País não está preparado para incêndios, diz secretário de MS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As queimadas de 2020 no Pantanal e no resto do país mostraram que o Brasil não está preparado para lidar com o problema, especialmente considerando as mudanças climáticas, afirma Jaime Verruck, secretário da Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Produção e Agricultura Familiar), de Mato Grosso do Sul.

PERGUNTA – Era possível ver a situação de seca desenhada já desde o ano passado, pelas chuvas anormais no período de cheias do Pantanal. As autoridades demoraram para prestar atenção ao cenário de risco?

JAIME VERRUCK – Não. Pantanal é sempre seca e cheia. No ano passado, nós tivemos em agosto e setembro grandes incêndios florestais. Quando chegamos em novembro, não houve a cheia na média histórica. Tivemos uma cheia baixa.

Nós já sabíamos [da situação]. No mês de março e abril nós tivemos um grande incêndio aqui em Mato Grosso do Sul. Sempre tivemos queimadas no Pantanal, a questão é a dimensão disso. Neste ano estamos fora da curva.

O que estão colocando agora é que esse é o primeiro de cinco anos [de estiagem severa], então precisamos estar muito bem preparados para os próximos anos.

Algumas coisas ficaram evidentes para nós. Os focos do Pantanal não se deram por combustão espontânea. Pode ser por acidente, mas ele não decorre de um fenômeno natural.

E o Brasil, incluo nisso Mato Grosso do Sul, não tem uma estrutura de planejamento e combate a incêndios florestais dessas dimensões. Tudo que foi possível ser alocado na questão de incêndios florestais do Pantanal, foi.

P – E considerando ainda as mudanças climáticas

JV Esse é um grande problema. Não é só que vamos entrar em um ciclo de seca mais intenso, além disso, chove localizado e concentrado, outra variável complicadíssima para nós.

P – A ocupação do Pantanal tem presença histórica de gado. O dado mais recente do IBGE aponta uma oscilação para baixo no rebanho na região (queda de 0,4%). O fogo no Pantanal então não tem nada a ver com falta de gado, certo?

JV A ideia do boi bombeiro é a redução de biomassa. A atividade do Pantanal é a pecuária. Neste ano tem 3,8 milhões de cabeças de boi no Pantanal e teve uma leve redução.

Qual é a pressão no Pantanal? Você tem uma intensificação da pecuária. Há troca da pastagem nativa pela plantada, o que é identificado como supressão –o conceito é o mesmo do desmatamento.

Relacionar a diminuição dos bois, comeu menos, então pegou mais fogo, e a ideia do boi bombeiro eu acho muito simplista.

O boi tem um papel fundamental do ponto de vista econômico. Realmente ele come biomassa, mas, se tivéssemos mais boi, não teríamos esses incêndios? Não, não há essa correlação estatisticamente.

O que observamos é que, nas Unidades de Conservação, obviamente, como tem muito mais biomassa, quando pega fogo, vai queimar muito mais.

Isso não quer dizer que eu estou defendendo que tenha que colocar boi dentro de unidade de conservação.

P – Salles também afirmou que houve menos queimadas nos últimos anos, o que não é corroborado pelos dados do Inpe. Em nível estadual, houve algum tipo de maior restrição ou orientação no sentido de evitar o uso de fogo?

JV Todo e qualquer tipo de queimada é proibida. É proibido queimar.

Todo ano nós temos autorização de queima controlada, que tem uma série de critérios de avaliação, como biodiversidade, como fazer. Neste ano tivemos três solicitações.

Todo ano publicamos uma portaria, normalmente para agosto, setembro e outubro, suspendendo a solicitação de queima controlada e autorização que tenha sido concedida. Neste ano a proibição se alongou em função da estiagem.

A discussão que o ministro tem colocado tem relação com o fogo frio, o fogo controlado.

O que nós temos hoje é um decreto que regulamenta a queima controlada, mas ela não está inserida em uma lógica de planejamento de combate de fogo, de prevenção.

Estamos fazendo um decreto dessa forma e aí será permitido o manejo integrado de fogo, uma lógica diferente da queima controlada, que é uma lógica do produtor, individual. Vai ser uma lógica do poder público, com um olhar macro.

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