Eleita deputada estadual com 5.990 votos, a vereadora Michelle Melo (PDT) será a única mulher entre os 12 novos deputados estaduais que são a renovação da Assembleia Legislativa do Acre a partir de 2023.
Além disso, é uma das três mulheres no universo de 21 homens ocupando as 24 cadeiras da Aleac. Filha do Seu Nelson e da Dona Dedê, fruto de uma família humilde e batalhadora, a acreana de 38 anos é mãe de 2 filhos, namora com a enfermeira Jiza Lopes Cezar e é evangélica praticante.
Médica da família, Michelle será a única a representar a categoria de médicos e em entrevista ao ContilNet, disse que sabe que isso traz responsabilidade, afinal, a saúde pública é o ‘calcanhar de Aquiles’ de toda e qualquer gestão.
Sua estreia na política ocorreu há apenas dois anos quando se candidatou a vereadora de Rio Branco e foi a mais votada naquele ano, 1 ano e meio depois, já conquistou o cargo de deputada estadual e à reportagem, Michelle revelou se há planos para 2024.
Confira na íntegra:
ContilNet: Michelle, ainda nem chegou ao meio do mandato de vereadora, que foi a sua estreia na política, onde já começou ganhando e muito bem, né? Foi vereadora mais votada e agora em 2022, a única candidata mulher entre os 12 deputados que entram para a Assembleia Legislativa, e eu queria começar essa entrevista perguntando qual o sentimento, já que é a sua segunda eleição e sai vitoriosa de novo.
Michele Melo- O sentimento hoje é um sentimento, assim de muita responsabilidade, muita responsabilidade mesmo. A gente fez uma eleição muito independente, sabe? A gente não tinha grandes figuras da política colocando a mão nos nossos ombros. A gente é um grupo pequeno que eu costumo dizer que é pequeno no sentido de pessoas que não são figurões da política, são pessoas como trabalhadores, servidores públicos, alguns empresários, os familiares, os amigos e quem acredita no projeto. Então, a gente é um grupo independente e essas duas vitórias, elas só mostram que eu tenho a responsabilidade representar de fato o que esse grupo independente acredita que é essa nova política feita por pessoas comuns, feita por todos e não para grupos políticos ou partidos.
A gente pode dizer que foram duas eleições parecidas?
Foram duas muito parecidas, só que da vareança eu contei com pessoas que já estavam no meio político como o deputado Chico Viga, que apoiou a gente, o Josemir Anute, são algumas pessoas que já estavam no meio político e dessa vez, a única pessoa que estava no meio político era eu, com o mandato de vereadora de um ano e meio, então eu acredito que essa foi ainda mais difícil do que a eleição para vereadora.
Michelle, sei que não tem nem dois anos de mandato ainda, mas eu queria saber como é que avalia esse meio mandato na câmera e se sai satisfeita com a sua atuação.
Eu avalio que foi um ano e meio de muita aprendizado. Eu não tinha real noção do que é e do que era o sistema político em si, porque política a gente faz todo dia, né? Então da política, graças a Deus eu tinha uma noção, mas do que era o sistema político, do que é você chegar lá com ideias, com propostas e não ter esse apoio porque suas ideias são boas ou ruins, é porque você está do lado de A ou B. Então, essas questões elas ainda me afligem muito porque eu entro na política para de fato trazer os problemas da população e tentar resolver os problemas da população e eu acreditava que 100% do sistema político era para isso, né? A gente sabia que tinham as articulações e tudo mais, mas achava que no final o bem sempre prevalecia, então foi um ano e meio de muita aprendizado, muito aprendizado mesmo, que me deixou assim um pouquinho mais calejada com a casca com um pouquinho mais grossa.
Michele, são apenas três mulheres só na Aleac, não vai mudar a porcentagem da composição da última legislatura para agora. Como você enxerga essa participação tão pequena, já são 24 cadeiras e só três delas ocupadas por mulheres?
Eu componho o Vamos Juntas na Política, que é um sistema partidário que fala justamente das mulheres nesse processo. E ontem dei uma entrevista para elas numa pesquisa justamente sobre a mulher no processo eleitoral, da gente debater sobre isso, falar sobre isso e o que eu falei para elas é que infelizmente a gente tem uma situação muito difícil para entrar no meio político, é extremamente complicado porque nós somos muito mais criticadas, muito mais visadas, nossos erros são muito mais potencializados do que os dos homens, mas nossos acertos não são tão potencializados assim, então a gente já parte do negativo como mulher e tem que correr muito mais para poder se sobressair, pra poder ser visto e isso faz com que infelizmente a gente tenha primeiro uma dificuldade para ter candidatura real da mulher, porque hoje dentro do partido nem sempre se procura candidaturas reais.
Isso ainda existe, né?
A questão das cotas, às vezes elas precisam ser só cumpridas e não de fato com candidatura de qualidade por assim dizer ou com potencialidades. Mas isso faz com que nas urnas as opções não sejam tão atrativas, não tenha candidaturas femininas tão atrativas assim ou tão potencializadas assim como as dos homens, então já no sistema no processo eleitoral, a gente também já sai no déficit, então é normal a gente chegar lá com um déficit também. A gente sempre dá uma boa vice, uma boa coordenadora de campanha, uma boa líder de militância, mas não como a candidata ideal para representar aqueles ideais, então isso já faz com que as nossas candidaturas sempre vão ser menores se a gente pegar o comparativo, por exemplo, com o que aconteceu nos Estados Unidos agora o Baiden foi atrás de uma super figura feminina para de fato fortalecer e potencializar a campanha dele, isso gente não vê acontecendo aqui no Brasil, aqui no Acre não se procuram figuras femininas para potencializar, às vezes parece que é mais para contextualizar dentro do que é necessário do que de fato para fortalecer uma candidatura, então eu acredito que enquanto essa mentalidade não mudar, a gente ainda vai continuar tendo poucas mulheres dentro dos espaços de poder, dos espaços políticos.
O seu protagonismo na Câmara também pode ter contribuído para você não ter tanto apoio assim na sua campanha agora?
Sim. Essa Independência ela tem um preço, você ser , poder falar pela população, poder chegar lá e falar de todos os temas, tem um preço que é você realmente não ser abraçado por todos os grupos políticos ou pela maior parte dos grupos políticos, às vezes deixa as pessoas em standy by te olhando ali de longe e vendo se você vai ter força para furar a bolha ou não. E se vale a pena acreditar na tua caminhada ou não. Então é assim um mandato independente, infelizmente, tem um preço muito grande, mas é um preço que eu tô disposta a pagar para ser.
Michelle, nos bastidores falou-se que o seu partido, o PDT, quis fechar as portas para sua candidatura, isso de fato aconteceu? Eu quero saber como você enxerga o processo eleitoral para você.
Sim, chegou a acontecer, sim, inclusive foi tema de muitas matérias nos jornais, né? Muitas das vezes eu ficava sabendo da temática através dos jornais não de forma pessoal mesmo. Porque isso que eu estou te falando, se você analisa o processo eleitoral como um todo o processo político, ele é dominado principalmente por homens, né? A estrutura já nasceu assim, o sistema já nasceu assim, a nossa sociedade nasceu assim, ela tá mudando, ela tá se transformando para que os espaços sejam divididos igualitariamente, mas hoje, salvo engano, não existe nenhuma executiva de partido aqui no Acre que seja realmente liderado por uma mulher. Existia o PP antigamente com a Mailza, mas agora já não é mais, e eu acho que o Partido Verde se eu não me engano tem uma mulher de fato na liderança do partido, mas já começa daí, então quando a gente tem partidos em que a cúpula é majoritariamente masculina -não que os homens sejam ruins, mas já têm o costume de saber que os espaços são ocupados por eles, quando você tem as decisões das executivas tomadas pelos grupos que já estão, por pessoas que já são da política há muito tempo, você acaba tendo pouca voz dentro do partido, então aconteceu sim, né? Tá aí nos jornais para todo mundo ver que aconteceu. Disseram que iam me negar legenda para deputado estadual e realmente, fui até o fim para conseguir hoje ser deputada estadual eleita.
Como você já falou anteriormente da sua independência, isso marcou muito o seu discurso dentro da câmara, agora o seu partido é da base do governador Gladson. Então eu quero saber o que a gente pode esperar da sua atuação lá na Aleac, vai ser assim, independente?
É o que todo mundo me pergunta rsrs. Olha, na Câmara Municipal a gente já tem uma situação que o líder de partido é o vereador Fábio Araújo e ele o vereador Joaquim estão mais próximos da situação do prefeito e eu de fato me coloquei como oposição às ideias do prefeito Tião Bocalom e essa liberdade graças a Deus me foi mantida dentro do partido e é algo que eu já pedi ao , que a minha liberdade a minha independência continue, porque o que eu construí foi dentro da necessidade da população e no dia que eu parar de representar a população, não faz sentido eu estar na política, porque essas são minhas pautas, essas são minhas bases. Esses são os meus ideais, então quando pensarem em silenciar esse direito. Eles vão estar de fato me tirando da política, porque aí eu não vou representar aquilo que eu acredito, que é a população, porque se você não quer representar a população você não tem que ser se candidatar a um cargo legislativo, né? Você tem que se candidatar a outras coisas, mas para representar.
Ainda faltam três meses para a posse da nova legislatura, mas já começou uma discussão antecipada até da mesa diretora, o PDT já disse que quer compor, chegou em algum momento em você para ser esse nome, é algo que você quer?
Não, não chegou e não me coloquei à disposição também, eu tive agora na mesa diretora da Câmara Municipal e não foi uma experiência muito boa para mim particularmente falando, eu acredito que é não é necessário para mim como deputada estadual compor a mesa diretora da Assembleia. Eu prefiro estar de fato representando a minha população. A experiência na mesa diretora da Câmara dos Vereadores não foi muito agradável. Eu não estou afim de repetir de novo, não.
Olha, eu sei que ainda nem terminou o primeiro mandato de vereadora, já tá indo pra deputada, mas aqui no Acre teve uma eleição, a gente já começa a pensar na próxima. Tem expectativa para 2024?
Olha, eu ainda não consegui fazer minhas expectativas nem para 2023 rsrsrs. Mas assim, as expectativas são sempre que as pessoas elas voltem a acreditar na política e voltem acreditar nessa independência. Eu espero que as pessoas cada vez mais acreditem na minha forma de fazer política, e eu tive muitos convites para 2024, já em 2022, antes dessas eleições, eu já tive muitos convites para 2024 e uma coisa que eu sempre disse a eles é que coragem não me falta para mudar a nossa realidade. Então vamos ver como é que fica daqui para lá.
Como vereadora você andou muito por Rio Branco, fazia muito atendimento levando saúde e essa possibilidade cresce muito dentro da Aleac, os recursos são muito maiores, oportunidades são maiores, mas também é muito mais gente que você precisa alcançar, são 22 municípios. Como está a expectativa, já começou a traçar planos e metas?
Já, esse é um exercício que eu sempre faço, fiz para mandato de vereadora e é um exercício que eu sou muito ciumenta com ele, porque eu gosto de colocar minha essência dentro dele, então eu estou tentando pensar, juntar tudo que eu escutei, tudo que eu vi e traçar um plano de ação para esse mandato para que ele seja efetivo. Então já comecei a pensar, já comecei a raciocinar as pessoas me falam muito sobre saúde, muito sobre saúde pública, eu sou a única médica que está agora. Então a classe médica já me chamou pra gente conversar e já me colocou a par de muitas situações. Pediu que nós estivéssemos lado a lado e com certeza a gente vai ter uma atuação muito grande nesse campo. Eu sou cria da saúde pública, então muitos dos problemas eu conheço da raiz, da base. E agora a gente vai poder falar sobre eles.
Então podemos dizer que uma das suas maiores bandeiras vai ser a saúde?
Com certeza! Não tem como ser diferente, é uma das coisas que também me impulsionaram a ser deputada estadual, porque as pessoas viam na gente a possibilidade do cuidado e o cuidado tá diretamente relacionado à saúde, educação, à segurança que são as questões básicas, mas principalmente à saúde pelo fato de eu ser médica. As pessoas sempre me procuraram muito e às vezes eu não conseguia resolver pelo fato de da municipalidade ter pouca cobertura, digamos assim, e a gente precisava adentrar em assuntos do Estado que não faziam parte do campo do vereador, então agora a gente vai ter como entrar e não necessariamente sendo oposição, eu espero que o governador Gladson escute as nossas propostas, porque entrei na Câmara de Vereadores também não sendo opositora ao Bocalom, fiz propostas e ele começou a se opor às propostas de cuidado. E aí foi onde nos chocamos, então eu espero que não aconteça novamente, que a gente possa ser ouvido tanto pela técnica que a gente possui, a experiência que a gente possui e a representação que a gente tem da sociedade que nos colocou ali, então eu espero que seja um mandato tranquilo e que a gente possa fazer a saúde do estado melhorar.
Fique a vontade para usar o espeço e mandar um recado para a população.
Eu só quero agradecer às pessoas que confiaram. Não é fácil você ter duas campanhas em menos de dois anos vitoriosas e campanhas independentes, isso mostra que elas confiam e acreditam no nosso projeto, isso me assim grandiosamente, me dá muita responsabilidade, mas me honra muito. Eu tenho uma gratidão assim que é inimaginável, as pessoas não podem imaginar a gratidão que no meu coração. É muito difícil você levantar todos os dias e dizer: ‘Vou ali falar para eles o que eu acredito’ e esperar que eles acreditem também, então você ver que as pessoas acreditaram é extraordinário, é algo assim, que te muda por dentro, te dá uma responsabilidade muito maior e eu quero mesmo é agradecer a todas essas pessoas e dizer que vou procurar cada um delas e que a gente vai voltar em todos eles, tentar encontrar cada um deles e tentar agradecer pessoalmente. Essa é uma das nossas metas até o começo do ano que vem, a gente voltar a agradecer estar com eles o máximo maior número possível de pessoas a gente possa voltar e abraçar.