Com 100 dias no cargo, Frank Lima diz que supera críticas com muito trabalho

O secretário de Saúde da Prefeitura de Rio Branco, Frak Lima já completou 100 dias no cargo.

O braço direito de Tião Bocalom concedeu entrevista à reportagem do ContilNet nesta terça-feira (13) para falar sobre as conquistas, a gestão do combate à pandemia do coronavírus na capital acreana e as expectativas para os próximos dias.

Na ocasião, Lima, que já foi sindicalista e tem especialização em Saúde Pública, relatou que está feliz no cargo.

“Fechando os 100 dias, estou de alma lavada e muito tranquilo nesse cargo, porque sei que estamos superando todas as críticas com trabalho”, destacou.

Como o senhor encontrou a Secretaria Municipal de Saúde logo que assumiu a pasta?

A Secretaria de Saúde, em meio à pandemia do coronavírus, é sempre uma secretaria muito exigida. Quando chegamos, percebemos que a gestão passada havia negligenciado a questão da prevenção. Já no início do mês de janeiro, a dengue já estava em alta. Precisávamos fazer alguma coisa, e rapidamente a gente montou uma equipe na vigilância pra que pudéssemos ter os dados que orientassem as ações.

Recebemos uma secretaria, do ponto de vista financeiro, bem sanada, inclusive, com recursos em caixa, mas do ponto de vista da política de saúde pública, havia um desmonte na secretaria. Havia muitos acordos que administrativamente não se sustentavam, de privilégios e vícios. Tivemos que ir quebrando isso ao longo do tempo pra poder organizar minimamente esse choque de gestão.

A nossa reponsabilidade é a atenção primária, a que vai dentro da casa do paciente, envolvendo o agentes de saúde, de endemias, de zoonose, enfermeiros, médicos, etc. Quando olhei para nossa realidade nesse sentido, fiquei preocupado, pois dava pra perceber um desmonte nessa área de estratégia de saúde da família. Nós temos 79 equipes de saúde da família inscritas no Ministério da Saúde e só 59 estavam completas. Em 20, estavam faltando alguns profissionais. Quando falta profissionais, deixamos de receber o repasse. Trabalhamos para corrigir isso, conversando com agentes de saúde, chamamos para reintegrar as equipes, fazer o serviço de campo, organizamos as URAPs, trocamos as gestões e conseguimos alinhar as coisas. Trocamos também os gestores das UBS. É preciso muito esforço. Estamos com os 100 dias de gratidão a Deus e ao prefeito Tião Bocalom pela oportunidade. Nossa gratidão é maior ainda aos profissionais de Saúde que estão batalhando nesse momento tão crítico.

Sobre a pandemia da dengue e as enchentes nos bairros, como foi o processo de gestão no combate aos danos causados pelo mosquito e pelo aumento no nível das águas dos igarapés e do Rio Acre?

Tivemos que decretar no início de fevereiro epidemia de dengue, por 180 dias, devido à quantidade de casos. Uma força tarefa precisou ser organizada pela Semsa. Além da pandemia, estávamos com outra preocupação. Além disso, veio a enxurrada dos igarapés que atingiu mais de 2 mil pessoas. Isso também impacta nas ações de Saúde, porque temos que tirar as pessoas de dentro da água. Montamos abrigos com inspeção diária, com atendimentos médicos, para que as famílias não ficassem desassistidas. Ou seja, tivemos quatro eventos acontecendo ao mesmo tempo: enchente dos igarapés, transbordamento do Rio Acre, pandemia do coronavírus e epidemia de dengue.

Montamos uma estrutura diferente para as famílias, com distanciamento social e testagem das pessoas, separadas por cores.

Recebemos visitas da Secretaria Nacional de Defesa Civil que considerou essa organização dos abrigos como exemplo de boas práticas em catástrofes. O modelo que fizemos deu muito certo e ajudou centenas de famílias.

Estamos há 3 semanas em queda no número de casos de dengue e é possível que na próxima semana a gente saia da condição de epidemia.

Você recebeu inúmeras críticas de membros da sociedade civil, do executivo e do legislativo, além de especialistas da Saúde, a respeito gestão que vem fazendo neste momento de pandemia. O que teria motivado isso? Como o senhor lida com essas críticas?

Lido com tudo isso de forma muito tranquila. As pessoas gostariam de ver alguém aqui sentado de palito e gravata, que não é meu estilo. As pessoas não me conheciam como administrador, mas como sindicalista ou político partidário. É tanto que quando entrei aqui, foi muita questionada a minha capacidade técnica para ser o secretário de saúde, mas isso não me incomoda, porque tenho 26 anos como trabalhador de Saúde, sou formado como administrador e especialista em Saúde Pública. Quando vim pra cá como secretário, eu já sabia o que ia fazer, e quando vieram essas críticas, não me incomodei porque estava focado na resolutividade, porque sabia que uma hora eu ia ser chamado para isso. Eu me preparei para isso. Quando sentei nessa cadeira, que veio uma enxurrada de críticas, eu chamei minha equipe e disse: “Esqueçam o Facebook, o WhatsApp e as críticas da imprensa, mas foquem naquilo que queremos, porque o resultado do trabalho vai nos levar a dobrar a língua daqueles que criticaram sem conhecer o nosso trabalho”. Hoje, fechando os 100 dias, estou de alma lavada e muito tranquilo nesse cargo, porque sei que estamos superando todas as críticas com trabalho.

Os trabalhadores da Saúde avançaram. Se você olhar para a primeira onda do coronavírus, em 2020, só era possível conseguir uma consulta em Rio Branco se você fosse paciente de covid. Se você fosse cardiopata, hipertenso ou diabético, a história era ‘Fica em Casa’, e eu era um crítico disso. Sindicalista, especialista em Saúde Pública, lotado no gabinete do secretário de Saúde, eu sempre disse que a postura do município estava errada, porque se você olhar para o município de Rio Branco, as atividades de Saúde, de março a junho, estavam fechada para o público. Isso estava errado. Os agentes de Saúde estavam em casa, não porque queriam, mas porque a gestão não preparou eles para combaterem a pandemia. As pessoas precisavam ser atendidas na fase inicial, medicadas na fase inicial, mas a gente não era escutado. Quando cheguei aqui, a primeira coisa que fiz foi preparar os agentes, para que atuassem na ponta, orientando a população. Sempre defendi isso. Abrimos outras unidades de referência para tratamento da covid-19, quando só tínhamos uma na gestão passada.

Diversas pessoas, inclusive médicos da linha de frente do combate à pandemia no Acre, também lhe criticaram pela adoção do ‘kit covid’ como forma de tratamento da doença e pelo seu posicionamento a respeito do fechamento do comércio. O que pensas disso?

Vou repetir o que disse lá no início, porque acredito no que falei: É melhor medicar as pessoas do que fechar supermercado. Eu posso mostrar que estou correto. A partir dali, tivemos uma reunião com o Ministério Público do Acre (MPAC), e vi muitos me criticando, inclusive uma vereadora que falava da medicação, mas não recuei, porque eu sei que as pessoas não ficam boas tomando água de pote, mas passando por uma consulta médica, testagem e recebendo medicação na hora certa. E hoje eu estou convicto e os números mostram que eu estava certo. Chamei, há 15 dias, todos os coordenadores das Unidades Básicas de Saúde (UBS) para que colocassem medicação nos postos.

A medicação que o senhor fala é a do ‘kit covid’ (azitromicina, cloroquina e ivermectina) implantada pela Prefeitura?

Eu não tenho kit covid, eu tenho remune [Relação Municipal de Medicamentos Essenciais]. Se isso que vocês chamam de kit covid está dentro da Remune, eu estou habilitado pelo Ministério da Saúde, pela Anvisa e pelo Conselho Federal de Medicina para comprar e medicar. A conduta médica cabe ao médico. O que pedi foi para que não deixem as pessoas morrerem à míngua. Pedi a todos os médicos que não encaminhassem pessoas com síndromes gripais para URAP ou UPA, mas que tratássemos nos bairros. Eu te convido para ir ao INTO, ao Maria Barroso e à Upa do Segundo Distrito para que veja a tranquilidade que está lá. Isso é fruto do trabalho que estamos fazendo na periferia, de ponta. Te prometo que nos próximos 10 dias, 30% das UTIs do Into e do Pronto-Socorro vão estar sem pessoas, porque nós estamos tratando na inicial, o que deveria ter sido feito desde o início. Essas pessoas não estão agravando. O Into e PS terão vagas nos próximos dias.

O uso indiscriminado dessas medicações tem causado falência hepática, de acordo com os especialistas.

Não estamos falando de medicação que vai te impedir de pegar covid, mas medicar de acordo com orientação médica. Não estamos montando barraca e entregando medicação para todo mundo. Não trabalhamos com profilaxia, mas medicando quem precisa. Quem quiser criticar pode criticar, mas que vá ao Into verificar a situação.

Você acredita que essa medicação dada inicialmente contribuiu para a diminuição no número de casos, mortes e internações pela doença?

Eu quero crer, e que você faça uma reflexão. Se há 20 dias estávamos com os hospitais no limite e, a partir da decisão de gestão de consultar e medicar no início da infecção, tivemos essas unidades desafogadas, foi milagre ou trabalho?

O decreto governamental, com algumas restrições sobre o funcionamento do comércio e com o toque de recolher, teria contribuído para isso, também?

As duas coisas anda juntas. Inclusive, se você pegar o que eu disse ao ContilNet, que não adiantava baixar o decreto sem fiscalizar a execução dele, isso fica claro. Quando você intensifica o decreto, consulta e medica as pessoas, aí temos essa diminuição que estamos vendo acontecer. Menos pessoas circulando e mais pessoas assistidas.

Como percebe o esquema de vacinação em Rio Branco? Está dentro do esperado?

Eu sou administrador. Aqui na Semsa, sentado nessa cadeira, aprendi que o difícil não é administrar muito, mas administrar pouco para muita necessidade. Então, eu gostaria que o município recebesse 15 mil vacinas por semana, porque aí teria o suficiente para aplicar todos os dias, mas, infelizmente, durante mais de 60 dias nós recebemos 40 mil doses. Não tem vacina suficiente.  O palanque da vacina é porque não tem vacina. Se tivesse 300 mil doses em Rio Branco, ninguém falava. Por que as pessoas estão falando em vacina? Porque todo mundo quer fazer parte do grupo prioritário, mas não é isso que preconiza o Ministério da Saúde.

Fiquei na semana passada com a equipe toda parada porque não temos vacina. Não tem incompetência. O governador diz que a culpa é dos municípios, mas ele precisa dizer qual é o município. Disse ao governador que se ele tiver 80 mil doses disponíveis, que dê ao município, porque nós queremos aplicar.

Quais os próximos passos da sua gestão?

Lutar pela Saúde do trabalhador, que também precisa ser cuidado, assistido, dar mais suporte aos nossos moradores pelos programas que temos, como o que não permite mais as filias quilométricas nos postos de saúde para conseguir uma consulta, além de lutar pela vacinação em massa. Estamos trabalhando e compromissados com a população.

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