Marcada para o fim do ano para fugir do escaldante calor que faz no Catar nos meses de junho e julho – quando sempre foi tradicionalmente disputada – a Copa do Mundo de 2022 deverá ser antecedida por muito barulho no futebol brasileiro. O calendário, que já é apertado ao natural, terá que ser espremido para encerrar em outubro. Até lá, as competições nacionais serão realizadas em meio a três datas Fifa, o que sempre gera reclamações de clubes desfalcados; a arbitragem nacional, ainda acéfala, precisará se reinventar; e a CBF passará por pelo menos uma eleição – poderão ser duas -, o que invariavelmente tem terminado com disputas judiciais.
Enquanto isso, o comando do futebol brasileiro está a cargo de um interino. Desde setembro no cargo, o baiano Ednaldo Rodrigues, um dos oito vice-presidentes eleitos em 2018, foi escolhido pelos demais para ocupar a vaga de Rogério Caboclo. O presidente eleito foi afastado após a Comissão de Ética do Futebol Brasileiro considerá-lo culpado de assédios moral e sexual, além de utilizar recursos da entidade para a compra de bebidas alcoólicas para consumo pessoal.
De fala mansa, cortês e procurando sempre demonstrar um perfil conciliador, Ednaldo Rodrigues sabe que começará 2022 com um rojão de pavio curto em mãos. E, como forma de minimizar seu potencial de estrago, suas declarações seguem sempre o mesmo modelo: primeiro ele concorda com todas as críticas, para na sequência não apontar culpados.
É assim, por exemplo, que ele avalia o mau momento da arbitragem brasileira. Falta de critérios unificados, erros gritantes mesmo com o auxílio do VAR e uso indiscriminado da ferramenta geraram revolta em dirigentes de clubes nos últimos meses do Brasileirão. Em novembro, isso culminou com a queda do presidente da Comissão de Arbitragem, Leonardo Gaciba, e desde então ela também é comandada de forma interina por Alício Pena Júnior.
“Nós respeitamos todas as críticas, e concordamos com várias delas. A gente sabe que são coisas do ser humano, passível de erros”, disse ao chegar à sede da CBF na noite de entrega do Prêmio Brasileirão. “Apesar dos altos investimentos que a CBF, ao longo dos últimos cinco anos, têm feito na qualificação e, principalmente, tecnologia para a arbitragem, realmente não foi o ano que esperávamos.”
Rodrigues promete mudanças, mas, mesmo que tenha se encontrado com pessoas ligadas à classe dos árbitros, é genérico ao dizer quais serão. “Todo um trabalho já está sendo feito no sentido de uma reestruturação geral de toda a arbitragem, para que se possa diminuir os equívocos”, diz, mesmo sem dizer de fato muita coisa.
Calendário. Com início previsto para 10 de abril, o Brasileirão deverá terminar em 13 de novembro. Nesses sete meses, as 38 rodadas serão disputadas com jogos da seleção em pelo menos cinco datas – três em junho e duas em setembro. Além disso, a reta final da Série A acontecerá quando a seleção já deverá estar reunida visando a Copa do Mundo, que tem início em 21 de novembro.
Como se não bastasse, as finais da Libertadores e da Copa Sul-Americana acontecerão em outubro, e se algum clube brasileiro estiver envolvido com elas o Brasileirão terá que ter datas alteradas.
Sobre isso, Ednaldo Rodrigues diz que ajustes no calendário poderão ocorrer, da mesma forma que a comissão técnica da seleção brasileira irá avaliar formas de não levar prejuízo técnico aos clubes – ainda que o técnico Tite volta e meia diga que seu trabalho é pensar no melhor para a seleção.
“Tudo é possível, sim. Já estamos trabalhando nesse sentido, juntamente com a coordenação e com a comissão técnica da seleção, para verificar, com o departamento de competições, aquilo que possa conciliar e não haver os gargalos que aconteceram no passado”, afirma Ednaldo, mais uma vez de forma bastante genérica.
Eleição. Ainda que não tenha data marcada, a eleição que irá escolher o presidente da CBF para o quadriênio que inicia em abril de 2023 deverá acontecer em março ou abril de 2022. O estatuto da CBF prevê que a eleição aconteça no ano anterior, e em geral é em um daqueles dois meses que ela é realizada. O fato de a Copa do Mundo ser disputada só a partir de novembro, porém, poderá fazer com que o pleito seja adiado até mesmo para o segundo semestre.
Antes disso, porém, outra eleição poderá ser realizada. Afastado por ora até março de 2023 – o prazo se encerra duas semanas antes do fim do mandato -, Rogério Caboclo já teve outro parecer da Comissão de Ética recomendando afastamento, dessa vez por 20 meses por assédio moral contra um diretor da entidade. Se a medida for acatada pela Assembleia Geral da confederação, o cargo de presidente ficará vago e uma eleição precisará ser convocada para decidir quem presidirá a CBF para um mandato tampão até abril de 2023.
Caso isso ocorra, o interino Ednaldo Rodrigues poderá se tornar presidente de fato. Isso porque a escolha, nesse caso, recairá entre um dos oito vice-presidentes. E, ainda que haja disputas claras entre eles, poucos duvidam que ele conseguiria reunir os votos que precisa.