“Adeus, Dudu”: Amigos e familiares lançam as cinzas de Edunyra Assef em lago no Acre; confira

Amigos e parentes se reuniram, num grupo pequeno ainda por cuidados sanitários face à pandemia, na manhã deste sábado (18), no Horto Florestal de Rio Branco, para homenagear a arquiteta e cantora Edunira Assef, a “Dudu”, falecida em 29 de abril deste ano, no Rio de Janeiro, após uma longa luta contra um câncer. Seu corpo foi cremado e as cinzas trazidas do Rio para serem jogadas no lago do Horto em Rio Branco, um dos locais que ela mais gostava de frequentar na cidade, num ritual em que não faltou música, sorrisos, abraços e muita emoção – exatamente como foi o grande ser humano Edunira Assef.

O evento aconteceu no Horto Florestal, em Rio Branco/Foto: ContilNet

Natural de Sena Madureira, a acreana Edunira Assef tinha mais três irmãos – Educyra, Luis Eduardo e Raimundo Magalhães, cujos pais – Eduardo Assef e Iranyra Magalhães, já são falecidos. A família, por parte dos Assef, descende do mascate Almeida Assef, que deixou Beirute, no o Líbano, a bordo de um navio nos anos 20, onde encontrou Genoveva Borrajo em um barco que vinha da Espanha; eles tiveram seis filhos. Ao ancorarem em Sena Madureira, se tornariam comerciantes. Um dos filhos do casal é Eduardo, que foi promotor de Justiça no Acre, e era o pai de Edunira. Pela parte da mãe, Edunira descende de Raimundo Magalhães, cearense e parente de Juraci Magalhães, ministro da Justiça de 62 a 65 e de Irene Peres, que veio de Cusco, no Peru, e era descendente dos Incas; o casal teve 9 filhos.

Eduardo se juntou aos brasileiros no esforço de guerra que combatiam ao lado dos aliados o nazismo de Adolfo Hitler. Como não foi para a guerra, Eduardo Assef, que se tornou advogado, acabou por conhecer dona Iranyra Magalhães, a mãe de Edunira e de seus três irmãos. Iranyra era professora, fez pedagogia em Belo Horizonte e era diretora do grupo escolar presidente Dutra. O casal saiu do Acre durante a ditadura militar e voltou com a reabertura política; os filhos ficaram no Rio de janeiro.

Edunyra faleceu em abril deste ano após luta contra o câncer/Foto: Reprodução

Nas homenagens deste sábado, os amigos e familiares lembraram que Edunira Assef era mais que uma arquiteta talentosa. Era uma artista na acepção do termo, cantora, promotora de cultura e uma das figuras mais amadas da sociedade acreana. Era formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, desde 1976.

Ela atuou profissionalmente em diversos projetos da arquitetura local, como a restauração em madeira no Chalé do Seringal Bom Destino, da Tentamen, do Cine Teatro Recreio, fachadas da Gameleira, do entorno do Mercado Velho, do Mercado dos Colonos, entre outros logradouros públicos. Sempre trabalhou em projetos que enfatizavam o uso da madeira.

Edussira Assef, irmã de Edunyra/Foto: ContilNet

“Dudu” também se destacou como ativista cultural, como uma das organizadoras do festival “Boca de Mulher”, lançado em 1989, reunindo vozes femininas acreanas em apresentações alusivas à Semana Internacional da Mulher, em março de cada ano. Era ali que ela expunha outra de suas facetas: a de cantora.

Durantes as homenagens deste sábado, artistas e militantes culturais como Camila Cabeça lembraram a importância de “Dudu” para a cultura local. “Como artista, a Dudu era uma grande moleca, mas muito criativa. Toda essa arquitetura história da nossa cidade tem a marca dela. Foi ela que trouxe de volta essa importância histórica da arquitetura”, disse. “A Dudu era uma pessoa que gostava da vida, que gostava de tudo que era bom, de boa comida, de boa música. É uma pessoa que já está fazendo muita falta nesta cidade que se transformou num lugar careta, onde a gente vive, mas, e principalmente, para o show Boca de Mulher, onde ela apareceu cantando e apontando outros talentos como o dela”, disse Cabeça.

De acordo com a ativista cultural, o movimento deste sábado é uma tentativa de resgatar a memória da artista em relação ao futuro. “O que estamos fazendo aqui é buscando meios de contar a história de quem foi a Dudu para as próximas gerações. A Federação de Teatro ficou com o acervo dela e a ideia é fazermos um memorial, o memorial Edunira Assef, e preservar essa memória. É necessária porque o Acre e o Brasil são muito desconexos com isso. Precisamos preservar isso, como, por exemplo, ela ter levado para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional) o centro histórico de Rio Branco. Ela tinha a cultura árabe da descendência, mas tinha também a cultura do seringal e da Amazônia dentro dela. Ela é muito importante e está presente em nossas vidas”, disse.

Camila Cabeça, ativista cultural/Foto: ContilNet

Kátia Sales, advogada e cantora, outras das grandes amigas de Edunira, também falou sobre a importância da artista. “Edunira é um espírito encarnado e que representa muito da cultura e do feminismo acreano. Muito me ajudou e sempre foi alguém disposta a ajudar. Ela vivia em plenitude com as pessoas que considerava irmãos. Me ensinou o que é ser amigo e o que representa isso e o que a gente pode contribuir dentro do universo social a partir de vínculos verdadeiros. Alguém que se importava com as pessoas, com as coisas e com os lugares. Se preocupava em junta rixo na rua e colocar no local adequado e foi a primeira pessoa a me incentivar plantar árvores e que comer carne também fazia mal”, contou.

De acordo com Kátia, Edunira era ex-fumante e justificava isso dizendo que todos temos falha. “Minha maior falha foi não tê-la encontrado antes. Não consigo aceitar a partida dela”, acrescentou a amiga.

Kátia Sales, outra amiga de Edunyra/Foto: ContilNet

Educyra Assef, a irmã que trouxe as cinzas do Rio de Janeiro, classificou-a como uma pessoa muito alegre e muita culta, extrovertida e uma cantora que herdou a tradição musical da família. “Minha avó, em Sena Madureira, tocava um piano alemão. Ela trouxe esta memória, como cantora e sempre gostou de arte e cultura. Foi estudar arquitetura porque descobriu, com 18 anos, que pintava muito bem”, contou Educyra, ao lembrar das viagens com a a irmã ao exterior, à velha Europa, principalmente, onde ela exercitava o inglês e o francês.

As cinzas de Dudu foram jogadas em meio à floresta/Foto: ContilNet

Não por acaso, a trilha sonora das homenagens deste sábado no Horto Florestal foi ao som da voz de Edith Piaf, a francesinha de estatura parecida com a da atual homenageada e que, no entanto, está imortalizada no mundo por sua voz – uma voz que, do outro lado do mundo, no coração da floresta amazônica, Edunira Assef fazia questão de ecoar. Se for verdade que os espíritos desencarnados costumam ficar como encantados em seus locais preferidos, será possível, então, entre uma árvore e outra do Horto Florestal, daqui por diante, se sentir a presença de Edunira, a nossa Edith Piaf.

Edunira Assef não deixou filhos. Em compensação, ao longo da vida fez uma legião de amigos que sentem falta de sua presença e de sua gargalhada única.

Edunyra em apresentação artística/Foto: Reprodução

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