A primeira semifinal da Copa do Mundo no Catar é protagonizada por duas seleções cinematográficas. Ambas viraram roteiro de filme e mereceriam concorrer ao Oscar da Bola de melhor documentário se houvesse essa categoria no badalado Fifa The Best, a festa anual de gala da Fifa para distribuir premiações individuais e coletivas.
Renascida em 1991 depois da independência da extinta Iugoslávia, a Croácia é tema de um filme embargado por direitos de imagem da Fifa. Produzido pelos mexicanos Edson Ramírez, Alfredo Sánchez e Jorge Linares, a película Vatreni foi lançada antes da estreia da seleção na campanha do vice na Rússia, em 2018, mas pouquíssimo assistiram por restrições impostas pela entidade máxima do futebol.
A Argentina também é longa. Campeã continental em 2021, no Maracanã, a seleção virou a série Sejam Eternos: campeões da América. Hoje, às 16h (de Brasilia), no Estádio Icönio de Lusail, os dois países decidirão qual deles entrará em cartaz no próximo domingo na finalíssima contra França ou Marrocos.
Se quiserem, os técnicos Lionel Scaloni e Zlatko Dalic podem usar uma sessão de cinema com direito a pipoca para pilhar os artistas Lionel Messi e Luka Modric nas respectivas preleções antes da partida. No ano passado, a Argentina derrotou o Brasil por 1 x 0, no Maracanã, conquistou a Copa América e encerrou 28 anos de jejum. A esquadra principal não ganhava nada desde 1993 e saiu do Maracanã com o troféu graças ao gol de Ángel Di María.
O impacto da conquista foi imediata. A plataforma de streaming Netflix produziu uma série dividida em três episódios para contar a saga alviceleste no Brasil em uma competição sem torcida, portões fechados até a semifinal e acesso restrito na decisão, no Rio. Messi é o ator principal, óbvio, com espaço para os coadjuvantes Di María e Otamendi.
Embora seja a atual vice-campeã, a Croácia tem um filme sobre outra geração. O documentário Vatreni conta a história da seleção terceira colocada em 1998, na França. A trupe do centroavante Davor Suker tinha jogadores filhos da guerra separatista da Iugoslávia, como o craque Proscineck. A campanha heroica na Copa inspirou os mexicanos Edson Ramírez, Alfredo Sánchez e Jorge Linares a lançar Vatreni em 2018, antes da Copa da Rússia, quando o maior feito do futebol croata, até então, completava 20 anos.
O documentário foi apresentado pelos diretores ao treinador Zlatko Dalic antes do embarque da seleção croata para Moscou. Encantado, o diretor prometeu uma apresentação avant-première na concentração da equipe antes da estreia contra a Nigéria e inflamou o elenco. O filme mescla a guerra de independência do país e futebol. Foi o combustível para pilhar Modric e companhia contra todos os adversários, inclusive a Argentina, na segunda rodada, na vitória por 3 x 0.
“Tivemos a oportunidade de apresentar o documentário ao técnico da Croácia uma semana antes de viajarem para a concentração. Ele respondeu que o momento era maravilhoso para mostrar aos jogadores”, conta o produtor mexicano Edson Ramírez.
O nome Vatreni não é aleatório. Trata-se do apelido da seleção croata. “Vatreini é aquele fogo que há dentro de você, no seu corpo, e você precisa deixar sair, como uma paixão que faz de você quem você é. Quando a seleção começou a jogar de forma independente, o apelido virou símbolo de ferocidade”, explica o cineasta mexicano.
A produção é restrita por causa de usos de imagem de 1998 da Copa da Fifa. Há embargo pesado para exibição em qualquer plataforma. A liberação é condicionada à compra dos direitos. “Nós podemos pagar com recursos próprios para uma exibição, mas estamos à espera de ajuda para desembolsar pelos direitos para exibição internacional”, relatou o outro documentarista, Alfredo Sánchez. Em 2018, o direito por exibição custava US$ 15 mil.
Croácia reclama do cansaço; Argentina abafa polêmica
A final da Copa do Mundo só se repetiu em duas edições consecutivas uma vez. Alemanha e Argentina disputaram o título em 1986, no México, e em 1990, na Itália. O desafio da Croácia contra a Argentina é superar o cansaço de duas prorrogações com decisões por pênaltis contra Japão e Brasil, eliminar a Argentina e agendar revanche contra a França.
Na entrevista coletiva de ontem, no Qatar National Convention Centre, o técnico Zlatko Dalic admitiu: o elenco está com as pernas pesadas. “Se conseguirmos a vitória, será a maior partida de todos os tempos para a Croácia. Tem sido cansativo chegar à prorrogação”, admitiu. Na verdade, a seleção dele é masoquista.
No mata-mata de 2018, a Croácia eliminou Dinamarca, Rússia e Inglaterra nos pênaltis ou no tempo extra antes da decisão contra a França. O enredo segue o mesmo nesta edição. A resiliente seleção desbancou Japão e Brasil nos pênaltis depois de começar perdendo.
Os comandados de Lionel Scaloni também disputaram pênaltis nas quartas contra a Holanda. Ontem, Lionel Scaloni defendeu os pupilos das polêmicas do jogo passado. Os jogadores tripudiar da Laranja Mecânica depois do triunfo. “Nós sabemos ganhar e perder. Nós respeitamos a Holanda, respeitamos a Croácia, que sempre joga igual e não vai mudar agora. Não é nem ofensiva e nem defensiva: a Croácia joga bem. Esperamos um jogo muito complicado”, comentou o treinador.
Nada é tão complicado quando se tem quem desate nós táticos. O camisa 10 Lionel Messi é o cara da Argentina na Copa com quatro gols e duas assistências. Se fizer um gol, hoje, o jogador eleito sete vezes melhor do mundo deixará o recordista Gabriel Batistuta para trás e se isolar como maior goleador da Argentina na história da Copa. Além disso, alcançará o colega de Paris Saint-Germain Mbappé na artilharia e agitará a possível final entre eles.
Modric é o destruidor de sonhos. Exterminou o Japão nas oitavas de final e determinou o ritmo da partida contra o Brasil nas quartas de final. Aos 37 anos, engoliu o meio de campo comandado por Tite. O melhor do mundo em 2018 brilha sem ter feito gol nem assistência. Voluntarioso, joga nada para ele — e tudo pelos companheiros. “Temos o melhor meio de campo do mundo”, gabou-se o treinador depois da vitória contra o Brasil.