Caso Adriana: reveja Júri Popular que condenou Hitalo Marinho a 31 anos de prisão

O Júri Popular de Hitalo Marinho Gouveia, acusado de matar a esposa Adriana Paulichen em julho de 2021, teve três dias de duração e resultou na condenação do réu em 31 anos de prisão, em regime fechado.

ContilNet acompanhou todos os dias e fez a cobertura completa do júri. Acompanhe:

No Fórum Des. Lourival Marques de Oliveira, na Cidade da Justiça, o juiz Alesson Braz, da 2ª Vara do Tribunal do Júri e Auditoria Militar da Comarca de Rio Branco iniciou o júri na terça-feira (14).

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Foram ouvidas cinco pessoas, entre testemunhas e informantes, arroladas pelo Ministério Público do Acre (MPAC), por parte da acusação. Antes do início do júri, a irmã da vítima, Andreia Paulichen conversou com a imprensa e disse o que esperava do julgamento.

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Andréia foi a primeira pessoa a ser ouvida, na condição de informante e disse que soube da morte de Adriana através de uma live que um veículo de comunicação estava fazendo no momento.

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Após Andreia, a irmã Juliana foi ouvida, também na condição de informante. A amiga Auricélia também foi ouvida na terça-feira e falou que sempre via nas redes sociais que Hitalo mandava flores para Adriana.

Adriana foi morta pelo ex-marido após ela descobrir a traição com a melhor amiga/Foto: Reprodução

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A mãe de Adriana, Maria da Costa, também foi ouvida no primeiro dia e falou sobre as vezes que a filha chegava em casa chorando, contando das traições.

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Alexandre, ex-companheiro de Juliana e ex-cunhado de Adriana, também foi ouvido como última testemunha de acusação. Alexandre comentou sobre alguns episódios que esteve presente ao lado de Juliana.

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A ex-esposa de Hitalo, Bruna, foi a primeira testemunha de defesa ouvida na terça-feira. Bruna comentou sobre o relacionamento que teve com Hitalo, que durou mais de 10 anos. A ex-esposa contou que enquanto eram casados, o réu nunca levantou o tom de voz com ela.

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A irmã de Hitalo, Mariza Silva, foi a segunda pessoa da defesa ouvida nesta terça-feira (14). Mariza falou sobre as vezes que presenciou agressões sofridas pelo réu.

“Começaram a brigar quando ela engravidou, sempre pelo mesmo motivo. Nem eu poderia ficar no sofá assistindo filme com ele. Ela tinha ciúmes. Na gravidez as brigas começaram e ela começou a bater nele e jogar facas depois que ela pariu”, disse.

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A mãe do réu, Mara Marinho, também foi ouvida na terça-feira, e também falou sobre os episódios de brigas e agressões que presenciou. Além disso, Mara relatou que começou a escrever um diário que relatava o que acontecia com o casal.

Mara iniciou o depoimento informando que era muito amiga de Adriana, que a aconselhava. “Antes de ganhar o bebê, o relacionamento era tranquilo. Eu sinto muito pelo o que aconteceu, apesar das agressões que ela fez no meu filho. Eu falava para ela que se ele fizesse algo com ela, que ela me falasse, eu sou mãe dele e conversaria com ele”, disse.

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Um amigo de Hitalo que esteve presente no dia do crime também foi ouvido no primeiro dia de julgamento. Durante a oitiva, Jean contou o que aconteceu enquanto esteve no estabelecimento do casal.

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Após o amigo de Jean falar, a última testemunha foi ouvida na terça-feira. Era uma vizinha do casal que relatou ter ouvido algumas brigas. O primeiro dia foi encerrado às 20h e retomado no dia seguinte, com o interrogatório do réu.

Foto: ContilNet

Na quarta-feira (15), o segundo dia do Júri Popular começou com o interrogatório de Hitalo Marinho Gouveia, que falou ao juiz Alesson Braz que matou Adriana pois ela queria matar o filho do casal.

“O senhor matou a dona Adriana?”, perguntou juiz Alesson e, em seguida, Hitalo respondeu “Sim, senhor”. Foi questionado o porquê e o réu respondeu: “Adriana tentou matar meu filho”.

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O interrogatório do réu durou aproximadamente 4 horas na quarta-feira (15), o juiz fez perguntas, além da promotoria do Ministério Público do Acre (MPAC), a defesa, representada pelo advogado Sanderson Moura, também fez perguntas à Hitalo.

Durante o interrogatório, as perguntas foram desde a vida de Hitalo, como formação, filhos, nome dos pais, até o início do namoro com Adriana, a briga que antecedeu o crime e o dia dos fatos.

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Após o interrogatório do réu, a promotoria do MPAC iniciou o debate com a promotora Manuela Canuto, que indagou sobre quem seria o verdadeiro réu, visto que Adriana estaria sendo culpabilizada pela própria morte. Além disso, dra. Manuela apresentou dados sobre feminicídio no Brasil e principalmente no Acre.

Promotora Manuela Canuto/Foto: Reprodução

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O promotor Thalles Ferreira também usou o momento do MPAC para continuar falando sobre dados estatísticos de violência contra a mulher. O promotor também pontuou sobre um rapaz [Hitalo], que serviu o Exército não conseguiu conter uma mulher com 1,58m e 54kg. “Não conseguiu conter uma mulher de 54 quilos, precisou dar duas facadas e estrangular ela. Ele é tão mentiroso e dissimulado porque perguntei se tinha mexido no corpo dela e disse que não. Ele conhece tudo desse processo”, destacou. O promotor também chamou Hitalo de “narcisista e perverso”.

Promotor Thalles Ferreira/Foto: ContilNet

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Com o fim da fala do MPAC, o advogado de defesa Sanderson Moura, iniciou a defesa da tese no debate.

O advogado pede uma oportunidade para que o Hitalo possa se defender e pede espaço para expor a defesa. “Não vim aqui para bater em mesa, gritar. Vim para defender. Peço espaço para que eu exponha a defesa. Será que tudo que ouviram aqui é sobre uma defesa sem fundamento?”.

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O Júri Popular de Hitalo Marinho Gouveia se estendeu por mais um dia, visto que as partes usariam da réplica e tréplica. O juiz Alesson Braz decidiu que o Júri terminaria apenas no dia 16 de março.

Na quinta-feira (16), aconteceu a réplica e tréplica, realizada pela promotoria do MPAC e pela defesa, respectivamente. Após esse momento do debate, houve a votação e a leitura da sentença, feita pelo juiz Alesson Braz, na 2ª Vara do Tribunal do Júri e Auditoria Militar do Acre, no Fórum Criminal na Cidade da Justiça, em Rio Branco.

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A promotora Manuela Canuto iniciou dizendo que o réu aproveitou-se de um ato cometido em um cubículo, se referindo ao local do crime, “sem qualquer testemunha, apenas um bebê, e vem inventar mentiras”.

Manuela também questionou porque o réu matou. “O réu matou após Adriana descobrir a última traição, aquela traição que lhe doeu. Adriana foi traída com a melhor amiga”, disse.

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Após o fim da réplica, a defesa iniciou a tréplica com uma fala da advogada que compõe a defesa de Hitalo, dra. Larissa Leal, que começa falando que exige respeito por parte do Ministério Público, que nunca se sentiu tão desrespeitada como foi pela promotoria. A advogada também falou que não entrou no local do crime, que não mexeu no local do crime, que não ajudou Hitalo a inventar uma história, como teria sido apontado.

Sanderson Moura é advogado de Hitalo, acusado de matar a esposa em 2021/Foto: Reprodução

O advogado Sanderson usou o momento para refutar alguns argumentos utilizados pelo MPAC. A defesa diz que se Hitalo matou por asfixia teria que ter ficado marcas e rebate o fato de o MPAC estar desconsiderando o que diz o laudo. “É um crime que deixa vestígios. Vocês não podem condenar o réu a mais do que está provado”. O advogado leu o laudo cadavérico de Adriana, de forma detalhada.

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Com o fim da tréplica, o juiz solicitou a saída dos presentes para o início do julgamento e votação. Do lado de fora, a família de Adriana aguardava, unida, a leitura da sentença. Com o rosto de Adriana estampado em camisetas junto da frase “queremos justiça”, os familiares aguardam do lado de fora a fase final do julgamento que durou três dias, do crime que ocorreu em julho de 2021.

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Ao fazer a leitura da sentença, o juiz Alesson Braz usou o momento para fazer um alerta à população. Na mensagem, o magistrado disse que “em briga de marido e mulher tem que meter a colher”.

“Não é possível fazer muita coisa sem a ajuda da sociedade, então, briga de marido e mulher têm que meter a colher, tem que falar, pra evitar que esses casos terminem chegando aqui”, ressaltou Alesson Braz. Em seu discurso, ele também pediu que a imprensa reforçasse os canais de denúncia, mencionando-os para manter a população informada.

Juíz Alesson Braz, responsável pela condução do Júri Popular que condenou Hitalo pela morte da esposa/Foto: ContilNet

O juíz salientou que o número 180 é a Central de Atendimento a Mulher. A ligação é gratuita e a denúncia pode ser feita de modo anônimo. Além desse número, também é possível entrar em contato com o 190, acionando a Polícia Militar.

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Após a leitura da sentença, Hitalo Marinho, acusado de matar esposa, foi condenado a mais de 30 anos de prisão.

Após três dias intensos de Júri Popular na Cidade da Justiça, Hitalo Marinho Gouveia, acusado de matar a própria esposa, Adriana Paulichen, em julho de 2021, foi condenado a 31 anos de prisão em regime fechado por homicídio triplamente qualificado.

A irmã da vítima, presente durante todo o julgamento, se emociona e diz em entrevista que não acha que a pena seja suficiente. “Nada vai trazer ela de volta”, comentou.

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