SITOAKORE: empoderamento e protagonismo de mulheres indígenas amazônicas

Em todo o Brasil, as mulheres indígenas se organizaram e criaram suas próprias associações, demonstrando seu protagonismo e empoderamento, contribuindo com a discussão de importantes pautas, locais e nacionais, como a demarcação de seus territórios, a geração de renda, a luta contra a violência, a saúde indígena, as questões de sustentabilidade ambiental e a valorização e a manutenção dos valores e direitos. Ou seja, as mulheres estão, gradativamente, ampliando sua participação e fazendo com que suas vozes sejam ouvidas, somando-se a outras representações e ampliando as conquistas de seus povos.

Atuando na representação feminina indígena da região amazônica, a Organização das Mulheres Indígenas do Acre e Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia – SITOAKORE vem trabalhando desde 2005, data de sua criação, para legitimar a organização social e firmar a bandeira de luta do movimento indígena e espaço feminino, contribuindo para o reconhecimento da importância do papel ativo e histórico da mulher indígena dentro e fora das aldeias. A SITOAKORE é uma organização que se enraíza na defesa dos direitos sociais e culturais das mulheres indígenas, bem como na promoção e no fortalecimento de suas atividades, como forma de garantir o espaço feminino nas diversas áreas de discussão que envolvem políticas direcionadas aos povos indígenas.

“Eu sou um resultado da luta do movimento de mulheres indígenas do Estado do Acre. Sou fruto de resistência. Hoje estou tendo a oportunidade de estar, pela segunda vez, na coordenação da SITOAKORE, o que considero uma função importantíssima. Antes de mim, outras mulheres iniciaram esse movimento, que brevemente completará duas décadas. Nossa causa é permanente e constante, em defesa dos direitos indígenas garantidos constitucionalmente, pela conquista de espaço das mulheres indígenas e pelo fortalecimento da cultura de cada um dos povos que compõem a organização”, esclarece Nedina Yawanawá, coordenadora da SITOAKORE.

Presente em 10 municípios dos Estados do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia, com representatividade de 18 povos, distribuídos em 37 terras e 458 aldeias indígenas, dentre suas principais áreas de atuação, podemos destacar: o artesanato indígena, as parteiras tradicionais, as plantas medicinais e a segurança alimentar das mulheres indígenas.

Diversos são os projetos que vem sendo desenvolvidos pela organização ao longo de sua trajetória, através de parcerias com instituições governamentais e não governamentais, nacionais e internacionais, tanto via cooperação técnica, como via concorrência em editais públicos. Esses programas e projetos resultam benefícios diretos para as mulheres indígenas que vivem nas aldeias e nos centros urbanos.

“A SITOAKORE é um instrumento oficial de luta, uma organização que se consolidou no estado do Acre e que se fortalece na parceria com outras organizações, como a União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab) e Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). O que nós buscamos nesse espaço de luta é contribuir diretamente na realidade de nossas comunidades, que nossa atuação em pautas locais, e nacionais chegue, em benefícios reais, no dia a dia dos povos indígenas. O que os indígenas querem é usufruir de seu direito de cidadania na sociedade, sem perder nossa essência, nossas tradições, nossas culturas, das nossas ancestralidades. A SITOAKORE é um instrumento importante de reivindicação, pois infelizmente, no contexto atual, nós temos que lutar pelo nosso direito de viver, de falar e de nos expressar”, continua Nedina.

Entre importantes pautas que recentemente a SITOAKORE se posicionou e atuou em prol dos direitos indígenas, destaca-se a luta contra o Projeto de Lei (PL) 490, que feria gravemente os direitos dos povos indígenas em relação à suas terras, que trazia consequências negativas, como a interferência em processos de demarcação já em curso e até mesmo a expulsão de indígenas de terras ocupadas por eles. As mulheres representadas pela SITOAKORE tomaram parte dessa luta, participando de debates e manifestações que contribuíram para que esse projeto fosse tirado da pauta de votação no Supremo Tribunal Federal (STF). As mulheres indígenas continuam na luta, pois o PL continua tramitando e está marcado para ser votado em junho de 2022.

“A SITOAKORE trabalha com as mulheres, mas acompanha as políticas do movimento indígena em geral, principalmente lutando por direitos que vem sendo violados. Nesse atual governo, nossos direitos vêm sendo violados constantemente, a exemplo da situação da demarcação das terras indígenas, garantidas constitucionalmente. As mulheres se posicionaram nesse sentido, pois nós queremos nossos direitos respeitados, não queremos mais do que nossos direitos. E a SITOAKORE vem se posicionando não apenas no direito à terra, mas à geração de renda, à saúde e a tudo o que diz respeito aos povos indígenas e às mulheres indígenas, mais especificamente. Nós não estamos aqui apenas por nós, mas sim pelos 18 povos representados na organização”, coloca Kariãny Hunikuin.

Uma outra bandeira na qual a SITOAKORE vem se posicionando é em relação à liberação do garimpo, que vem sendo defendida pelo atual governo e que contribui para incentivar o garimpo ilegal na região amazônica.

“Além da demarcação das terras, nós também estamos preocupadas com as constantes liberações, por parte do Governo Federal, em relação à abertura para garimpeiros dentro das terras indígenas, que tem consequências ambientais e também sociais, como estupros de mulheres e crianças indígenas. Nossa luta é diária e constante”, coloca Elza Manchineri.

Entre as ações atualmente em execução merecem destaque a parceria com o Governo do Acre, através da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e das Políticas Indígenas (Semapi), com recursos do Programa REM/KFW, na realização de dois projetos que visam o fortalecimento institucional da SITOAKORE, divulgando sua atuação e seus objetivos através de portifólios impressos e digitais. Entre as temáticas abordadas, o artesanato, pela sua importância na vivência das mulheres indígenas, expressando a ancestralidade das etnias que integram a associação, teve espaço específico em um dos portifólios produzidos. A ideia é mostrar como as mulheres indígenas se apropriaram do processo de produção artesanal, agregando os conceitos de sustentabilidade, conservação de recursos naturais e vocação da comunidade local, representando uma importante alternativa de geração de renda para as mulheres indígenas da SITOAKORE. Também merece destaque o projeto A cura com os Guardiões da Floresta, financiado pelo Fundo Casa, que atua no fortalecimento do trabalho dos anciões e no repasse de seus saberes para os jovens, que está sendo realizado em diversas aldeias no estado do Acre.

Em relação ao artesanato, uma conquista recente do movimento indígena foi a revitalização do Espaço Kaxinawá, localizado no centro de Rio Branco. A partir de um termo de cooperação técnica firmado entre a Fundação Elias Mansour e os povos originários, onde a FEM ficou responsável pela manutenção do prédio e os povos originários pelas atividades culturais, como festivais, feiras culinárias e venda de artesanatos. No último dia 11 de março, por exemplo, aconteceu evento alusivo ao Dia Internacional da Mulher, incluindo música, saúde, contação de histórias, debates e feira de artesanato, organizado pela SITOAKORE.

Seguindo a mesma linha de fortalecimento institucional, em parceria com a Prefeitura de Rio Branco, está sendo executado o projeto SITOAKORE e Mulheres Indígenas no Acre: história e memória, resgatando material histórico e produzindo material fotográfico e audiovisual sobre as mulheres indígenas, que servirá como base para a divulgação não só no Brasil, como em outros países do mundo.

“É uma trajetória muito linda a das mulheres indígenas. Trabalhamos artesanato, medicinas e alimentação tradicional, ampliando o espaço das mulheres nas aldeias e fora delas. Através do trabalho de “formiguinha” que vem sendo feito pela SITOAKORE, desde sua fundação, a organização hoje tem um trabalho consolidado e representa as mulheres indígenas dentro e fora da Amazônia. Porém, temos muito a avançar. Precisamos nos estruturar fisicamente, institucionalmente e politicamente, para que possamos avançar ainda mais políticas públicas sólidas para as mulheres indígenas”, finaliza Nedina.

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