têm habilidades especiais de aprendizado, incluindo a capacidade de resolver problemas e outras habilidades cognitivas sofisticadas, afirmam os autores.

De acordo com os pesquisadores, investigar o sono dos polvos era um “ponto de partida” para compará-los neurobiologicamente e psicologicamente com os mamíferos.

As semelhanças nas fases do sono são, segundo os cientistas, provavelmente uma consequência “das cargas mentais muito desgastantes experimentadas por esses grupos distintos de animais”.

Há muito tempo o polvo é uma fonte de fascinação humana. Imagens de vídeo de 2019 de um polvo chamado Heidi mudando de cor enquanto dormia em um tanque fez os cientistas se perguntarem se as criaturas poderiam realmente sonhar. O documentário da Netflix “My Octopus Teacher” também mostrou as habilidades únicas dessas criaturas.

Sonhos em GIFs

Como os pesquisadores tiveram certeza de que os polvos que estudaram estavam dormindo e não apenas descansando? Eles filmaram quatro membros da espécie Octopus insularis no laboratório e estudaram o comportamento dos animais por um período de mais de 50 dias.

Os polvos eram muito sensíveis a estímulos fracos quando estavam alertas, mas nos os estados de sono eles precisavam de um forte estímulo visual ou tátil para evocar uma resposta comportamental, detalharam os cientistas.

Geralmente, os polvos mudam a cor da pele para se camuflar ou para se comunicar, mas durante o sono, os fatores ambientais não desencadeiam mais esses padrões. Os pesquisadores inferiram que as mudanças de cor durante o sono resultam da atividade cerebral independente.

O estudo descobriu que o polvo experimenta um sono ativo após um longo sono tranquilo, que geralmente é superior a seis minutos.

“Se os polvos realmente sonham, é impossível que vivenciem tramas simbólicas complexas como nós. O ‘sono ativo’ no polvo tem uma duração muito curta, normalmente de alguns segundos a um minuto”, disseram os autores. “Se durante esse estado há algum sonho acontecendo, deve ser mais como pequenos videoclipes, ou mesmo gifs”, completam.

 

(Foto: Glucosala/Pixabay)

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