Estudos científicos recentes apontam que as crianças têm uma carga viral de coronavírus semelhante à dos adultos e que lockdown com escolas fechadas é o meio mais eficiente de conter o avanço da pandemia. Os dados foram apresentados aos parlamentares da Comissão de Educação da Câmara na segunda-feira (29) pela coordenadora do Laboratório de Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo, Ethel Maciel.
Ethel disse que a revista Science publicou estudo que analisou a resposta de 41 países à pandemia. O estudo afirma que o lockdown com escolas fechadas ou salas com menos de 10 pessoas foram as medidas mais eficientes para deter a Covid-19.
Inquérito sorológico feito no Espírito Santo com 1.693 crianças e jovens de até 22 anos mostrou que a incidência do vírus nesta amostra aleatória foi de 6%, pouco menor que a verificada em adultos, de 9%. Ainda de acordo com o levantamento, 35,3% dos estudantes estavam assintomáticos. E os sintomas de maior relevância foram a tosse e a perda de olfato. Ou seja, a medição da temperatura não se mostra uma barreira eficaz porque apenas 26% tinham este sintoma.
Para Ethel Maciel, os estudos mostram que a medida mais eficaz é o distanciamento físico seguido de barreiras técnicas como filtros de ar.
“A gente precisa mensurar o CO2 desta sala. Porque pode ser que numa sala eu possa colocar 30 e em outra eu não posso colocar nem 10. Isso varia dependendo da ventilação e do tamanho da sala”, afirmou.
A especialista reconhece, porém, que o país não investiu nessa tecnologia, apostando mais em medidas que viriam depois na escala de prevenção, como os protocolos de segurança e os equipamentos de proteção individuais. Ethel apontou que o país está longe de uma volta segura às aulas de acordo com critérios divulgados pela própria Fiocruz. Um deles é o índice de transmissão de até 0,5 — ou seja, cada 100 infectados transmitindo para menos de 50 outras pessoas. Hoje esse índice é maior que 1. Vários países europeus também estariam fazendo testes periódicos em trabalhadores e estudantes de ensino médio.
Paulino Pereira, diretor da Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino, disse que, no Maranhão, onde trabalha, as aulas presenciais foram retomadas em agosto de 2020 e interrompidas em março por duas semanas. Segundo ele, estão sendo seguidos rígidos protocolos de segurança. O deputado General Peternelli (PSL-SP) acredita que este é um caminho viável.
“Eu vejo que algumas escolas particulares estão voltando às aulas e as públicas, não. E vão fazer o mesmo Enem. Nós não estamos dando para a escola pública a prioridade que essas crianças merecem nessas nossas atividades”, lamentou Peternelli.
Mas o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, Heleno Araújo, culpa o governo pelo descontrole da situação e não acredita que é seguro voltar agora.
“O momento está difícil e complicado para cada um de nós. Estamos perdendo colegas professores, funcionários da Educação, dirigentes sindicais, por conta dessa imposição de retorno às atividades presenciais sem a segurança necessária.”
Araújo criticou o veto do presidente Jair Bolsonaro ao projeto de lei que garantia acesso à internet aos alunos e professores das escolas públicas (PL 3.477/20).
Para o deputado Danilo Cabral (PSB-PE), o governo não prioriza a Educação.
“Quando a gente vê um Orçamento aprovado com recursos para investimentos em Forças Armadas duas vezes mais que para a Saúde e Educação neste momento da pandemia, esse dado mostra que temos governo que não prioriza a pauta”, apontou.