Um dos policias que balearam enfermeira no Acre já respondeu processo por morte de outro jovem

MPAC já abriu investigação para apurar o caso. A defesa da família de Géssica aponta inconsistência sobre a participação da PRF na ação

A morte da enfermeira Géssica Melo, assassinada no ultimo dia 2 de dezembro durante uma perseguição policial na BR-317, em Capixaba, segue ganhando novos passos.

Nesta sexta-feira (8), o ContilNet teve acesso a documentos que mostraram que um dos policiais do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), sargento Cleonizo Marques Vilas Boas, já respondeu processo pela morte de outro jovem durante um confronto policial. Ele segue preso com outro agente acusado de ter disparado contra a enfermeira.

Cleonizo foi denunciado em 2020 por homicídio contra o adolescente Álvaro Santana, em Brasiléia, também no interior do Acre. A Justiça arquivou o processo por falta de provas suficientes.

Policial faz parte do Grupo Especial de Fronteira (Gefron)/Reprodução-Ilustrativa

Na época, a polícia declarou que o jovem fazia pichações, brigava pela tomada de território, fazia ameaças e disparos de arma de fogo.

MP no caso

O Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), por intermédio do promotor de Justiça Vanderlei Batista Cerqueira, instaurou, de ofício, um procedimento investigatório criminal para apurar possível crime de homicídio doloso praticado, em tese, por policiais militares.

A investigação do MPAC ocorre independentemente da apuração anunciada pela Corregedoria da Polícia Militar do Acre e pela Polícia Civil. Nas diligências iniciais, o promotor de Justiça solicitou que sejam enviadas com urgência cópias do auto de prisão em flagrante, do inquérito policial e do boletim de ocorrência.

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“Ao instaurar o procedimento investigatório criminal, que deve durar inicialmente 90 dias, o MPAC tem o objetivo de elucidar os fatos e apurar responsabilidades”, destacou.

Defesa aponta contradições

De acordo com o relato policial, a motorista do veículo, posteriormente identificada como Géssica Melo de Oliveira, teria realizado manobras perigosas, colocando em risco a vida de terceiros. Durante a perseguição, Géssica teria sido avistada portando uma arma de fogo, momento em que os policiais efetuaram cinco disparos em direção ao veículo. Após cerca de 2 km, o carro perdeu o controle, saiu da pista, colidiu em uma cerca e adentrou uma distância de aproximadamente 100 metros em meio às pastagens.

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Ao se aproximarem do veículo, os policiais encontraram Géssica Melo de Oliveira com um ferimento na região do abdomem. As equipes acionaram uma ambulância do SAMU, enquanto a PRF isolava o local. Géssica foi retirada do veículo, colocada em uma viatura policial e conduzida com urgência para atendimento médico. Infelizmente, após alguns minutos, a equipe médica informou o óbito da enfermeira.

O que diz a defesa

O adovgado da família de Géssica questionou o fato da Polícia Rodoviária Federal, mesmo participando da perseguição – segundo o Gefron -, não ter aparecido no Boletim de Ocorrência.

“O que nos causa estranheza é: o próprio Gefron diz que a Polícia Rodoviária Federal participou do acompanhamento, o acompanhamento que eles dizem é a perseguição ao veículo. Por que que a Polícia Rodoviária Federal não consta no Boletim de Ocorrência? Porque eles não apareceram na ocorrência nem como testemunhas? Não sou eu que estou dizendo, está no Boletim de Ocorrência do Gefron. Os policiais envolvidos alegam que a PRF estava lá. Então, diante dessa informação, eu vou solicitar ao Ministério Público que investigue para saber qual a responsabilidade e qual participação da Polícia Rodoviária Federal neste caso”, disse.

A defesa declarou ainda que será provado que a arma de fogo encontrado no local não era da enfermeira. “Ela nunca portou uma ama. Ela era contra o armamento”. O advogado questionou ainda a arma foi encontrada nas redondezas que estava o veículo. “O que a defesa quer, o que a família quer neste momento, é justiça em nome da senhora Géssica, que deixou órfãs três crianças. Então, é absurdo a Polícia Militar venha dizer que houve legítima, que a vida deles estavam em risco. A gente entende que eles mataram mesmo por maldade e agora querem trazer uma arma de fogo que foi encontrada na redondeza. A arma de fogo não foi encontrada dentro do carro dela. Se a arma era dela, e eles atingiram ela dentro do veículo, por que que a arma foi encontrada nas redondezas? Então, eles alegam que ela atirou contra eles. Talvez. Não sei. Vai ficar provado através do exame de balística que ela não atirou em policial e não estava com essa arma”.

Por fim, a defesa volta a citar a participação dos policiais rodoviários federais na ocorrência. “Vamos investigar a conduta dos policiais rodoviários federais que estavam na ocorrência, e está provado que eles estavam. O Gefron mesmo diz”.

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