Os produtores rurais que moram na Reserva Extrativista Chico Mendes continuam a se manifestar contra as ações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e suas ações, bloqueando estradas federais, com faixas e cartazes de protesto, assim como grandes galhos de árvores para fechar a estrada.

As manifestações contra as ações do ICMBio seguem ocorrendo/Foto: Reprodução
Gutierre é um dos moradores da reserva que tem ganhado destaque desde que a operação começou a ser realizada, já que ele foi um dos primeiros a ter cabeças de gado apreendidas pelas ações do ICMBio.
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“Moro há 23 anos na reserva, ficamos a vida inteira trabalhando e eles passaram anos ausentes da reserva, abandonaram a gente lá, e hoje tomaram tudo que é meu, mataram 20 vacas minhas. Estamos atrás do nosso sangue, estão tomando nosso sangue, meu sangue, de minha família”, disse ele.
O morador da reserva continua afirmando que a causa dos manifestantes é justa e pede que a discussão chegue na Assembléia Legislativa. “Estamos brigando por uma causa justa, venha negociar, leva a gente lá pra assembleia, vamos negociar, deixe o que é nosso”, disse.
Outro manifestante presente no local é Josenildo Mesquita, afirma que o motivo para seu protesto, junto a Gutierre, é para que os embargos sejam derrubados.
“Eles embargaram nossa terra, tomaram tudo que a gente tinha, expulsaram a gente das nossas terras e estão fazendo churrasco, comendo nosso gado e escutando música, queremos que saiam das nossas terras e devolvam nosso gado”, complementou Mesquita, que está acorrentado junto a Gutierre durante o protesto.
O que diz o ICMBio sobre a operação
A coordenadora da Operação Suçuarana e gerente do ICMBio na região Norte, Carla Lessa, afirmou que a retirada de gado ilegal da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, não prejudica pequenos produtores, nem a população extrativista que vive na unidade.
Segundo ela, a ação tem como alvo áreas de pecuária ilegal ocupadas por pessoas que foram notificadas reiteradas vezes para desocupar o território, inclusive por decisões judiciais, mas optaram por permanecer de forma irregular.
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“Essas pessoas foram notificadas pelo ICMBio para retirar o gado e sair dessas áreas de forma reiterada, inclusive pela Justiça, mas não cumpriram as determinações legais”, disse.
De acordo com Carla Lessa, circulam nas redes sociais informações falsas sobre a operação, que têm gerado desinformação sobre os objetivos do ICMBio. “Não é verdade que o ICMBio está prejudicando o pequeno produtor rural”, afirmou.
A gestora reforçou que a reserva é uma terra pública federal criada em 1990 com a finalidade de garantir o uso sustentável dos recursos florestais por populações extrativistas tradicionais, e que cabe ao órgão fiscalizar o cumprimento do plano de utilização definido pelos próprios moradores da reserva. “Essas pessoas definiram um plano de utilização do território que deve ser cumprido, e cabe ao ICMBio fiscalizar esse uso”, explicou.
Ela destacou que o aumento do desmatamento e a introdução de grandes rebanhos bovinos nos últimos anos têm descaracterizado a unidade de conservação. “Infelizmente, nos últimos anos, houve invasões, desmatamento desenfreado e colocação de gado em grandes áreas da reserva, descaracterizando a unidade”, declarou.
A coordenadora pediu a colaboração da sociedade para garantir a efetividade da fiscalização e a preservação do território. “É importante a colaboração de todos para que o ICMBio consiga cumprir sua missão de conservar as reservas extrativistas para as populações beneficiárias e para a conservação da floresta amazônica no Acre e de todo o planeta”, concluiu.