Dos políticos acreanos, até o momento, os únicos a se manifestarem publicamente em relação à morte do comunicador e empresário Silvio Santos, falecido na manhã deste sábado (17), em São Paulo, aos 93 anos, foram o governador Gladson Cameli e o jornalista e senador da República Alan Rick (UB-Brasil). Para Gladson, “se foi hoje o maior comunicador da história do Brasil”.
Durante anos, antes de entrar para a vida pública e a política partidária, Alan Rick era comunicador e apresentador de TV assim como Silvio Santos – ou Senor Abravanel, como era seu nome verdadeiro, de origem judaica.
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Para Alan Rick, Silvio Santos não foi apenas um grande empresário e o maior comunicador da história do Brasil, “mas, principalmente, foi um homem sábio, de família, que levou alegria a milhões e inspirou muitos”.
“Como eu”, acrescentou o senador ao admitir que começou a vida como apresentador de TV porque, ainda criança, passava os domingos na frente do aparelho assistindo, principalmente, ao programa Sílvio Santos.
O apresentador era de importância tão singular que tanto o governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura da capital paulista terem decretado luto de três dias face à sua morte. Além disso, os líderes políticos do país lamentaram sua partida. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre teve uma relação conflituosa com o apresentador desde os tempos em que era apenas um sindicalista em São Paulo em permanente conflito com o empresariado paulista, se manifestou em relação à morte.
Por meio de publicação no X (antigo Twitter), Lula lembrou da trajetória do apresentador e expressou seus sentimentos aos familiares, amigos e fãs. “Ao longo dos anos, nos encontramos em programas de TV, reuniões e conversas, sempre com respeito e carinho. A sua partida deixa um vazio na televisão dos brasileiros e marca o fim de uma era na comunicação do país”, afirmou.
Sílvio Santos passa a ser popular no Acre quando Narciso Mendes se torna o dono local do SBT. A imagem do apresentador entre o público acreano só passou a ser popularmente conhecida a partir de 1989, quando o então deputado federal e empresário Narciso Mendes de Assis, além de sócios como o também na época deputado federal Osmir Lima, adquiriram o jornal “O Rio Branco”, que pertencia ao Grupo Tourinho, de Porto Velho, e abriram em Rio Branco, a TV Rio Branco, canal 8, retransmitindo a programação do SBT. Durante quase 30 anos, a concessão da emissora pertencia ao grupo de Narciso Mendes, mas acabou sendo renovada por outro grupo de comunicação, este do Amazonas, e a TV Rio Branco agora retransmite a programação da TV Cultura de São Paulo.
Como, por que e quando Sílvio Santos tentou ser presidente da República; candidatura foi impugnada
O aparente pouco caso da maioria dos representantes do povo acreano em relação à morte do maior comunicador da história do país, talvez tenha relação com o fato de Sílvio Santos jamais ter-se aventurado a conhecer os rincões de seus pais, principalmente regiões como a Amazônia e muito menos o Acre.
Mas, ainda que não conhecesse os grotões do Brasil, ele tentou ser candidato à presidência da República, na primeira campanha eleitoral presidencial após os 25 anos de ditadura militar, em 1989. A aventura de Sílvio Santos pelo mundo da política, que ele próprio qualificou depois de maior loucura de sua vida, deu-se no dia 30 de outubro de 1989, a sete dias do prazo final para formalizar candidaturas à corrida presidencial daquele ano, num apartamento da Academia de Tênis de Brasília. Onde estavam Silvio Santos, Armando Corrêa.
Presentes à reunião, os então senadores Marcondes Gadelha, Edison Lobão e Hugo Napoleão, líderes do extinto PFL e da política nacional. Eles se reuniram pela manhã e foram até por volta da meia-noite, tratando da candidatura do apresentador. Armando Corrêa, que era candidato pelo Partido Municipalista Brasileiro (PMB), concordou ali com a substituição de sua candidatura pela de Silvio Santos, mas disse que ainda era necessário contatar suas “bases”. Segundo Gadelha, aquele seria um momento para ser “desleal” com a imprensa e evitá-la a todo custo, já que muitos estavam contra a candidatura de Silvio, e também para evitar o vazamento de informações, como ocorreu na tentativa de candidatura pelo PFL.
A jornalista Eliane Cantanhêde, do Estado de S. Paulo, era uma das que também esperavam no local, representando um “sinal de alerta”. Gadelha pediu para que o senador Francisco Benjamim distraísse Cantanhêde, para que Silvio e Gadelha pudessem descer as escadas e ir para seu carro, evitando abordagens. Ao sair com ele, Gadelha deparou-se com Tereza Cardoso, do Jornal do Brasil, além de outros jornalistas com equipamentos de filmagem, mas acelerou em alta velocidade, escapando do local. Pegou um atalho com a casa do ministro João Alves Filho, que estava com os dois portões abertos, e foi para a casa de seu amigo de infância Manoel Gonçalves de Abrantes, onde Gadelha e Silvio conversaram sobre a candidatura.
Lá, Silvio comentou para Gadelha que o pouco tempo restante para a eleição — quinze dias — não seria impeditivo, já que ele conhecia “o povo”, e que não queria discutir planos de governo, mas sim o governo em si. Silvio disse que já havia um rumo concreto para o governo e seria “cercado por homens de bem”, que pudessem operar com “honestidade, sensatez e justiça”.
Os temas principais seriam saúde, educação e habitação, pois estavam ligados “à formação de um capital humano eficiente”, que ajudaria a desenvolver o país. Sobre a economia, ele disse que gostaria de “liquidar a inflação”; Gadelha comentou que esse foi um dos fatores principais da candidatura do apresentador. Sua história de vida, indo de um pequeno vendedor a dono da segunda maior rede de televisão do país, também foi utilizada.
Ainda na casa de Manoel, simpatizantes e telefonemas começaram a chegar. Lá, um “grupo razoavelmente caudaloso” foi formado e foram para o Senado para o ato público de filiação ao PMB. Ali, segundo Gadelha, “o tumulto já havia se estabelecido”. A candidatura de Silvio Santos, com Gadelha como vice, foi oficializada no dia 31 de outubro, com direito a propagandas diárias de cinco minutos em rádio e televisão. Naquele dia, a candidatura era “de longe o fato mais importante de todo o cenário político nacional”, e também apareceu em jornais internacionais, como o The New York Times.
Com esse anúncio, o impacto na disputa eleitoral foi “notável e imediato” e causou “intensa polêmica”, confrontando posições políticas tanto de direita quanto de esquerda. Temia-se, de um lado, que o fato tirasse votos do candidato Fernando Collor, aumentando as possibilidades de Leonel Brizola ou Luiz Inácio Lula da Silva chegarem ao segundo turno. De outro lado, a esquerda temia que as pressões sobre o julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pudessem constituir uma manobra antidemocrática, possibilitando o surgimento de fraudes nas eleições. Diversos candidatos foram contra a candidatura de Silvio, com alguns criticando o presidente José Sarney por possibilitá-la à sua sucessão – Sarney odiava tanto a Collor como a Lula, que acabaram indo para o segundo turno.
A primeira pesquisa eleitoral com Silvio, feita pela Gallup e publicada em 2 de novembro, “prejudicava todos os concorrentes”, como notado pelo Estado de S. Paulo. Sem Silvio, Collor estava na liderança, com 27,5%; com Silvio, Collor foi para o segundo lugar com 18,6%, e Silvio ficou com 29%. O apresentador também foi convidado para o último debate do primeiro turno, que ocorreu em 5 de novembro na televisão. No entanto, ao contrário do que foi anunciado pelo PMB, o candidato a vice original de Corrêa, o deputado estadual Agostinho Linhares, negou que tivesse concordado em renunciar; comentando que gostaria de ser o vice de Silvio. Mais tarde, acabaria por renunciar.
Um dos problemas da candidatura foi o fato de que, na época, votava-se em uma cédula de papel feita pelo TSE, que eram feitas com antecedência. Isso significava que a cédula mostrava o nome de Corrêa com o número 26, apesar de substituído por Silvio. A tarefa seria mostrar que, votando em Corrêa, na verdade votava-se em Silvio. O horário eleitoral gratuito foi a única maneira de divulgar esta informação. Além de se montar um jingle, entre sua exibição mostraria-se Silvio explicando a situação da votação na cédula. As propagandas foram gravadas no estúdio do SBT em duas horas, formada por oito programas. As propagandas começaram a ser veiculadas na televisão e na rádio no dia 2 de novembro.
No início da noite de 3 de novembro, no entanto, com base em representação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), o TSE suspendeu as propagandas do PMB por citar um candidato que não estava oficialmente inscrito (que, no caso, seria Corrêa). Propagandas de outros partidos que citaram Silvio Santos também foram suspensas. No dia seguinte, o Estado de S. Paulo mencionou que Célio Silva, do Partido da Reconstrução Nacional (PRN), mesmo que o do candidato Collor, pediria, no dia 6, a extinção do PMB ao TSE.
No dia 4 de novembro, foi feito o pedido do registro da candidatura de Silvio Santos e, à tarde, marcada uma visita dos candidatos ao ministro Francisco Rezek, então presidente do TSE. No entanto, com o surgimento de pedidos de impugnação, foi chamado para a defesa Oscar Dias Corrêa, por indicação do filho do próprio. O ministro, inicialmente, aceitou a ideia, mas disse que era um “advogado caro”. Porém, após conseguirem o dinheiro, Oscar acabou não aceitando o caso, mas sugeriu Pedro Gordilho, que também rejeitou e sugeriu a procura de Xavier de Albuquerque, o qual também declinou. Este, por sua vez, sugeriu Rafael Mayer, que acabou dizendo a mesma coisa.
Vários fatores consideraram a candidatura ou o partido como inválidos. Aristides Junqueira, então Procurador-Geral Eleitoral, embasou seu parecer na Lei Complementar nº 5/70, que considerava inelegíveis os candidatos a presidente e vice-presidente da República que tivessem exercido, nos seis meses anteriores ao pleito, cargo ou função de direção, administração ou representação em empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público ou sujeitas a seu controle. Segundo Gadelha, isso não era verdadeiro, pois Silvio não participava de cargos administrativos do SBT desde 1988. Além disso, Eduardo Cunha, da “tropa de choque” de Collor, fez um pedido de impugnação notando que o partido precisava ter feito convenções regionais em pelo menos nove estados, enquanto o PMB havia feito apenas quatro.
A sessão do TSE que impugnaria a candidatura ocorreu em 9 de novembro. Emissoras abertas tentaram transmiti-la ao vivo, mas não foram autorizadas. A sessão “não muito longa” declarou extintos os efeitos do registro provisório do PMB, o que constituiu óbice à candidatura pretendida. O argumento da Procuradoria-Geral Eleitoral também foi considerado, e Silvio foi considerado dirigente de uma rede televisiva de alcance nacional e, portanto, inelegível. De forma unânime, por sete votos a zero, o PMB foi considerado ilegal e a candidatura de Silvio foi invalidada.
Pesquisas da época mostravam cerca de 30% de aprovação a Silvio. No entanto, com o indeferimento do pedido de registro dos candidatos do PMB, a disputa retornou ao patamar anterior, com a liderança de Fernando Collor, também com 30%, seguido por Lula e Brizola, ambos com cerca de 15%. O ganhador do primeiro turno foi Collor, com 30,47% dos votos, seguido por Lula, com 17,18%. Corrêa teve 0,01% dos votos. Collor ganhou o segundo turno com 53,03%, e Lula teve 46,97%.
Gadelha escreveu sobre a candidatura no livro “Sonho sequestrado: Silvio Santos e a campanha presidencial de 1989”, publicado em 24 de setembro de 2020. Nele, o autor defende que houve uma “engenhosa e implacável conspiração” para impedir a candidatura de Silvio, pois temeria-se que o apresentador seria “imbatível nas urnas” Ele declarou que o apresentador poderia “salvar o Brasil” da crise política instaurada com a vitória de Collor: “Ele teria sido revolucionário no governo”. Após a candidatura falhada, Silvio se candidatou à prefeitura de São Paulo em 1992, mas o partido também foi considerado ilegal. Gadelha declarou que, em 2005, procurou o apresentador para tentar fazê-lo se candidatar à presidência novamente, mas Silvio negou, respondendo: “Venha ao meu hotel no Guarujá. Falamos de tudo no mundo. Mas política nunca mais”.