Medicina no exterior: brasileiros superam o desafio de estudar fora

Conquistar o sonho de se tornar médico é bastante desafiador para muitos brasileiros. Além das exigências da formação em si, o alto custo da faculdade de Medicina e a grande disputa pelas vagas em universidades públicas têm levado muitas pessoas a buscarem alternativas fora do país.

Só para ter uma ideia, segundo levantamento do Instituto Semesp, a mensalidade do curso, em 2020, ficou em média R$ 8 mil na maioria das instituições particulares, tornando-o a graduação mais cara do Brasil. Já em outras nações da América Latina, por exemplo, é possível estudar e se manter com cerca de R$ 1 mil — dependendo da cotação do dólar.

Desafios

Quando saiu do interior do Maranhão, Marta Raquel de Menezes, de 21 anos, já sabia o que queria do futuro: realizar o sonho de ser médica e ajudar tanto com o exemplo quanto tratando pessoas sem muito dinheiro. Contudo, o caminho até o diploma de Medicina sempre foi um desafio. Como a mãe não tinha condições financeiras de pagar pelo curso, ela decidiu mudar para o estado do Pará, onde a irmã morava, e trabalhar para juntar recursos suficientes para correr atrás desse objetivo.

“No Brasil era muito complicado seguir esse sonho, então estava focada em estudar em outro país. Pesquisei e vi que em Assunção, no Paraguai, seria possível”, conta. Porém, o dia a dia em uma loja no estado paraense não rendia o bastante para arcar com os gastos iniciais. Foi então que ela aceitou um convite para cozinhar para os trabalhadores de um garimpo. Com o serviço, Marta pagou a matrícula na Universidad María Auxiliadora, comprou a passagem e até fechou o aluguel de uma quitinete.

“Mas, a água na área de garimpo é contaminada e acabei pegando uma bactéria no estômago. Assim, tive que gastar parte do que tinha juntado voltando para o Maranhão para me cuidar, pois o custo de vida no Pará é bem alto”, relembra. Por causa disso, ela chegou em Assunção com apenas R$ 300 no bolso. Hoje, está concluindo o primeiro semestre de Medicina e segue batalhando pelo sonho, vendendo trufas para pagar os estudos e a permanência no Paraguai.

“Vou terminar o curso aqui e voltar para o Brasil. Já me informei sobre o processo Revalida, mas nem quero pensar muito nisso agora. Só quero seguir meu caminho, servindo a Deus, que me botou esse sonho de ajudar os outros com a Medicina”, acrescenta.

Barreiras a superar

Foi ao optar pela formação no exterior que o acreano Jairo Teófilo Lima Dantas, de 37 anos, conseguiu se formar em Medicina. Os estudos foram feitos na Bolívia e, atualmente, ele exerce a profissão em território brasileiro.

“O acesso ao Ensino Superior na região onde eu morava era escasso. E, na época, compensava juntar um dinheirinho e ir para a Bolívia”, conta o médico que iniciou a faculdade em 2011.

De acordo com ele, a parte mais difícil de estudar fora é estar longe da família. “Meus pais se divorciaram, perdi pessoas. Inclusive, a morte de um tio para o câncer foi o que mais doeu. Éramos muito próximos e eu não pude me despedir”, relembra emocionado.

Para se manter no país vizinho, Jairo começou a vender comida em um restaurante local e o salário complementava a ajuda de custo que recebia do pai. “Não sei como estão os valores agora, mas, na época, com 3, 4 mil reais era possível pagar o semestre de Medicina. Então, com R$ 670, eu conseguia me sustentar. Apertado, mas dava.”

arquivo pessoalfoto colorida de um médico com jaleco branco e estetoscópio pendurado no pescoço - Metropoles
Com a revalidação do diploma, Jairo Teófilo poderá fazer pós-graduação e especializações para crescer na profissão

Revalidação 

A revalidação de diploma é obrigatória para qualquer pessoa que se formou fora do Brasil e queira exercer a profissão em território nacional. Esse recurso pode ser feito de três formas, por meio da tramitação simplificada, pela revalidação por complementação ou pelo processo Revalida. Sendo que as primeiras opções são válidas para todos os cursos de Ensino Superior e a outra é apenas para quem cursou Medicina no exterior.

O que as diferencia é a forma como os diplomas são validados. Na tramitação simplificada é feita uma equivalência das disciplinas e carga horária entre a instituição estrangeira e a universidade brasileira. Além disso, ela pode ser requerida a qualquer momento, não precisando esperar por um edital específico nem passar por uma prova.

Na revalidação por complementação, as universidades públicas, ou parceiras privadas, permitem a participação do interessado nas matérias que não foram cursadas no exterior para concluir a formação. Porém, depende da equivalência de currículo e disponibilidade de turmas.

Já no Revalida, uma prova de competência é aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em parceria com os ministérios da Saúde e da Educação. O exame nacional é exclusivo para Medicina por se tratar de uma profissão que lida com a saúde de outras pessoas.

“Infelizmente, nós mesmos acabamos no inferiorizando e aceitamos o preconceito, inclusive de alguns órgãos do governo brasileiro, sobre nossa capacidade de tratar as pessoas. Isso por que muita gente quer desqualificar a formação fora”, conta o médico Jairo Teófilo Lima Dantas.

“Nós que saímos do país para correr atrás de nossos sonhos acabamos tendo vergonha disso. Sendo que médico é médico em qualquer lugar. Quando conto que me formei fora é para incentivar outras pessoas a terem orgulho dessa vitória”, acrescenta o acreano.

Já com a revalidação do diploma, Jairo Teófilo agora planeja fazer pós-graduação e especializações para crescer na profissão e aprimorar o atendimento aos brasileiros. “Eu quero trabalhar na área da Endocrinologia, com emagrecimento, implantes e regulações hormonais. E também atuar na clínica médica, no atendimento público. Mas o que eu quero mesmo é ter a minha clínica, andar com minhas próprias pernas.”

Inclusive, Jairo está ajudando a irmã com os estudos em Fisioterapia para poderem atuar juntos no futuro.

Apoio

Além do preconceito, esses médicos que já enfrentaram vários desafios para alcançar o diploma precisam encarar a burocracia do país para poderem seguir nesse ofício. Por isso, com o intuito de oferecer apoio e suporte jurídico a esses médicos que se formaram fora do Brasil, a advogada Kelly Guedes resolveu usar a expertise da profissão para oferecer uma experiência humanizada nos processos de revalidação do diploma.

“Tive a experiência dentro de casa, pois minha irmã quis se formar fora do país. E mesmo para uma família de classe média verificamos todas as possibilidades financeiras para que ela pudesse cursar Medicina aqui no Brasil e não conseguimos. A alternativa foi ir para o exterior”, ressalta.

“E não foi fácil. Ela sofreu discriminação no país estrangeiro, mesmo sendo do Mercosul. E, ao voltar para o Brasil, passou novamente por discriminação, por não ter estudado em território nacional”, relata a advogada.

Tramitação simplificada

Ao perceber a dificuldade dentro de casa e todos os transtornos emocionais que envolve a prova Revalida, Kelly conheceu o processo de tramitação simplificada. Ela buscou informações legais para saber como funcionava esse recurso para então ajudar a irmã e outras pessoas que estavam na mesma situação. Pois na percepção dela, mesmo sendo lei, muitas universidades dificultam a equivalência do diploma sendo necessária a judicialização.

“Trabalho com a revalidação de diploma desde 2018. O objetivo é levar essa equivalência, que é a tramitação simplificada como uma realidade para o médico. O intuito do escritório jamais será esvaziar o Revalida, mas mostrar outras oportunidades de escolha.”

Kelly Guedes, sócia do escritório de advocacia Guedes Associados

Com uma percepção de quem viu de perto a aflição de ter o diploma e não poder exercer a profissão no país em que nasceu, Kelly sensibilizou o atendimento judicializado. Para ela, a escuta empática com uma advocacia humanizada faz toda a diferença para o resultado final.

A advogada Kelly Guedes resolveu usar a expertise da profissão para oferecer uma experiência humanizada nos processos de revalidação do diploma

Experiência

Foi justamente esse atendimento humanizado que fez a diferença para Jairo quando ele chegou ao momento de revalidar o diploma. “Foi uma amiga minha quem indicou o escritório da Guedes Associados. A equipe foi muita clara comigo desde o começo com todas as informações. Foi uma experiência ótima. Faz total diferença quando te tratam como pessoa e não como mercadoria.”

Quanto ao motivo da advogada ter se aprofundado na área, a irmã dela, doutora Rejane Guedes, desde que revalidou o diploma já trabalhou nos principais hospitais do DF e hoje atua no Hospital de Base de Brasília, que é referência nacional em Hematologia e Oncologia, e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) no entorno da capital federal. Rejane também terminou a pós-graduação em Auditoria e Medicina da Família.

Guedes Associados

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