Criada há sete anos para servir de referência no atendimento à saúde da população da chamada “Baixada da Sobral”, uma das regiões mais populosas da Capital Rio Branco, no Acre, a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) “Franco Silva”, nos últimos dias, transformou-se, literalmente, num caso de polícia. A propósito, os problemas que ali vêm acontecendo não são de agora e até manifestações contra a direção já ocorreram na frente da Unidade num momento de crise no setor por conta da pandemia do coronavirus e agora por causa de uma síndrome gripal que vem lotando os estabelecimentos de atendimento à saúde.
Tudo corria bem desde o início do atual governo, com a Unidade fora do noticiário negativo em relação ao atendimento à população, o que é muito incomum nas Upas e outros centros de atendimento, mas faz pelo menos quatro meses que o noticiário negativo se estabeleceu por causa de uma queda-de-braço entre a direção da Unidade e parte de seus funcionários, culminando com uma série de troca de acusações as quais acabam de culminar com o registro de queixas-crimes numa delegacia de polícia por parte da diretora da Unidade, a enfermeira Michele Mônica Panier, de 50 anos. A queixa foi registrada na Delegacia da Sobral, nas imediações da própria Upa Acompanhada de dois assessores, que vão lhe servir de testemunhas, ela foi à polícia registrar queixa contra dois servidores e os acusam de ataques.
A última acusação da dupla envolvendo a diretora Michele Mônica dá conta de que, por causa de denúncias anteriores feitas junto à corregedoria da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), ela teria articulado um abaixo-assinado dos servidores seu favor, obrigando-os a assinar o documento, para também enviar ao órgão. A diretora nega a feitura do abaixo assinado e diz que sequer sabia do documento.
Neste sentido, se apresenta o servidor Hiago Ramom Lira Gomes, servidor efetivo da Sesacre e coordenador do Serviço Médico Estatístico (Same), como autor do documento. “Não é um abaixo assinado e ninguém foi obrigado ou chamado a assinar. Foi uma inciativa minha porque quero ajudar a dona Michela, que está sendo vítima de injustiças ali dentro. Eu fiz um texto elogiando o trabalho dela e coloquei sobre o balcão para quem quisesse assinar, o fizesse. Só que o pessoal que é contra a dona Michele tirou fotografias e enviou à imprensa como se fosse uma ação dela”, disse o servidor. “Ela sequer sabia o que estávamos fazendo. Mas veja como é a situação: eles, os inimigos da dona Michela, podem escrever documentos, tirarem fotografias, irem à corregedoria e à imprensa dizerem o que querem e a gente não pode rebater essas mentiras?”, perguntou o servidor.
Hiago Ramom disse que, o que consta do documento elaborado por ele e que teve o apoio de outros servidores, é um desmentido às acusações que Michele Monica vem sofrendo. “A gente fez constar lá no documento que a diretora não é envolvida com política, não persegue servidores, não frauda escalas de plantões e não comete nenhum tipo de irregularidade”, disse. Segundo ele, a denúncia de que a gestora fraudaria as escalas de plantões para beneficiar protegidos seus é tão descabida porque tais escalas são feitas pelas gerências dos setores e depois disso o documento é submetido a uma auditoria do sistema na própria Sesacre. “A diretora Michele está sendo vítima de uma grande armação política”, disse o servidor.
Em entrevista a ContilNet, Michela Mônica Panier disse que os ataques que vem sofrendo só devem ser decorrentes de interesses políticos de pessoas que querem ocupar seu lugar. “O que sei é que a chamada Baixada da Sobral é um lugar muito populoso, com centenas de milhares e votos. Essas pessoas querem usar a Upa para fazer política, em busca desses votos. É por isso que querem me derrubar para ocupar meu lugar”, disse.
“Estão me ameaçando por telefones de números reservados às três horas da manhã”, diz Mcihela Mônica.
A seguir, uma entrevista com a diretora da Upa Michela Mônica Panier sobre o caso. A seguir, os principais trechos da entrevista:
ContilNet – A senhora diz que há grupos contrários ao atual Governo querendo seu lugar para fazer política a partir da Upa da Sobral. Como chegou à esta conclusão?
Michela Mônica Panier – Eu acredito nisto porque há dois anos que eu estou lá e desde então a Upa da Sobral nunca foi mais para a mídia negativa porque nós ficamos ali o tempo todo, tentando fazer o nosso melhor. A gente não deixa faltar médicos, não deixamos faltar servidores e montamos uma equipe de gerência muito qualificada, com capacitações para os servidores os quais nos dizem que não havia isso antes e por isso eu não consigo entender porque, de três ou quatro meses para cá, tudo começou a se voltar contra a gente.
ContilNet – Esse ‘tudo” é o quê? Esse tudo tem nome?
Michela Mônica Panier – O que estou sabendo, ao receber um print, é que a enfermeira que nós demos a oportunidade de ser gerente de enfermagem, está por trás de tudo isso. Não sei o motivo de ela vir fazendo isso porque é uma pessoa que nós colocamos na gerencia e eu, particularmente, busquei por ela na Secretaria de Saúde para o município ceder a profissional para nós.
Corremos atrás de tudo isso, demos oportunidade e, na hora em que me mandaram um print dela debochando de mim, e me acusando de intimidar e obrigando servidores a assinar uma lista em minha defesa, o que não é verdade, meu mundo caiu. Era uma coisa da qual eu nem tinha conhecimento. Alguns servidores tomaram esta inciativa a partir de um elogio à minha pessoa tentando contrapor as denúncias que fizeram na corregedoria contra minha pessoa. Nem era um abaixo assinado e eu nem conversei com ninguém sobre isso. Minha revolta é saber que ela está afirmando, segundo o print que recebi, que eu estava obrigando servidores a assinarem o tal documento. Isso é muito sério.
ContilNet – E quanto ao rapaz que também faz acusações diversas contra a senhora, de que a senhora estaciona seu carro no lugar das ambulâncias, que não permite aos servidores comerem na cozinha, essas coisas?
Michela Mônica Panier – Trata-se de um enfermeiro que se diz porta-voz de algumas pessoas mas ele mesmo não fala o nome dessas pessoas, algo que eu também não entendo. Ele passa ideia de que é o porta-voz e deixa entender que eu faço tudo aquilo do que ele me acusa, sem provas. Eu tenho a dizer, sobre este enfermeiro, que trata-se de uma pessoa com a qual eu nunca ative um atrito, uma pessoa que, digo sempre, é um excelente funcionário, um profissional para o qual eu tiro o chapéu. Eu sempre elogiei o trabalho dele e não entendo o motivo de ele se juntar à outras pessoas para tentar denegrir a minha imagem.
ContilNet – A senhora não acha que isso se deve à aproximação ao calendário eleitoral e que essas pessoas possam vir a ter interesses políticos contrários ao atual governo do qual a senhora faz parte?
Michela Mônica Panier – Confesso que, politicamente, eu sou uma pessoa muito inocente. Só agora estou acordando para algumas coisas. Creio que, pelo que está acontecendo, só pode ser isso: alguém quer o meu lugar para poder fazer política a partir dali, porque votos, eu já estou informada disso, ali na Baixada da Sobral tem muitos. Acredito então que querem me derrubar para poderem colocar alguém deles para fazer política lá em busca desses votos. É um jogo tão baixo em que tentaram denegrir minha imagem e da minha família.
ContilNet – Como foi isso?
Michela Mônica Panier – Me arranjaram um amante, sendo que eu sou casada há 30 anos, tenho um casal de filhos, uma mulher de 30 anos, já casada, e um rapaz de 26 anos. Tenho, portanto, uma família estruturada. Montaram nas redes sociais um Instagram falso, pelo qual tentaram até me extorquir dizendo que eu tinha esse tal amante e que se eu não desse dinheiro a eles iriam fazer um escândalo com o meu nome.
Não sei quem de fato quem fez isso, não estou acusando ninguém, mas estou certa de que isso faz parte da campanha para denegrir a minha imagem. Foi quando eu reagi dizendo: ok, podem jogar isso na mídia e fazerem o que quiserem. Eu tenho uma família estruturada, meu marido me conhece e sabe que eu não tenho amante e quero que provem o que estão dizendo. Isso acabou, não conversaram mais comigo de número reservado, sem identificação. Na época, eu fiz um boletim de ocorrência na polícia e mostrei que estavam tentando me extorquir. Me pediram R$ 10 mil na época para não divulgarem. Na época, eu falei: podem divulgar porque eu não vou pagar porque não tenho amante. Isso vem acontecendo de quatro meses para cá. Mostrei para o delegado todos esses prints e a própria polícia me diz que não tinha como descobrir de onde partiu tal coisa. Por conta disso, o tal enfermeiro até me contrapôs. Me encontrou no trabalho e disse, na minha frente, que eu havia inventado tudo isso sobre o Instagram. E eu disse: eu não entendo porque vocês estão fazendo isso comigo…?
ContilNet – Qual é a acusação concreta que eles fazem contra a senhora?
Michela Mônica Panier – Não há nada concreto. O que poderia ser concreto seria a acusação de fraude nas escalas de serviço, o que nunca aconteceu e eles não podem provar. É um absurdo isso, você ser acusada sem conhecer as acusações e ter consciência de que está sendo vítima de uma campanha de difamação com objetivos políticos. Se fosse uma acusação de mau atendimento aos pacientes, de má prestação de serviço, eu até me calaria porque, sinceramente, o nosso atendimento, como em qualquer unidade de saúde do Estado e do nosso país, não é, infelizmente, dentro do padrão que as necessidades exigem, no padrão dos países de primeiro mundo, a gente tem que reconhecer. Mas o que estão fazendo comigo não é uma busca de melhoria de atendimento. É uma ação deliberada para me derrubar e outras pessoas assumirem com objetivos outros e diversos do atendimento à população, pelo menos o atendimento regular que nós fazemos. Esta é a verdade.
ContilNet – Há uma acusação de que a senhora estaciona seu carro particular no espaço reservado às ambulâncias. Isso é verdade?
Michela Mônica Panier – Isso é outra mentira deslavada. Isso ocorreu uma única vez e foi no dia em que minha filha fraturou em casa e eu tive que ir buscá-la em casa para ser atendida na emergência. E por isso, como corre com todos os veículos de qualquer cidadão que chegam em emergência, eu parei lá, neste caso, para facilitar a remoção da minha filha, que não podia se locomover. Mas foi o suficiente para que as pessoas que tentam me denegrir tirassem fotografias e as postassem como fosse um costume meu fazer aquilo, sendo que oriento a todos os servidores a não permitirem o estacionamento ali porque as ambulâncias chegam a toda hora com pacientes. Olhe, eu sou enfermeira de formação e carreira e sei exatamente o que significam minutos ou segundos no salvamento da vida de um paciente e o que significa um veículo estacionado num local errado na hora da salvar uma vida.
ContilNet – E a acusação de que a senhora não deixa funcionários comerem na cozinha?
Michela Mônica Panier – Por óbvio! Cozinha não é lugar de se fazer refeições. Para isso há a copa. Quem colocou os avisos foi o gerente administrativo proibindo a entrada de funcionários na cozinha e eu concordei porque lá não é lugar de entrada de funcionários que nãos sejam os do local. Cozinha não é lugar de refeição. Para isso tem a Copa. Mas, qualquer coisa que eu faça, tiram fotos e tentam denegrir toda essa ação ali dentro. A verdade é que, ao contrário do que é dito, eu é que estou me sentido perseguida, atacada na minha honra de profissional, de cidadã e de mãe de família.
Estou oprimida. Há três noites que eu não durmo pensando e me perguntando o que fiz de mal para esta gente. Eu só quero é que parem com isso. Eu só quero é continuar o meu trabalho, porque aquele povo da Baixada precisa da gente. Aquilo hoje está funcionando bem e só não está melhor porque falta paz para trabalhar e fazermos melhor. Que eles façam o trabalho deles e deixem eu fazer o meu. É a única coisa que quero. Isso está me afetando emocionalmente até porque estão me ameaçando. Durante duas noites, eu recebi telefonemas, de números reservados – e quem trabalha nesta área de saúde tem que dormir com o telefone ligado e atender a todas ligações – eu recebia em que as pessoas diziam: é, você vai se fu* (palavrão impublicável). Riam e desligavam, me aterrorizando, às 3 horas da manhã. Eu estou passando um terror e só eu e minha família sabemos o terror que estamos passando.
ContilNet – Como é que a senhora recebeu aquelas manifestações que ocorreram, há duas semanas, lá na frente da Upa?
Michela Mônica Panier – Com toda sinceridade, eu escutei horrorizada um sindicalista pegar o microfone, sem ter conversado comigo, sem me conhecer, e dizer que queria minha cabeça numa bandeja. Quem é esta pessoa para dize isso? Eu nem o conheço. Ele nunca entrou a Unidade para conhecer nosso trabalho.
ContilNet – A senhora conversou com a secretária de saúde e com o governador do Estado, que foi quem a nomeou, sobre o que está acontecendo?
Michela Mônica Panier – Conversei na Secretaria e Saúde. Mandei documentos e registrei tudo. Passei para o para o meu diretor tudo documentado. Não conversei com o governador porque procuro, sempre, respeitar as hierarquias. Passei a situação para a secretária e estou esperando uma resposta da Secretaria e continuo trabalhando todos os dias, chegando ás 7 horas e saindo à noite.
ContilNet – A senhora vai continuar enfrentando isso?
Michela Mônica Panier – Vou. E vou sabe por que? Porque sei que não devo nada.
Eles já tentaram me denegrir de todas as formas, dizendo que não sou uma mãe de família decente – até isso eles falaram -, que sou má gestora, e não podem prova isso. Se fui colocada ali pelo governador do Estado e que me pediu apoio e meu conhecimento profissional, eu não vou me negar, vou ficar ali e vou enfrentar isso tudo porque eu não devo nada para essas pessoas, que não conhecem a minha índole, até porque eu nem sou daqui do Acre.
ContilNet – A propósito, a senhora é de onde?
Michela Mônica Panier – Eu sou do Paraná.
ContilNet – E como a senhora travou contato com o Acre?
Michela Mônica Panier – É uma longa história. Durante muitos anos, há muito tempo atrás, meu marido trabalhou muitos anos nas empresas com o senhor Eládio Cameli, pai do governador.
ContilNet – Como é o nome do seu marido?
Michela Mônica Panier – É Ronan Fonseca. Ele é diretor de operações do Deracre. Por isso, aliás, eles me acusam de usar o nome do governador. Se eu usasse o nome do governador, ele já estaria sabendo de tudo isso pelo qual venho passando.
ContilNet – A senhora acha também que é por causa desta sua ligação histórica coma família do governador que isso vem ocorrendo?
Michela Mônica Panier – Sim, não tenho dúvidas. Inclusive meus detratores me acusam de tudo o que vou resolver dentro da instituição eu ligo para o governador, o que não é verdade. Se o governador me deu a confiança de executar um trabalho, eu não tenho que ficar ligando para ele.
ContilNet – E agora, como a senhora vai ficar ao ter que enfrentar isso?
Michela Mônica Panier – Vou ficar tranquila, como sempre estive, fazendo o meu trabalho.
Quem tentar me prejudicar, prejudicar meu trabalho ou minha pessoa, vai ter que responder na Justiça e na polícia. Para isso existem leis e limites.