Mundo caminha para um aumento catastrófico de 3,1°C com políticas climáticas atuais, alerta ONU

Às vésperas da COP29, novo relatório mostra que ainda é possível alcançar a meta de 1,5ºC do Acordo de Paris, mas apenas se países reduzirem 42% das emissões anuais de gases estufa até 2030

“É um ano trágico, que deixou muito claro para a humanidade o abismo para o qual estamos caminhando”, disse Alexandre Prado, líder em mudanças climáticas do WWF-Brasil, à EXAME. Isso porque o relatório anual divulgado nesta quinta-feira, 24, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), não traz boas notícias: se as nações continuarem com as políticas atuais, o mundo irá enfrentar um aumento catastrófico da temperatura de até 3,1°C ainda nesta década. Caso cumpram de fato com as promessas climáticas, a alta seria limitada a 2,6-2,8°C. . O cenário traz impactos drásticos para as pessoas, para o planeta e para as economias, alerta a ONU.

 (UniversalImagesGroup/Getty Images)

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Por outro lado, ainda há uma pequena janela de oportunidade: é tecnicamente possível atingir a meta de 1,5°C, mas apenas com uma mobilização global e ação rápida. Segundo o relatório, os países precisariam se comprometer coletivamente a reduzir 42% das emissões anuais de gases de efeito estufa até 2030 e 57% até 2035, na próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) submetidas em 2025, antes da COP30 no Brasil.

Já em um cenário de limitar o aquecimento global a menos de 2°C, as emissões devem cair 28% até 2030 e 37% dos níveis de 2019 até 2035.

Embora adicionar compromissos de neutralidade de carbono à implementação total das NDCs incondicionais e condicionais possa limitar o aquecimento global a 1,9°C, a ONU destaca que atualmente há baixa confiança na implementação.

“Chegou a hora decisiva para o clima. Precisamos de uma mobilização em uma escala e ritmo nunca vistos antes – começando agora, antes da próxima rodada de promessas climáticas – ou a meta de 1,5°C logo estará morta, e a de bem abaixo de 2°C ficará na unidade de cuidados intensivos,” escreveu em nota, Inger Andersen, Diretora Executiva do Pnuma.

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Em 2023, as emissões de gases estufa bateram um recorde de 57,1 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente. Este atraso na ação significa que 7,5% das emissões devem ser reduzidas a cada ano até 2035 para a meta de 1,5°C, e 4% para a de 2°C, acrescentou o relatório.

Neste sentido, Alexandre destacou que o ano passado já foi bastante alarmante, e se soma ao que aconteceu nos últimos 12 meses, com desastres climáticos em todo mundo. “No Brasil, enfrentamos enchentes, secas, queimadas, entre outros eventos extremos. Ou agimos, ou o futuro será ainda mais trágico. E aí entra a (in)justiça climática: os mais vulneráveis e menos responsáveis pelo abismo, são os primeiros a cair”.

Mas ao mesmo tempo que o relatório mostra a profundidade desse abismo e o tamanho da crise, também aponta o esforço que precisa ser feito — traçando algumas soluções e caminhos, complementou Alexandre.

O aumento da implantação de tecnologias fotovoltaicas solares e energia eólica poderia fornecer 27% do potencial total de redução em 2030 e 38% em 2035. Já a ação sobre florestas poderia fornecer cerca de 20% do potencial em ambos os anos. Outros caminhos incluem medidas de eficiência, eletrificação e substituição de combustíveis nos setores de edifícios, transportes e indústrias.

Todo este potencial ilustra que é possível fazer a transição energética para fontes limpas, atingir as metas da COP28 de triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, dobrar a taxa média anual global de melhorias de eficiência energética e conservar a natureza e os ecossistemas, reitera a ONU.

Além da ação imediata de governos, a mitigação exige reformas na arquitetura financeira global, forte ação do setor privado e cooperação internacional. financiamento, pauta central da COP29 em Baku, também é peça-chave. Será preciso um aumento mínimo de seis vezes nos investimento para que o mundo alcance o zero líquido. E os membros do G20, maiores emissores globais, precisam liderar e aumentar a ambição.

O documento também aponta que as NDCs devem incluir todos os gases listados no Protocolo de Quioto, cobrir todos os setores e definir metas específicas e transparentes. Para os mercados emergentes e economias em desenvolvimento, também devem incluir detalhes sobre o apoio internacional e financiamento.

O relatório foi divulgado a menos de um mês da Conferência do Clima da ONU, que será de 11 a 22 de novembro no Azerbaijão, momento em que líderes tem a oportunidade de atualizar suas metas para combater a crise climática.

“Chega de conversa fiada, por favor. Usem as conversações da COP29 para aumentar a ação agora, preparar o terreno para NDCs mais fortes e, em seguida, ir com tudo para entrar no caminho de 1,5°C”, destacou Inger, na nota.

Segundo Alexandre, é preciso de ousadia política para alcançarmos a descabonização. “Existem interesses consolidados em uma economia de alta emissão, e no Brasil não é diferente. Precisamos de lideranças capazes de alterar essa rota para alcançarmos o que se espera de desenvolvimento econômico no século 21”, concluiu.

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