Deputados bolsonaristas da CCJ são derrotados e Chiquinho Brazão vai continuar na cadeia

ntre os parlamentares contra a prisão está Roberto Duarte, do Acre; votação foi de 39 votos a 25 contra o acusado de mandar matar a vereadora Marielle Franco

Deputados federais ligados ao bolsonarismo e que votaram a favor da libertação do deputado federal Chiquinho Brazão (sem-Partido-RJ) na Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ da Câmara dos Deputados, como Roberto Duarte (Republicanos-AC), saíram derrotados na tarde desta quarta-feira (10).

Por 39 votos a 25, a comissão aprovou a manutenção da prisão do deputado, acusado de mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes, em março de 2018. A decisão final será do plenário e é preciso votos favoráveis da maioria absoluta dos deputados (257 votos) para que Brazão seja mantido preso ou colocado em liberdade. Segundo o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), o parecer da prisão será votado ainda nesta quarta-feira.

a Executiva Nacional do partido União Brasil aprovou, por unanimidade, a expulsão do deputado federal da sigla/Foto: Reprodução

Chiquinho Brazão está detido desde 24 de março. Após a prisão, a Executiva Nacional do partido União Brasil aprovou, por unanimidade, a expulsão do deputado federal da sigla. Também estão presos, pelas mesmas acusações, o irmão do deputado, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) e o delegado de polícia civil, Rivaldo Barbosa.

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A CCJ aprovou o parecer do deputado Darci de Matos (PSD-SC), pela manutenção da prisão, após cinco horas de debates. O caso foi analisado pela CCJ porque, de acordo com a Constituição Federal de 1988, deputados somente podem ser presos em flagrante por crime inafiançável.

Darci de Matos recomendou manter a prisão de Brazão com base na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que argumentou ser necessária a detenção sob risco de Brazão obstruir a Justiça. “A flagrância decorre da obstrução permanente e continuada da Justiça. E em organização criminosa o crime passa a ser inafiançável”, disse o relator.

Durante a sessão, deputados, como Erika Hilton (PSOL-SP); Erika Kokay (PT-DF), Célia Xakriabá (Psol-MG), Taliria Petrone (PSOL-RJ), Orlando Silva (PCdoB – SP), entre outros, exibiram cartazes com pedidos de manutenção da prisão de Brazão e de Justiça para vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.

A deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ) destacou que o papel do Parlamento brasileiro é guardar a democracia. “Houve obstrução da Justiça quando as câmeras foram apagadas, quando o carro sumiu, quando os delegados foram sistematicamente trocados, quando o chefe da Polícia Civil [do RJ] por uma manobra política foi indicado, justamente, para impedir que o crime tivesse o seu desfecho. Houve obstrução de Justiça quando cinco pessoas foram assassinadas para não botarem a boca no trombone, inclusive aquela responsável por desmontar o carro que levou à execução de Marielle Franco. Houve obstrução de Justiça o tempo todo. Portanto, não é fato pretérito. É ato contínuo e cabe aí, sim, o flagrante”, defendeu a parlamentar.

Na CCJ, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) disse que as 543 páginas que fundamentam a prisão de Brazão não deixam dúvidas sobre a tentativa de atrapalhar as investigações. “O deputado Chiquinho de Brazão teve a prisão decretada com razão porque vivia em permanente estado de flagrância, inclusive tramando, através dos seus mandatos como vereador, na ocasião do crime do qual ele é acusado de ser mandante, depois em dois mandatos de deputados federal, inclusive em vigor agora, tramando contra as investigações, operando com a sua rede poderosa de contatos, para que a investigação não avançasse.”

Já o deputado Fausto Pinato (PP-SP) defendeu que não é o momento desta Casa agir contra o Supremo Tribunal Federal. […] Aqui, a gente tem que agir com a razão, é um ser humano, é uma família que espera resposta há seis anos. Sou responsável pela manutenção da prisão, sim.”

O deputado Lafayette Andrada (Republicanos-MG) votou contra o relatório, declarando a inconstitucionalidade da prisão preventiva. “A Constituição não foi obedecida, os ritos processuais não foram obedecidos, principalmente, esses dois: que a prisão preventiva é para fatos concretos e atuais e não de seis anos atrás e, sobretudo, que a prisão preventiva não pode se prestar para antecipação de pena.”

Já o deputado Maurício Marcon (Podemos-ES) disse que não está na CCJ para julgar se Brazão cometeu crime ou não, mas se a prisão dele é constitucional ou não.
O advogado de defesa de Chiquinho Brazão, Cleber Lopes, questionou o flagrante. “A Polícia Federal está investigando há meses. Estivesse o deputado em flagrante delito, será que a Polícia Federal teria protegido o parlamentar e não o teria prendido em flagrante?”, indagou.

No último dia 26, por videoconferência na reunião da CCJ, Chiquinho Brazão, que já estava preso, disse que tinha um ótimo relacionamento com a vereadora Marielle Franco, durante seu mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. E que havia apenas uma “simples discordância de pontos de vista” sobre o projeto de lei municipal que regulamentava condomínios irregulares na cidade do Rio de Janeiro.

Mais cedo, o Conselho de Ética da Casa instaurou processo que poderá levar à cassação do mandato de Chiquinho Brazão.

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