Acre inaugura 1º ambulatório especializado no atendimento a pessoas transexuais e travestis

A representante do Ministério Público do Acre (MPAC), Rubby Rodrigues, disse que o ambulatório é um marco para a população LGBTQIAPN+ do estado

O Acre deu um passo importante na equidade do acesso à saúde da população LGBTQIAPN+ nesta quarta-feira (22), ao inaugurar o primeiro ambulatório especializado em atendimento a Travestis e Transexuais.

O espaço é o primeiro do Acre a atender especificamente pessoas trans/Foto: Juan Diaz/ContilNet

O centro foi montado no posto de saúde Ary Rodrigues, no bairro Seis de Agosto, em Rio Branco, e irá focar no atendimento de atenção primária. O ambulatório servirá como teste para outro local que deve ser inaugurado em 40 dias: mais um centro especializado na saúde desse público no posto Roney Meirelles, no bairro Adalberto Sena.

A iniciativa é uma parceria entre o Governo do Estado e a Prefeitura de Rio Branco. O ambulatório já era algo previsto em uma portaria publicada há 10 anos, mas que nunca tinha sido colocada em prática.

Secretária-adjunta de Saúde, Ana Cristina/Foto: Juan Diaz/ContilNet

A secretária-adjunta de Saúde do Estado, Ana Cristina, informou que os ambulatórios irão acolher a população transexual e travesti no primeiro atendimento, com o trabalho de enfermeiros e clínicos-gerais. Caso haja a necessidade de atendimento especializado, o pacientes serão encaminhados a Policlínica do Tucumã, que também está preparada para atender essa população.

“A gente está trabalhando o princípio que o SUS determina, que é a equidade. Nós precisamos dar acesso a essa população. Não é um acesso diferenciado. É simplesmente ter o reconhecimento. A gente abre essa espaço para que essa população seja acolhida”.

O centro foi montado no posto de saúde Ary Rodrigues, no bairro Seis de Agosto/Foto: Juan Diaz/ContilNet

A responsável pela pasta disse ainda que o ambulatório é uma ferramenta que vai acabar com um problema enfrentado há muito tempo pela saúde do Acre: a falta de dados relacionados à população trans e travesti.

“Nós não temos sequer dados epidemiológicos dessa população. Então, a gente precisa estratificar esses números, precisamos conhecer essa população”.

A representante do Ministério Público do Acre (MPAC), Rubby Rodrigues, disse que o ambulatório é um marco para a população LGBTQIAPN+ do estado.

Rubby Rodrigues, mulher trans e ativista, representou o MPAC no evento/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“As pessoas confundem muito quando nós falamos que nós existimos, com direitos. Na verdade nós estamos pedindo que o direito constitucional seja garantido. Esse espaço hoje sendo estabelecido, ele traz à tona as nossas vidas, que elas existem, importam, e precisam ser representadas”.

Amparo e acolhimento

O Brasil já vem liderando há anos um índice preocupante: é o país que mais mata pessoas transexuais e travestis no mundo. Rubby lembra que além de serem assassinadas, esse público também enfrenta outros problemas relacionados à Saúde, principalmente a psicológica.

“Nós temos estatísticas de várias pessoas trans que se mutilam, se suicidam, por conta da disforia de gênero, da falta de um acompanhamento psicológico, hormonal”, destacou.

Dezenas de pessoas participaram do evento/Foto: Juan Diaz/ContilNet

É justamente a precariedade no atendimento hormonal que Antonella Albuquerque, representante da ATTRAC, Associação das Travestis e Transexuais do Acre, disse ser a principal questão para a população.

“Muitas de nós procuram um atendimento público de Saúde e não somos respeitadas. Principalmente pela falta de profissionais para nos atender. Às vezes não têm endocrinologista para fazer uma terapia hormonal. Muitas de nós tomávamos o hormônio por conta. Uma ensinava a outra, passava o comprimido para a outra. Eu tenho 44 anos, quantos hormônios eu ingeri no meu corpo… Com o ambulatório, nós teremos um acompanhamento médico, com assistência social, psicólogo. Teremos um acolhimento. Isso é cidadania. E nós somos cidadãs”, completou.

Antonella Rodrigues, representante da ATTRAC/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Atendimento em casa

Caê precisou deixar o Acre para buscar esse tipo de atendimento especializado. Homem trans, ele morou um tempo em São Paulo para ter acesso à terapia hormonal. Agora, com o ambulatório em Rio Branco, ele pode ter acesso ao atendimento na sua cidade natal, sem precisar se deslocar.

Caê foi embora para São Paulo em busca de atendimento especializado/Foto: Juan Diaz/ContilNet

“É uma abertura para que as pessoas se sintam existentes. Ter um espaço para ser acolhido. Isso facilita para que a gente entenda que o nosso processo não é errado. A gente existe. E ter pessoas capacitadas que entendam isso é um passo importante”, disse.

“Agora sei que posso colocar meu nome social no SUS e ser atendido por ele. As pessoas não tem essa capacidade em lugar nenhum”, finalizou.

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