Caetano Veloso e Maria Bethânia chegam a São Paulo neste sábado (14) para três apresentações da vitoriosa turnê Caetano & Bethânia que reúne os irmãos e já passou por diversas cidades brasileiras. O show tem um fio dramatúrgico alinhado pela trajetória dos dois de forma bonita e sutil, trazendo à tona a questão da religiosidade e a presença da família, por exemplo.
Várias histórias envolvendo ambos já foram passadas e repassadas: Caetano batizou Bethânia por causa de uma canção de Nelson Gonçalves chamada Maria Betânia, escrita por Capiba, e ela chamou a atenção do irmão mais velho para o trabalho de Roberto Carlos no programa de TV Jovem Guarda, plantando uma semente da Tropicália. Mas há outros fatos da trajetória deles que, apesar de pouco lembrados, ajudam a entender como essa relação pessoal e artística parece ter alimentado (e impulsionado) um ao outro.
A seguir, veja dez curiosidades sobre as carreiras de Caetano Veloso e Maria Bethânia que talvez você não saiba.
Início do sucesso
De todos os artistas baianos que chegaram ao Rio e a São Paulo em 1965, Bethânia foi a primeira a fazer sucesso após a repercussão de sua performance no espetáculo Opinião, ao lado de João do Vale e Zé Kéti. Ao assinar um contrato com a RCA (em uma disputa que envolveu a lendária gravadora Elenco), ela pediu que os amigos Gilberto Gil, Gal Costa (ainda com o nome artístico Maria Da Graça) e Tom Zé, além de Caetano, também entrassem para o elenco do selo. Todos eles lançaram compactos simples (com uma música de cada lado) em 1965.
Chegada a São Paulo
Caetano fez a música Sampa em 1978 dizendo que “alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João”. Bethânia, ao vir para São Paulo, ainda no início da carreira para fazer o show Opinião, passou uma temporada bem perto da famosa esquina, hospedada no Excelsior Apartamentos. Foi no Excelsior que Bethânia se aproximou de Vinicius de Moraes, de quem logo ficou amiga.
Único festival
Os festivais de música brasileira dos anos 1960 ajudaram a consolidar vários artistas, como o próprio Caetano, mas Bethânia participou apenas de um deles. Ela interpretou Beira-Mar (a primeira composição feita por Caetano e Gil em dupla) no Festival Internacional de Canção de 1966. A música foi desclassificada e, chateada com o resultado, Bethânia nunca mais participou de um evento do gênero.
Rock à brasileira
Bethânia optou por não aderir à Tropicália para se manter independente em suas escolhas artísticas (ainda que tenha partido dela o impulso para Caetano prestar atenção em Roberto Carlos e na Jovem Guarda e dado o mote da canção Baby, emblema do movimento tropicalista). No mesmo ano de 1968 em que o disco Tropicália chegou às lojas, ela fez um show com o ator Paulo Autran no Rio de Janeiro e surpreendeu ao incluir no repertório o rock Era um Garoto que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones, gravado pelo grupo Os Incríveis e depois pelos Engenheiros do Hawaii. Bethânia nunca registrou a música.
Estúdio no prédio do Estadão
Caetano Veloso produziu um álbum de Bethânia assim que voltou do exílio em Londres, Drama (1972). O disco foi gravado no Estúdio Eldorado, no centro de São Paulo. O estúdio era de propriedade do Grupo Estado e ficava no mesmo prédio da redação do Estadão. Foi o primeiro disco de Bethânia registrado em 16 canais/pistas sonoras, o que garantia melhor qualidade de áudio. Meses depois, Caetano registrou no mesmo estúdio o disco Araçá Azul (1973).
Nas trilhas de novela
A inclusão de músicas interpretadas por Caetano e Bethânia em novelas ajudou a popularizar o trabalho de ambos. A primeira canção interpretada por ela que entrou em uma trilha sonora lançada em disco foi Maldição, escolhida para a versão original de Mulheres de Areia (1973), exibida pela TV Tupi. A voz de Caetano apareceu em folhetim televisivo pela primeira vez em Sem Lenço, Sem Documento (1977), da TV Globo, e em dose dupla, com: Alegria, Alegria – da qual saiu o título da trama – e O Leãozinho.
Canção para o Rei
Falando em música de novela, Ela e Eu entrou na trilha da novela Coração Alado (1980) na voz de Bethânia. Porém, Caetano fez a música para Roberto Carlos, que nunca a gravou. Nos anos 1970, o Rei gravou três músicas do colega que se tornaram grandes sucessos: Como Dois e Dois, Muito Romântico e Força Estranha. Em 1993, Bethânia dedicou a Roberto o álbum As Canções que Você Fez Pra Mim, um estouro de vendas.
A teoria do escritor
O escritor Júlio Cortázar, que havia conhecido Caetano Veloso durante o exílio do cantor e compositor em Londres, esteve em São Paulo em 1975 e foi ver um show de Bethânia. No dia seguinte, o repórter do Jornal da Tarde (publicação do Grupo Estado) Marcos Faerman foi entrevistá-lo. Cortázar lhe falou sobre uma teoria que tinha: Caetano e Bethânia seriam a mesma pessoa. “Eles são iguais meu caro, absolutamente iguais. E há alguma prova de que eles não sejam a mesma pessoa? Eles já foram vistos juntos alguma vez em algum espetáculo? Responda: isto é importantíssimo”, perguntou o escritor. “Sim, já foram vistos”, respondeu Faerman. “Mas aí está: para mim eles não estavam juntos… não poderiam… eles são um… isto deve ter sido truque de algum desses habilidosos diretores; sabe, estes jogos de espelhos que usam nos parques, coisas assim”, argumentou Cortázar. A entrevista foi publicada no JT em 26 de abril de 1975.
Parcerias
Bethânia é uma compositora bissexta. Mas, ao lado de Caetano, ela fez quatro canções que são mais conhecidas por fãs fervorosos dos dois. Caras e Bocas (gravada por Gal Costa), Pássaro Proibido, Trampolim e Luz da Noite. No show que fizeram juntos em 1978 e que foi lançado em disco, Caetano interpretou Reino Antigo, parceria da cantora com a violonista Rosinha de Valença.
Homenagem
Dedicatória, uma das músicas que Caetano e Bethânia cantam no show que chega a São Paulo neste fim de semana, é dos anos 1980, mas nunca foi gravada. Foi feita por Caetano para a irmã cantar em um espetáculo no qual comemorava 20 anos de carreira. A canção é uma homenagem à Mãe Menininha do Gantois, ialorixá do terreiro do Gantois, frequentado pelos dois. Eles cantaram Dedicatória juntos em programa da série Chico e Caetano, que foi ao ar pela TV Globo em 1986 – uma das raras vezes em que Caetano tocou guitarra na televisão.