Os dois acreanos que há sete dias são fugitivos do complexo penitenciário de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, já não mais pertencem ao Comando Vermelho (CV), facção criminosa que eles diziam integrar. Além de terem as forças de segurança com mais de 600 homens em seus encalços, agora eles têm também contra a cúpula do CV, que os acusa de traição e já os condenou à morte pelo tribunal do crime.
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A decretação das mortes partiu da liderança do CV no Rio Grande do Norte, justificada por suposta traição da dupla, que pretendia fundar a própria organização criminosa, revelaram investigadores que atuam no caso da fuga, segundo revelou o Portal Metrópoles, de Brasília.
De acordo com as informações, até chegarem a Mossoró, após deixarem o presídio Antônio Amaro, em Rio Branco, após a rebelião de julho do ano passado, eles diziam pertencerem ao CV mas depois teria começado a agir para fundarem a própria organização, cujo nome não foi revelado. Por isso, a cúpula do CV não estaria nada satisfeita com o feito espetacular da fuga por causa da exposição do nome da facção, acrescentaram fontes ligadas à investigação. Isso reforça a hipótese inicial de que a dupla estaria escondida na mata desde a fuga histórica de uma prisão de segurança máxima, registrada na última quarta-feira (14) e sem apoio das lideranças do CV.
As mesmas fontes informaram que, “como ex-integrante do Comando Vermelho, a dupla não teria apoio de outras organizações criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), facção originariamente paulista, ou do Sindicato do Crime, criada no Rio Grande do Norte, pois esse tipo de traição não é aceita em qualquer tipo de facção”.
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Informações também levantadas pela investigação apontam, ainda, que a dupla foi jurada de morte por ordem dos presos Railan Silva dos Santos e Selmir da Silva Almeida Melo, atualmente custodiados na Penitenciária Federal em Mossoró. Os dois detentos são apontados pelas autoridades do Acre como principais lideranças do CV no Estado. “Nesse tipo de situação, para uma traição como a imputada a Rogério e Deibson, a punição definida é a morte”, relatou a fonte.
Na rebelião de julho de 2023, no presídio de segurança máxima de Rio Branco, que durou mais de 24 horas, cinco detentos foram mortos – três foram decapitados.A rebelião começou depois que presos do CV invadiram a ala de rivais das facções B13 e Primeiro Comando da Capital (PCC). Deibson e Rogério teriam comandado a rebelião e cometido pelo menos dois dos cinco assassinatos no presídio e foram transferidos para o presídio federal de Mossoró após o massacre.
Já naquela época, eles teriam também tentado executar os líderes do CV para fundar uma nova facção. O plano foi frustrado e ambos acabaram expulsos e jurados de morte.
Nesta terça-feira (20), a caçada aos detentos entra no 6º dia. Ao todo, 600 policiais estão engajados. As buscas se concentram em um raio de poucos quilômetros da penitenciária. Na segunda (19), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, autorizou o emprego da Força Nacional, após pedido do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues. A força-tarefa terá, assim, o reforço de 100 homens e 20 viaturas dessa força especial.
A delegada de polícia Raquel Gallinati, que é diretora da Associação dos Delegados de Polícia do Brasil, explica medidas como o emprego de agentes, drones e cães farejadores são adequadas para esse tipo de ação. Ainda assim, segundo ela, conforme passam os dias, a busca se torna mais difícil.
“O tempo dificulta a recaptura do preso. As primeiras 24 horas são fundamentais para monitorar a área que é próxima do presídio e coletar evidências concretas da passagem por determinadas rotas. À medida que o tempo vai passando, a situação só se agrava, já que, teoricamente, a zona de fuga tem o perímetro aumentado”, afirma a especialista.
A força-tarefa — formada por quadros da Polícia Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar — busca sinais dos detentos em um terreno formado por matas, zonas rurais e com grutas. Até o momento, as pistas são poucas, como pegadas, roupas e restos de alimentos deixados pelo caminho.
A força-tarefa descobriu que, na última sexta (16), a dupla teria feito uma família refém, enquanto, no dia anterior, teria invadido uma casa e roubado mantimentos. Diante desses elementos, a caçada tem se concentrado em um raio próximo à unidade prisional, de cerca de 15 km.