Há 50 anos morria Mestre Irineu, líder e fundador da doutrina do Santo Daime

Há 50 anos, numa manhã de sol do dia 6 de julho de 1971, em Rio Branco, a comunidade do Santo Daime, perdia seu líder e fundador da doutrina que é apontada como a primeira e única religião eminentemente brasileira. Raimundo Irineu Serra, nascido em São Vicente Ferrer, no Maranhão, em 15 de dezembro de 1892, ficou conhecido no Acre como como “Mestre Irineu” ou “Mestre Juramidam”, por liderar uma comunidade religiosa cuja doutrina se espalhou por toda a região amazônica, chegou ao centro sul do país e hoje tem ramificações inclusive internacionais.

Nordestino, Raimundo Irineu Serra, um homem de aproximadamente 2 metros de altura, uma compleição física bem diferente do padrão dos nordestino/acreanos comuns, foi mais um dos inúmeros migrantes que buscaram riqueza no território amazônico, no início do Século XX, no segundo ciclo econômico de exploração da borracha. atuando como seringueiro em Xapuri, Brasileia e Sena Madureira.

Nos municípios por onde passou, criou algum tipo de convivência com índios e seringueiros. Depois, quando passou a se dedicar à coleta da seringa para a confecção da borracha, a relação com os povos nativos se aprofundou e ele então passou a ter conhecimento da bebida a qual os índios a apontavam como sagrada, a Ayahuasca, em língua provavelmente quéchua, falada no vizinho território peruana, e mais tarde batizada por Serra como “Santo Daime”.

Mestre Irineu ( ao centro, com cajdo)

Estudos sobre o líder espiritual contam que, ao tomar conhecimento da bebida, extraída de dois vegetais da floresta amazônica, ele passou a estudá-la e, conforme o próprio escrevera, lhe foi dado, “através da Virgem da Imaculada Conceição”, o conhecimento para que criasse a doutrina espiritual do Santo Daime. A doutrina possui como sacramento o chá da Ayahuasca, cristianizada e rebatizada por Irineu Serra, por meio da orientação da Rainha da Floresta (Virgem Maria) como Daime.

A doutrina traz na essência cânticos e chamadas que guiam e dão força na caminhada espiritual durante a comunhão da bebida sacramental na busca do auto-conhecimento e aperfeiçoamento do caráter individual dentro das escalas social, afetiva e espiritual. O culto é predominantemente Cristão, e traz consigo todas as divindades de cunho característico da Rainha da Floresta, formado por caboclos protetores e orientadores a qual se inclui a mais forte como os Caboclos do Tucum, sendo esta a linha de trabalho do Mestre Irineu. As divindades máximas desta linha estão centradas em Deus e representadas por Jesus Cristo, Nossa Senhora da Conceição, o Patriarca São José e São João Batista.

“Quando eu me ausentar daqui, vocês se unam, se reúnam, tomem Daime e chamem por mim que eu venho. Não me deixem inventar moda e ninguém queira ser chefe. O dono daqui sou eu”, teria deixa escrito o mestre em seu testamento.

Mestre Irineu era filho do ex-escravizado Sancho Martino e Joana Assunção. Chegou à Amazônia em 1912, indo primeiro para Manaus. Aos 19 anos de idade, chegou ao Acre, indo primeiro para Xapuri, onde reside por dois anos. Depois vai trabalhar em nos seringais da Brasileia, onde passa três anos e, em seguida, em Sena Madureira, onde residiu por mais três anos.

De volta a Rio Branco, foi para a Guarda Territorial, até chegar ao posto de Cabo, e em seguida passou a integrar a Comissão de Limites, entidade do Governo Federal que delimitava as fronteiras entre Acre, Bolívia e Peru, órgão comandado pelo Marechal Rondon. E foi o próprio Rondon que nomeou Irineu tesoureiro da tropa, um cargo de confiança.

Em 1945, os companheiros do Mestre Irineu tiveram a oportunidade de dispor de um terreno e assim estabelecer uma comunidade, nomeada “Alto Santo”’. Irineu começou a canalizar mensagens da dimensão espiritual, sob forma de simples hinos, o princípio guiado da doutrina. Ficou conhecido ajudando o seu ambiente que era interessado na sua obra espiritual. Desenvolveu-se igualmente como curador espiritual, especialmente nas situações onde os medicamentos eram ineficazes e o sofrimento não levava à nada.

Em 1971, segundo seus seguidores, ele não morreu. Apenas voltou para a dimensão espiritual e vive, conforme ele mesmo disse. “É só chamar que eu venho”, escrevera.

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