O fenômeno climático conhecido como La Niña, que acontece em intervalos entre três e cinco anos, em média, já começou a afetar o planeta. As mudanças consistem no resfriamento da faixa Equatorial Central e Centro-Leste do Oceano Pacífico, quando suas temperaturas caem em, pelo menos, 0,5ºC.
Previsão do tempo: La Niña vem contudo em fevereiro/Foto:depositphotos.com / Simplyamazing
De acordo com dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (Noaa), os períodos em que será possível sentir os maiores efeitos do La Niña são os meses entre março e maio.
O professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Anderson Mesquita, geógrafo e especialista em climatologia, conversou com a reportagem do ContilNet sobre os possíveis efeitos que serão sentidos no estado do Acre.
O pesquisador salienta que existem processos envolvidos no La Ninã que podem afetar o estado do Acre, sendo o primeiro deles o resfriamento das águas do do Pacífico Sul, que banha o litoral peruano.
“A corrente marítima chamada de Humboldt, geralmente traz águas mais geladas, que chegam até a costa peruana. Existe uma série de processos físicos complexos de transferência de energia, da água que vai para a atmosfera e isso acaba repercutindo em outras localidades aqui no Brasil, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sul”, salientou o professor.
O especialista explica ainda que a tendência é que ocorram mais chuvas na região norte e nordeste e que no sul do país o efeito seja o oposto, diminuindo o regime de chuvas.
“Mesmo com essa La Niña mais fraca esse ano não deixa de ser um evento de La Niña. O que a literatura tem indicado é que há probabilidade de termos mais chuvas aqui para a região Norte e Nordeste, e menos para a região Sul do Brasil, mas isso é apenas uma probabilidade”, enfatizou.
O professor explica que o nível de precipitação pode aumentar/Foto:Cedida
Mesquita destaca ainda que, para o estado do Acre, mesmo com uma La Nina mais fraca, o que poderá indicar um nível de precipitação não elevação, é necessário se manter em alerta para os eventos extremos, como grandes volumes de chuva em um curto espaço de tempo.
“Mesmo que a gente não tenha um aumento significativo do volume de precipitação, a gente não escapa dos chamados eventos extremos. Esses sim são muito perigosos. Podemos ter, por exemplo, um volume muito elevado de chuva em um curto período de tempo e isso pode acabar afetando drasticamente a cidade, como ocorreu na alagação do Igarapé São Francisco anos atrás”, exemplificou.
O possível aumento nas chuvas pode afetar a agricultura local, dificultando o processo de colheita e o escoamento da produção. O agrônomo Rafael Pereira deu alguns exemplos de como as duas situações podem ser impactadas.
“Normalmente você espera uma quantidade em um certo período, então quando ele se altera as grandes commodities podem sofrer bastante com a saturação climática, o que afeta diretamente na produção”, disse ele sobre a possibilidade do aumento das chuvas.
O agrônomo explica ainda que certas plantas, como hortaliças, podem ser mais impactadas, dependendo da forma como são produzidas, sendo suscetíveis a mais ameaças que atrapalham seu desenvolvimento.
Com aumento na precipitação o agrônomo alerta para possíveis problemas enfrentados/Foto: Cedida
“Agora, existem algumas plantas como as hortaliças, que dependendo da forma que foram plantadas e tudo mais, podem sofrer mais ataque de pragas, fungos, por estar muito úmido, pode morrer por afogamento por exemplo”, destacou.
O profissional ainda ressalta que o período de março a maio é de colheita para commodities como milho e soja, o que pode dificultar a colheita. “Algumas pessoas colhem em fevereiro, mas a grande maioria é do meio de março até maio, por conta da seca, que é a troca do inverno amazônico para o verão amazônico, que é quando a gente chama de estiagem”, destacou.
Outro fator apontado por Pereira, sobre possíveis efeitos do La Niña para as plantações do estado é no escoamento das produções, que pode ser impactado.
“Outro fator que pode atrapalhar, com o possível aumento de precipitação por conta do La Niña é no escoamento. Nosso estado é um dos estados com estradas mais mal pavimentadas, ou seja, na hora de escoar essa produção de alimentos muitos espaços ficam inacessíveis ou de muito difícil acesso, afetando o transporte desses produtos, com isso se perde parte da produção”, encerrou ele, dizendo que as chuvas podem também atrapalhar o processo de colheita, ainda nas propriedades rurais.