20 de abril de 2024

Fofoca entre crianças começa por volta dos 5 anos

“Vou te contar uma coisa, mas promete que não conta para ninguém?”

“Vou te contar uma coisa, mas promete que não conta para ninguém?”

Quantas vezes nós, adultos, fizemos pedidos desse tipo a nossos amigos e quantas vezes nós mesmos não quebramos a confiança de quem nos confidenciou o segredo? Uma pesquisa publicada no British Journal of Development Psychology revelou que essa capciosa troca de informações começa cedo entre as crianças, por volta dos 5 anos.

Os especialistas realizaram um experimento com algumas dezenas de crianças entre 3 e 5 anos. Elas tinham que brincar com dois bonecos, em um jogo de receber e dar moedas. Só que um dos bonecos sempre seguia as regras enquanto o outro tentava trapacear. Em um segundo momento, esses bonecos eram guardados e uma segunda criança entrava na sala. A partir dos comentários trocados entre as duas crianças é que os especialistas verificaram que algumas passavam adiante informações sobre a forma de agir dos bonecos. Ou seja: “fofocavam” sobre o seu comportamento.

Fofoca do bem

De acordo com os resultados, 54% dos participantes do estudo que tinham 5 anos alertaram a criança que chegou sobre a má conduta do boneco que não seguia as regras. Enquanto isso, apenas 23% dos participantes com 3 anos fizeram alguma colocação a respeito do comportamento deles. “Nessa faixa etária, dos 3 anos, as crianças ainda são muito egocêntricas, não percebem e não emitem opiniões sobre os outros”, explica a psicopedagoga Rosemary Sertório, Orientadora da Educação Infantil e Ensino Fundamental, do Colégio Rio Branco (SP). Para ela, o fato de que crianças de 5 anos já frequentam a escola contribui bastante para essa troca de informações sobre a vida alheia. Mas ela acredita que os pequenos não ajam dessa forma por maldade. “Crianças dessa idade já sabem discernir entre o certo e o errado. Elas partem disso e começam a fazer seu próprio juízo de valor. Elas já entendem, por exemplo, que não se pode bater no amigo. Se isso acontece, é comum que alguém saia correndo para contar para a professora”, completa.

Por isso, os especialistas não consideraram o comportamento negativo. Isso foi evidenciado na pesquisa: mesmo nos casos em que as crianças eram beneficiadas pela trapaça do boneco, elas ainda assim continuavam alertando o colega sobre a conduta indevida. Ou seja, o intuito não foi simplesmente maldizer, mas sim, alertar o outro sobre uma atitude não confiável e que poderia prejudicá-lo se ele resolvesse brincar com os bonecos.

Quando vira maledicência

Por volta dos 7 anos, as crianças começam a formar seu próprios grupos na escola. Falar sobre pessoas e comportamentos faz parte desse processo de socialização. Mas, quando um aluno ou um grupo passa a comentar sobre uma criança em específico em todo momento isso é um sinal de alerta: virou fofoca. Do mesmo modo, quando uma conta um segredo para outra e esta passa a informação para frente, a situação já se transformou em algo ruim. “Crianças se sentem muito invadidas quando são expostas”, comenta a psicopedagoga. Por isso, é importante deixar claro para o seu filho que uma informação não passa a ser dele só porque lhe foi confidenciado. O segredo continua sendo do amigo e isso não dá o direito de passar para frente.

Rosemary também faz um alerta aos pais que insistem para que as crianças lhes contem absolutamente tudo. “Fazendo isso, os pais não ensinam o respeito à individualidade”, explica. É claro que os filhos devem confiar nos pais e contar o que acontece com eles. Mas isso quer dizer aprender a ter responsabilidade e confiança para falar sobre seu próprio comportamento, e não ficar monitorando outras pessoas. Por isso, encorajar que uma criança conte o que a outra fez de errado, além de estimular a maledicência, tira a possibilidade de reconhecer os próprios erros.

Se você surpreender seu filho envolvido em algum tipo de boato, em vez de brigar, ou de agir de forma autoritária, proponha uma reflexão. Questione seu filho: “E se fosse o contrário, se os seus colegas estivessem falando mal de você, ia ser bom? Você ia gostar?”, “E se fosse você que tivesse contado um segredo para o seu amigo e todo mundo ficasse sabendo? Você não ia se sentir enganado?”.

Esses episódios, que fazem parte das dinâmicas sociais, podem ser uma boa oportunidade da criança fazer o exercício de se colocar no lugar do outro. E essa é uma lição preciosa para levar para a vida toda.

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