Após a CNN divulgar e-mails de possíveis negociações entre o reverendo Amilton Gomes de Paula, ouvido na CPI da Pandemia nesta terça-feira (3), e a Associação dos Municípios do Acre (Amac), para aquisição de vacinas contra a covid-19, a reportagem do ContilNet procurou o coordenador executivo do órgão, Marcus Lucena, para comentar o assunto.
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O representante da Amac confirmou que houve uma troca de mensagens com Renato Gabbi, integrante da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), instituição dirigida por Amilton, mas disse que em nenhum momento conversou com o reverendo.
“Recebemos a proposta da Senah, mas não tivemos contato direto com o reverendo. Na época, consultei o prefeito Tião Bocalom e os demais integrantes da Amac. Naquela situação, não achamos fundamentação jurídica para adquirirmos os imunizantes por essa empresa. Quem teve contato com a Amac foi o Renato Gabbi, que disse que era de uma instituição que comercializava a vacina contra a covid”, destacou.
“Ele falou de várias vacinas que poderiam ser vendidas para os municípios, mas fiz algumas consultas e descobri que os municípios e os Estados não poderiam adquirir essas vacinas porque todos os laboratórios tinham uma carta de exclusividade com o governo federal. Ele começou a insistir. Entrou em contato comigo porque alguém deu o meu contato pra ele”, continuou.
Marcus disse que fez o contato com a empresa para não ser questionado posteriormente. “Conversei com o prefeito Tião Bocalom e disse para os demais [prefeitos] que iríamos verificar essa oferta, mesmo sabendo que as vacinas não seriam adquiridas pelos Estados, para que eu não fosse questionado depois sobre não ter feito contato com a empresa”, explicou.
O coordenador reiterou seu discurso e disse que não houve negociação: “Não fechamos negócio porque não tínhamos autorização para isso. Manifestamos intenção por uma carta, mas isso não gera obrigatoriedade de compra”.
Lucena disse que, como o Governo Federal já havia adquirido doses da Astrazeneca (única vacina oferecida pelo representante da empresa que fez contato com a Amac), o órgão não tinha interesse pelo imunizante, mas que estava almejando os da Janssen, de dose única.
“Não queríamos Astrazeneca, porque o Governo Federal já havia adquirido doses do imunizante, mas estávamos interessados na Janssen, que era dose única e a oferta era de um preço único”, argumentou.
Marcus disse que também não teve contato com Cristiano Carvalho, representante da Davati, empresa que o tinha Carvalho como interlocutor e que negocia as vacinas no Brasil, mas que sua última conversa foi feita com Gabbi, pelo WhatsApp, sem qualquer acordo afirmado.
Em nota enviada à CNN, a Davati disse que sabia das tratativas entre Carvalho, que “agiu de forma independente na oferta”, e a Amac.
“Davati Medical Supply informa que Cristiano Carvalho agiu de forma independente fazendo ofertas como a da Associação de Municípios do Acre (AMAC). No dia 30 de março, ao verificar grande quantidade de cartas de interesse recebidas, o CEO da empresa, Herman Cardenas, respondeu ao representante autônomo que não poderia manter oferta a diferentes municípios pois ainda aguardava retorno da proposta apresentada ao Ministério da Saúde”, destacou a empresa.
Ao final da entrevista, Marcus disse que a carta de intenção e os contatos não geraram para a Amac nenhum prejuízo e que órgão está à disposição para quaisquer esclarecimentos.