Formada em medicina pela Universidade Federal do Acre (Ufac), a psiquiatra Caroline Perpétuo Formiga Pires é a mais nova diretora do Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac). Sua nomeação saiu na edição do Diário Oficial do Estado desta quinta-feira (22).
Caroline foi escolhida pelo governador Gladson Cameli para assumir o cargo após o ex-gestor Halisson Lima ter sido afastado por conta de denúncias envolvendo supostas práticas de assédio moral e sexual contra servidoras da unidade. As acusações já estão em processo de investigação.
Em entrevista exclusiva ao ContilNet, a nova diretora explicou que recebeu a missão com muita satisfação e reconhece os inúmeros desafios que fazem parte do trabalho de gerenciar uma unidade de saúde tão complexa como o Hosmac.
A médica atua há 11 anos no local, realizando atendimentos laboratoriais e de emergência.
“Depositaram em mim essa confiança e me sinto muito satisfeita por isso. Sei que os desafios são inúmeros. Escutei por muitas vezes os meus colegas dizendo que eu seria a pessoa ideal para esse cargo, depois de toda polêmica que foi levantada, mas segui fazendo o meu trabalho. Quando recebi o convite, aceitei e decidi oferecer o melhor de mim”, destacou a especialista.
Denúncias sobre a gestão passada
Quando questionada sobre qual seria o impacto das denúncias envolvendo o antigo gestor na atual administração, Caroline argumentou que defende a investigação do caso na justiça.
“Eu sempre tive uma relação muito tranquila e respeitosa com o Halisson [ex-gestor], mas temos que defender a investigação das denúncias que foram levantadas. Eu acolho essas mulheres e defendo que nada relacionado à invasão e assédio deve ser admitido. A justiça deve seguir fazendo o seu papel nesse sentido”, destacou.
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“Sobre minha gestão e os impactos que essa situação tem nela, quero contribuir para a criação de um espaço que tenha diálogo, abertura para que os servidores e usuários compartilhem suas insatisfações, etc.”, continuou.
Acusações de maus-tratos com pacientes
Foram noticiados em diversos veículos de comunicação do Estado várias denúncias de maus-tratos por parte de servidores no atendimento da população dentro do hospital. Pires salientou que as situações precisam ser consideradas e avaliadas com bom senso.
Boa parte das acusações tem a ver com a contenção de pacientes que estão em um quadro clínico agravado, de acordo com Caroline.
“É claro que precisamos considerar toda e qualquer reclamação, mas precisamos analisar com muito bom senso porque a maioria das denúncias vinculadas na mídia tem a ver com o processo de contenção física ou química do paciente. Isso demanda força da equipe e algumas intervenções que são feitas estão previstas nos nossos códigos de ética. O que não é possível tolerar e não fazemos é agressão. E acontece muitas vezes de o profissional ser agredido, mas isso não é noticiado”, comentou.
“Desmistificar a psiquiatria e reforçar a farmácia são dois dos meus principais objetivos”
O Hosmac, que atende, mensalmente, mais de 2 mil pessoas, já passou por algumas situações críticas envolvendo, por exemplo, a falta de medicações na farmácia da própria unidade. O problema, de acordo com a gestora, afeta toda o sistema.
“Se falta medicação para os nossos usuários isso impacta diretamente o funcionamento dos ambulatórios, porque as pessoas vão entrar em crise e precisar de atendimento de emergência, o que faz com que os nossos leitos fiquem lotados. Por isso é tão importante cuidar do que está na ponta de todo o sistema. Esse é um dos meus principais objetivos: não permitir que a farmácia fique sem a medicação que o usuário precisa. Os fármacos são caros e a esmagadora maioria da população que depende deles não tem como comprar”, informou.
Outro grande desafio enfrentado está relacionado ao pouco ou nenhum conhecimento dos serviços que são ofertados pelo hospital e qual a sua importância. A diretora almeja trabalhar, de forma didática e educativa, na “desmistificação da psiquiatria”.
“Muitas pessoas acreditam que o Hosmac é um hospital voltado apenas para as pessoas que estão em surto ou em quadros clínicos severos – o que não é verdade. Também atendemos pacientes com depressão, ansiedade e outras questões. Precisamos desmistificar a psiquiatria e aproximar os serviços oferecidos aqui à nossa população de uma forma educativa, didática e respeitosa”, finalizou.