R$ 21 mi em dívidas, cemitério de máquinas e caos na saúde: prefeito conta como encontrou o município

Quando foi eleito com 44,55% dos votos válidos nas últimas eleições, o prefeito de Capixaba Manoel Maia (DEM) não tinha a mínima noção do desafio que teria pela frente. Ao lado do vice Richard Lima, que aceitou o desafio de ser, nos primeiros meses de gestão, o Secretário de Planejamento, fizeram um verdadeiro levantamento para saber a real situação do município.

O resultado chocou até os mais pessimistas: a dupla calculou um montante de cerca de R$ 21 milhões em dívidas, constatou um verdadeiro caos na área da saúde, encarou uma bandeira vermelha na prevenção à covid-19, encontrou um verdadeiro cemitério de máquinas, que deveria estar atendendo a zona rural, que representa cerca de 70% do município – de acordo com dados repassados pelo prefeito, dívidas com pessoal, gastos de energia elétrica e diversos outros desafios.

Manoel conta que apenas agora, após cinco meses de gestão, conseguiu respirar. “Em cinco meses de gestão, posso dizer pra você que, hoje, a gente coloca os pés no chão. Eu e nosso vice Richard estamos caminhando juntos e, nesse primeiro momento, confesso que não foi fácil. Pegamos um município com uma das piores situações no Estado. Muitas dívidas, maquinário sucateado, uma fase muito complicada da pandemia, educação inoperante por conta da pandemia e hoje a demanda do nosso município é de 70%, mais ou menos, da zona rural; para você fazer um bom trabalho, é necessário dar ao produtor o direito de ir e vir”.

Da esquerda para a direita: vice-prefeito Richard Lima e prefeito Manoel Maia. Foto: ContilNet

O prefeito recebeu a equipe do ContilNet Notícias para uma conversa e abriu o jogo sobre a situação do município, detalhou dívidas e ainda revelou os planos para as Eleições 2022. Acompanhe:

ContilNet: Prefeito, como o senhor avalia esses primeiros meses de gestão?

Manoel: Em cinco meses de gestão, posso dizer pra você que, hoje, a gente já coloca os pés no chão. Eu e nosso vice Richard estamos caminhando juntos e, nesse primeiro momento, confesso que não foi fácil.

Pegamos um município com uma das piores situações no Estado. Muitas dívidas, maquinário sucateado, uma fase muito complicada da pandemia, educação inoperante por conta da pandemia e hoje a demanda do nosso município é de 70%, mais ou menos, da zona rural; para você fazer um bom trabalho, é necessário dar ao produtor o direito de ir e vir. Precisamos de assistência técnica na agricultura e confesso que encontramos uma situação complicada.

Muitas contas atrasadas: energia, impostos atrasados, diversos precatórios. Mas, estamos aqui: na luta, com os pés no chão e, se Deus quiser, vamos realizar os sonhos que temos para o nosso município.

Prefeito, é impossível não falar com autoridades locais, nesse momento que estamos vivendo, e não perguntar acerca da saúde. Qual a situação do município? Como está a vacinação? As políticas de enfrentamento à pandemia estão surtindo efeito?

É um desafio que estamos enfrentando com dificuldade. Porque, por exemplo: nós dependemos muito de transporte, certo? Quando eu falo de maquinário sucateado, eu também estou falando de transporte no geral. Temos carros, camionetes quebradas e isso interfere no trabalho dos profissionais que fazem o acompanhamento.

O último decreto nos colocava na bandeira vermelha. Hoje, acredito estarmos na azul: de acordo com os últimos indicadores, nos últimos dez dias, tivemos, no máximo, 5 casos. A maioria dos dias é zero. E pode ter certeza que a previsão é de melhora, pois agora podemos dizer que estamos em um melhor patamar.

Existe alguma projeção para os próximos dias? Há algo planejado em termos de enfrentamento? Como a Secretaria de Saúde tem trabalhado na vacinação e na contenção de novos casos?

Estamos melhorando nossa logística de transporte para fazer a busca ativa; infelizmente, temos registros de pessoas que não querem ser vacinadas. Não acreditam na vacina. É algo real, que faz parte do nosso dia-a-dia. Mas estamos continuamente buscando melhorar nossos indicadores, otimizando transporte, pessoal, melhorando as condições de trabalho dos agentes da linha de frente para melhor atender e aumentar nosso percentual de vacinados.

O senhor já parou para fazer um balanço do seu secretariado? Eles estão sendo eficientes nas frentes onde se propuseram a estar? Os desafios estão sendo cumpridos?

Ainda hoje, dei uma entrevista para um portal aqui do município e falei sobre esse assunto. Graças a Deus, meu secretariado tem uma boa aceitação por parte da comunidade. Eles estão desempenhando um bom trabalho. Na pasta de Obras, estamos nos mobilizando para a recuperação dos ramais. Na Educação, estamos nos mobilizando para reformar todas as escolas, manutenção dos transportes escolares e fazendo busca ativa de alunos.

Na Saúde, estamos resolvendo uma série de problemas, resolvendo questões como contratação de médicos, falta de medicamentos, isso tudo tem evoluído. As coisas estão caminhando bem. Acredito que nunca tivemos tantos medicamentos nos postos como hoje. Na Assistência Social, temos acompanhado as famílias carentes. Estou feliz com o time montado; tenho certeza que eles têm dado uma grande resposta ao município.

Onde passamos nas ruas, as pessoas tem comentado: vocês estão de parabéns. Retiramos toneladas de entulhos das ruas. Acredito que estamos dando uma resposta ao voto de confiança dado por cada um. O povo está feliz.

De zero a dez, o quanto o senhor acha que sua gestão está alinhada com o Governo Estadual? E com relação ao Governo Federal?

Com a parceria que temos com o Governo do Estado, eu diria que, por enquanto, estamos com nota 8. Vejo da mesma forma a parceria com o Governo Federal.

O que falta para chegar a dez em ambas as esferas?

Recentemente, tive uma conversa com o nosso governador Gladson Cameli e ainda temos muito a fazer juntos por Capixaba. Temos, por exemplo, um maquinário prometido pelo Governo do Estado. Acredito que, com o avanço dessas conversas, chegaremos no dez. Em termos de manutenção e combustível, nosso convênio praticamente dobrou: de R$ 280 mil para R$ 420 mil. Isso vai nos dar uma força muito grande no amparo à zona rural.

Na esfera federal, estamos avançando. Temos auxílio emergencial, aporte, mas sinto falta de desburocratizar processos. Por exemplo: recebemos um recurso do Governo Federal. Em dezembro, o deputado Alan Rick destinou uma emenda de R$ 750 mil. Na época, eu compraria uma escavadeira e um caminhão. Hoje, por conta da demora, não dá para comprar nem a escavadeira. Há uma defasagem no dinheiro, fica difícil para você trabalhar.

Mas acredito que ele [o presidente Jair Bolsonaro] precisa ganhar a eleição mais uma vez.

Falando em emendas, o senhor conta que recebeu dívidas da gestão antiga. Para controlar os recursos destinados por emendas, o município precisa estar adimplente. O senhor já conseguiu controlar as despesas?

Nós recebemos o município com 11 itens no vermelho. Agora, estamos com 8. Minha meta é tirar o município da inadimplência até o final do ano.

É tanta dívida assim? O senhor pode nos dar mais detalhes sobre esses valores que estão em aberto?

Vamos lá: só de energia elétrica, por exemplo, temos R$ 335 mil. Isso sem contar com os parcelamentos anteriores. INSS: quase R$ 300 mil. FGTS: R$ 8 milhões e alguma coisa (sic). Precatórios: R$ 7 milhões e alguma coisa (sic). Declarações de GFIP [documento de arrecadação do FGTS e de informações à Previdência Social], outras declarações, despesas com pessoal, enfim. Muita coisa.

Num total, temos quase R$ 21 milhões em dívidas. Não estou brincando quando falo que essa é uma das prefeituras mais desafiadoras do Acre inteiro. Recentemente, saiu no Gazeta Alerta uma Patrol [motoniveladora] nossa, novinha, com 2000 horas de trabalho, parada. Temos aqui um cemitério de máquinas. Temos equipamentos, como retroescavadeiras, sem peças. Sumiu. O gato comeu. Camionete 2018 com cabeçote trincado. Falta total de compromisso [da antiga gestão].

Uma das saídas para o município pode ser a iniciativa privada, já que grandes empresas estão aqui. Temos o caso, por exemplo, da Álcool Verde. Como está a situação de empresas como essa aqui no município?

Olha […] hoje, na verdade, está tudo parado lá. Existem algumas movimentações internas acontecendo, o que indica que ela pode ter sido vendida [essa informação não é oficial]. Mas, com relação a impostos, o que ouvi é que houve perseguição do governo passado, com questões ambientais, e falta de incentivo.

Prefeito de Capixaba recebe reportagem do ContilNet para entrevista exclusiva. Foto: ContilNet

Com a chegada do verão, muitos produtores já se programam para safras. Quais os projetos da prefeitura para apoiar os produtores locais, visto que essa é uma frente que é importante para o município?

Por conta das deficiências do município, nesse primeiro momento, nossas programações são poucas. O trabalho que é feito hoje é o de recuperação, dos ramais, dos equipamentos e isso não nos permite ter um amplo planejamento nesse primeiro momento. Não tem como. Para ter ramais, precisamos ter máquinas. Nosso maquinário está bem defasado para atender uma malha viária de quase 800 quilômetros de ramais. Precisamos do apoio do Estado – eles garantiram que iriam nos enviar uma patrulha mecanizada. Ou é isso ou o Deracre para nos apoiar nessa recuperação.

Capixaba é um município muito promissor. Tem um potencial incrível! Relevo bom, clima bom, solo produtivo, localização estratégica. Somos, hoje, o maior produtor de soja do Estado, na pecuária somos o maior produtor de gado de corte e arrisco a dizer que já somos os maiores produtores de maracujá e estamos entre os primeiros de abacaxi também. Vamos tentar fazer o possível para auxiliar esses produtores e aumentar essa produção.

Para realizar todos esses projetos, apoio nas bancadas é fundamental. O senhor pretende montar alianças para as próximas eleições? O morador de Capixaba pode esperar alguém do município concorrendo, com o seu apoio, a algum cargo legislativo nas próximas eleições?

Por enquanto, não há nenhum nome sondado nesse sentido, dentro do município. Por enquanto, nosso foco é trabalhar no município, fazendo o que tem que ser feito. Nesse momento, dentro do meu partido, meu compromisso é com o deputado Alan Rick. Se ele for candidato ao Governo, é o meu candidato; se for candidato ao Senado, é o meu candidato e se quiser ser deputado federal de novo, é o meu candidato.

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