Covid mata mais pessoas negras no Brasil, diz Rede de Pesquisa Solidária

Levantamento organizado pela Rede de Pesquisa Solidária, que abriga várias instituições, concluiu que homens e mulheres negras são os que mais morrem por Covid-19 no país. O levantamento concluiu que, assim como para outras atividades sociais, as características raciais e de gênero incidem na taxa de mortalidade. Mesmo os negros que não ocupam subempregos morrem mais pela doença.

“Pensávamos que a mortalidade dos negros era maior porque trabalhavam em atividades mais expostas ao vírus, mas nem sempre isso é verdade”, diz ao jornal Folha de São Paulo, o sociólogo Ian Prates, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e coordenador do grupo responsável pelo estudo.

A pesquisa teve como base o Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, e foram consideradas as mortes por Covid-19 de 67,5 mil pessoas no ano passado. As vítimas tinham de 18 e 65 anos de idade e com ocupação profissional registrada no sistema da pasta. As comorbidades não foram consideradas para a apuração.

De acordo com a pesquisa, os homens negros são os que enfrentam maior riscos em todas as atividades com exceção da agricultura, segundo a pesquisa. Até entre advogados e engenheiros, que são profissões de alto nível hierárquico, os homens negros que as exercem têm mais chance de morrer pelo vírus, com risco 43% maior, e engenheiros e arquitetos, com 44%.

“O fato de o risco ser maior até para os que exercem profissões de nível superior como essas mostra o tamanho da nossa tragédia. Isso sugere que mesmo negros que ascenderam profissionalmente continuam expostos a fatores de risco que aprofundam desigualdades.”, explica o sociólogo.

As mulheres negras também estão em segundo no ranking de mortalidade, principalmente, porque são maioria nos serviços domésticos. Esse segmento enfrenta 112% mais risco de morrer da doença. A pesquisa não encontrou relevância quanto ao nível hierárquico porque as mulheres negras são minoria nesse setor.

O cargo mais representativo em que elas trabalham é a enfermagem. Na ocupação, o risco de morrer de Covid delas é 23% maior em relação aos homens brancos na mesma função.

Em serviços domésticos, o risco de morrer pelo vírus é 112% maior para mulheres negras e 73% maior para mulheres brancas, ambas em relação aos homens brancos. Na contramão da pirâmide social, o risco é 39% menor para advogadas e 22% menor para mulheres em cargos de direção.

Apesar de serem as que mais cuidam da saúde e vão regularmente ao médico, o fato de ter que despender tempo com afazeres domésticos e cuidados com crianças e idosos é um fator de risco para as mulheres.

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