Durante audiência no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (9), o tenente-coronel do Exército Mauro Cid declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro acreditava que uma suposta fraude nas urnas eletrônicas poderia ser o argumento necessário para mobilizar os comandantes militares a reverter o resultado das eleições de 2022.
A expectativa, conforme o depoimento, era usar a descoberta como justificativa para sustentar a tese de que o pleito havia sido fraudado/ Foto: Ton Molina
Segundo Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente e agora delator, Bolsonaro e o general Walter Braga Netto, que compôs a chapa como vice, apostavam na possibilidade de encontrar falhas no sistema eletrônico de votação para justificar uma intervenção militar no país. A expectativa, conforme o depoimento, era usar a descoberta como justificativa para sustentar a tese de que o pleito havia sido fraudado.
“O que sempre se buscava era encontrar fraude nas urnas. Com essa fraude, acreditava-se ser possível convencer os militares de que a eleição foi manipulada e, assim, tentar mudar o cenário político”, afirmou Cid, primeiro réu do chamado Núcleo 1 da suposta tentativa de golpe, ouvido pelo ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal.
O militar também relatou que o general Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa, foi pressionado por Bolsonaro a levantar dúvidas públicas sobre a integridade do processo eleitoral. Em 2022, Nogueira chegou a enviar um parecer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirmando que não era possível assegurar que o sistema eletrônico estivesse livre de influência externa. Vale lembrar que o próprio TSE havia criado uma comissão de transparência com participação das Forças Armadas para fiscalizar o processo eleitoral.
A audiência de Cid teve uma pausa por volta das 16h45 e deve continuar até as 20h.
Agenda de interrogatórios
A oitiva de Mauro Cid abre a série de interrogatórios conduzidos por Moraes nesta semana, no âmbito da investigação sobre o plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Estão previstos para depor até sexta-feira (13) os seguintes investigados:
-
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin;
-
Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
-
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
-
Augusto Heleno, ex-ministro do GSI;
-
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
-
Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
-
Walter Braga Netto, general da reserva e ex-ministro.
As oitivas são parte de uma ação penal que apura o funcionamento de um suposto núcleo de articulação de medidas golpistas. A delação de Mauro Cid é uma das principais bases da investigação.