19 de abril de 2024

Atendimentos psiquiátricos crescem na pandemia; veja como cuidar da sua saúde mental

Uma pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria respondida por seus médicos associados mostrou um aumento, de março para novembro de 2020, de até 25% nos atendimentos psiquiátricos e de 82,9% no agravamento dos sintomas de seus pacientes.

Esse salto evidencia como a pandemia no Brasil não mexeu apenas com a rotina das pessoas, mas também com a saúde mental.

— Temos percebido que a pandemia não é apenas infecciosa, mas também é uma pandemia de saúde mental.

Com tantas fatalidades decorrentes da Covid-19, a população tende a estar em um estado de alerta constante, o que tem deflagrado sintomas ansiosos e depressivos em muitas pessoas.

Informar sobre saúde mental ajuda a lidar com a fragilidade emocional coletiva que o momento gera — afirma o psiquiatra Higor Caldato, sócio-fundador da Nutrindo Ideais.

O conceito de saúde mental está ligado à maneira como uma pessoa reage a desafios, mudanças e exigências da vida e, desta forma, como consegue equilibrar suas emoções.
Manter o equilíbrio emocional após mais de um ano de pandemia é fundamental para continuar passando por este momento da melhor maneira possível.

— Ter à mão dicas de como cuidar da saúde mental auxilia as pessoas agirem para prevenir possíveis doenças mentais, assim como ajuda na identificação de quando é o momento de pedir ajuda a um profissional da área.

É muito benéfico as pessoas saberem que cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física — avalia a psicóloga Alessandra Augusto.

Estar munido de informações sobre como cuidar da saúde mental ajuda também a melhorar a produtividade no trabalho.

— Toda e qualquer dica que tenha um olhar voltado para o trabalhador é sempre muito valiosa para que ele possa se sentir encorajado a tirar o pé do acelerador, respirar e voltar sem se sentir culpado — afirma Jorge Martins, especialista em RH e sócio da Bullseye Executive Search.

Para ajudar os leitores a equilibrar melhor seu lado emocional, O GLOBO elaborou dicas de como diminuir o impacto desta crise sanitária na saúde mental, sobretudo em relação ao trabalho.

O guia abaixo é uma iniciativa de utilidade pública realizada pelo GLOBO e apoiada por Amil.

  Foto: André Mello

  Foto: André Mello

O que é saúde mental?

A saúde mental está relacionada à forma como uma pessoa reage às exigências, desafios e mudanças da vida e, consequentemente, como equilibra suas ideias e emoções.

Viver é ter experiências boas e ruins, portanto podemos definir que uma boa saúde mental contempla, entre outros pontos, a habilidade de manter bem-estar e harmonia mesmo em momentos de adversidades, conflitos e diante das próprias deficiências.

  Foto: André Mello

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A importância de manter o equilíbrio mental na pandemia

Após mais de um ano de pandemia, a saúde mental e o equilíbrio viraram fatores essenciais para a qualidade de vida.

Mesmo com a esperança trazida pelas vacinas contra a Covid-19, saiba que é normal sentir-se mentalmente cansado, assim como ter momentos de tristeza e desânimo.

Assim, devemos pensar na nossa saúde mental como a metáfora de um equilibrista: em algum ponto, você vai desequilibrar, mas logo retornará ao equilíbrio e continuará seguindo em frente.

  Foto: André Mello

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Como reduzir o estresse mental se trabalhando presencialmente

Proteja-se ao máximo com as medidas já conhecidas, como uso de máscara de boa qualidade (como as PFF2 ou N95), higiene constante das mãos, evitando levá-las aos olhos, boca e nariz, e fuja de aglomerações.

No trabalho, se puder, procure um ambiente arejado e de preferência a 1,5m de distância dos demais.

Para aliviar o estresse: evite o excesso de informação, principalmente de fontes não confiáveis, e aproxime-se virtualmente de pessoas positivas, que sejam suas referências e que lhe façam bem.

Ao fim do dia, relembre coisas boas e agradeça por elas: a gratidão tem um grande impacto positivo na redução do estresse.

  Foto: André Mello

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Como reduzir o estresse mental se trabalhando em home office

Muitas vezes, a falta de um ambiente adequado para o trabalho em casa gera estresse. Organizar a rotina é fundamental: trabalhe na hora de trabalhar, descanse na hora de descansar.

Monte uma rotina diária e se esforce para segui-la. Anote o que precisa ser feito dentro do expediente e estabeleça prioridades.

Na medida do possível, faça as coisas mais importantes primeiro, pois, ao longo do dia, a energia vai diminuindo.

Evite fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo, pois isso cansa o cérebro mais rapidamente. A cada duas/três horas, faça pequenas pausas de cinco minutos.

  Foto: André Mello

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Saiba como montar um local de trabalho mais produtivo

Um ambiente de trabalho adequado melhora muito o bem-estar emocional, o que impacta positivamente na produtividade.

Prefira ambientes mais silenciosos, com iluminação natural e boa circulação de ar.

Deixe a mesa e o espaço à sua volta bem organizados — o cérebro precisa fazer um esforço maior para raciocinar em ambientes bagunçados.

Se você trabalha sentado com computador, vale investir em uma cadeira confortável e, de preferência, giratória e com regulagem de altura, facilitando os movimentos e acomodação.

Mantenha o monitor na altura dos olhos e o teclado um pouco abaixo da altura dos cotovelos.

  Foto: André Mello
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A importância do contato com os colegas de trabalho (mesmo à distância)

O trabalho não está relacionado somente às atividades laborais, mas também à manutenção das relações sociais de uma pessoa.

Por isso, é importante manter o contato com colegas de trabalho, mesmo com a dinâmica do home office, pois ajuda a minimizar o peso do distanciamento social.

Aproveite as reuniões virtuais para ver o rosto e ouvir a voz dos seus colegas. Isto traz uma sensação maior de proximidade.

  Foto: André Mello

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Como estabelecer uma rotina menos estressante para você

Corpo e mente gostam de rotina. Saber exatamente o que precisa ser feito e quando diminui o estresse.

Alguns pontos são fundamentais: sono de qualidade; a prática de atividade física pelo menos três vezes por semana (procure profissionais de educação física ou treinos virtuais); uma alimentação saudável; um momento de lazer e relaxamento (que tal meditação?); e atividades “offline”.

Mantenha contato virtual com pessoas amadas e separe um tempo para seu/sua companheiro(a) e filhos.

Divida os afazeres domésticos pelos dias da semana e distribua tarefas entre membros da casa.

Evite álcool e drogas lícitas ou ilícitas, pois seus efeitos geram uma sobrecarga no corpo e na mente, além do risco do vício.

  Foto: André Mello

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Como criar uma rotina menos estressante para as crianças

As crianças também estão estressadas com as mudanças provocadas pela pandemia. Para ajudar a reduzir a tensão, elas também precisam de uma rotina.

É importante estabelecer horários para acordar, dormir, comer, estudar, divertir-se e passar tempo com os pais.

O cronograma deve ser feito em comum acordo com a criança/adolescente para que o seu cumprimento seja harmônico.

As crianças também precisam de um ambiente adequado para estudar em casa. O ideal é que os adultos se revezem no cuidado das crianças pequenas.

Incentive atividades divertidas e silenciosas enquanto os pais trabalham, como desenho, pintura, massinha, colagem etc.

  Foto: André Mello
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A importância do sono

Já percebeu que um celular fica com as funções limitadas quando está com pouca bateria?

O mesmo acontece com o seu corpo! Um adulto precisa dormir, em média, de 7 a 8 horas diárias para recarregar as energias.

Dormir bem faz você ficar mais atento às situações do dia a dia e ajuda a raciocinar melhor.

Uma noite ruim de sono deixa você mal humorado, menos empático, mais suscetível ao estresse e à irritabilidade, além de diminuir seu autocontrole.

Para dormir bem, pratique atividades físicas no dia, faça a última refeição pelo menos duas horas antes de se deitar, tome um banho morno, desconecte-se de telas uma hora antes de ir pra cama e durma em um ambiente escuro, silencioso e fresco.

  Foto: André Mello

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Entenda como a natureza pode ajudar

Uma plantinha em cima da mesa de trabalho não é um mero item de decoração. As cores, a textura e o cheiro das plantas nos ajudam a relaxar.

Além disso, cuidar delas é um ótimo recurso terapêutico. Se você não pode passar o período de isolamento no “meio do mato”, traga o ambiente verde para dentro da sua casa.

Se não tiver muita prática com as plantas, comece com cactos e suculentas, que demandam menos cuidados.

Mas, se por algum motivo você não puder ter plantas em casa, vale investir em um papel de parede com estampa de folhagem ou trocar o descanso de tela/imagem de fundo do computador ou celular para uma foto de natureza.

  Foto: André Mello

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Saiba identificar os sinais de que algo não vai bem

Pequenas alterações em nossa rotina e comportamento já podem acender o sinal de alerta para o adoecimento mental.

Por exemplo, mudanças na rotina de sono e alimentação, para mais ou para menos, aumento da irritabilidade, falta de concentração e perda de interesse nas atividades antes consideradas prazerosas já podem indicar que algo não vai bem com a saúde mental.

Se o sentimento de tristeza ou o desânimo estão influenciando negativamente o seu trabalho ou seus relacionamentos, é preciso pedir ajuda.

  Foto: André Mello

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A importância de procurar ajuda

Procurar ajuda psiquiátrica e psicológica logo ao perceber as primeiras alterações é fundamental, pois quanto mais cedo se começa o tratamento, melhor é o prognóstico.

A demora em buscar atendimento pode significar a piora de quadros que antes seriam tratados de forma mais simples, aumentando a complexidade do acompanhamento médico/psicológico.

As doenças psiquiátricas possuem manifestações de leves a graves, e a intervenção precoce pode impedir o avanço dos sintomas e, consequentemente, a perda da qualidade de vida daquela pessoa. Procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem.

  Foto: André Mello

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Onde procurar ajuda sem pesar no bolso

A maioria dos cursos de graduação em psicologia de universidades públicas e privadas oferecem atendimento gratuito ou a preço popular, assim como há ONGs e outras instituições que também ofertam esse tipo de serviço a preços acessíveis.

Veja alguns:

SPA Estácio

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade Estácio de Sá oferece atendimento gratuito realizado por alunos e professores de vários campi espalhados pelo Brasil. A marcação deve ser feita pelo e-mail do campus mais próximo de você, veja aqui algumas unidades.

SPA Uniabeu

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Uniabeu também oferece atendimento gratuito. Para se cadastrar e agendar uma consulta, ligue (21) 2104-0450 e peça para transferir para o 247.

SPA UVA

O Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) da Universidade Veiga de Almeida oferece consultas a preços populares, que variam de R$ 2 a R$ 50. Para receber atendimento da unidade Tijuca, basta mandar um e-mail para [email protected].

PUC-Rio

A Clínica de Psicologia oferece atendimentos em várias abordagens com valor social de R$ 1 a R$ 50, que varia de acordo com a renda do paciente. O contato é pelo WhatsApp: (21) 99328-2539.

Terapia pra todos

O projeto conecta pessoas que precisam de psicoterapia e profissionais que atendem com valor social. Inscrições no site www.terapiapratds.com.

  Foto: André Mello

  Foto: André Mello

Não fique calado (como enfrentar o tabu)

Enquanto um assunto é mantido em segredo por causa de vergonha ou medo, ele continua sendo um tabu.

Por isso, é importante que as pessoas que tenham sido diagnosticadas com algum transtorno mental conversem sobre o tema com pessoas de sua confiança.

Externar seus sentimentos ajuda as pessoas em volta a entenderem melhor o seu quadro, e isso gera empatia.

Cada vez mais, doenças como a depressão estão perdendo o estigma e sendo mais bem compreendidas pela sociedade.

As empresas têm um papel muito importante no enfrentamento à psicofobia, que é o preconceito contra os portadores de transtornos mentais.
É essencial que empregadores invistam em iniciativas em prol da saúde mental de seus colaboradores para combater o preconceito com funcionários que apresentam quadro psiquiátrico.

Fontes: Antônio Geraldo da Silva, presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, e Dulce Pereira de Brito, coordenadora médica de Saúde Populacional do Einstein.

Reportagem: Evelin Azevedo. Ilustrações: André Mello. Diagramação: Pablo Tavares. Edição: Flavia Martin.

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