27 de abril de 2024

Israel se recusa a abrir exposição na Bienal enquanto não houver cessar-fogo em Gaza

Ruth Patir, representante de Israel no evento, diz que não abrirá seu show no pavilhão nacional até que Israel e o Hamas cheguem a 'um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns'

A representante de Israel na Bienal de Veneza anunciou nesta terça-feira que não vai abrir sua exposição enquanto não houver um cessar-fogo em Gaza e a libertação dos reféns sequestrados no ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Ruth Patir levou para Bienal de Veneza a videoinstalação “(M)otherland”, que terá apenas uma parte vista pelo público de fora do pavilhão.

Parte da obra de Ruth Patir que poderá ser vista no pavilhão de Israel na Bienal de Veneza — Foto: Reprodução

O evento abre para o público no próximo sábado, mas a artista israelense anunciou seu boicote um dia antes da prévia para a imprensa. Um cartaz na entrada do pavilhão informa a decisão: “O artista e os curadores do pavilhão israelense abrirão a exposição quando houver um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns”. Patir também explicou sua decisão em um post nas redes sociais.

“Sinto que o tempo para a arte se perdeu e preciso acreditar que ele vai voltar”, escreveu ela em post no Instagram. “Nós (Tamar, Mira e eu) nos tornamos notícia, não arte. Então, se eu recebo um palco tão marcante, preciso fazer valer a pena. Portanto, decidi que o pavilhão só vai abrir quando houver a libertação dos reféns e o cessar-fogo. Essa é a nossa decisão. Sou uma artista e uma educadora, me oponho firmemente a boicotes culturais, mas acredito que não há resposta correta, e não posso fazer muito mais com o espaço que tenho aqui, prefiro levantar a minha voz ao lado daqueles que apoio em seu grito. Cessar-fogo já, tragam as pessoas de volta de seu cativeiro. Não aguentamos mais.”

Tamar e Mira são as curadoras, Tamar Margalit e Mira Lapidot. Milhares de artistas, arquitetos e curadores assinaram no início do ano uma petição pedindo que a participação de Israel fosse proibida pelas ações militares em Gaza. O pedido foi ignorado pela organização do evento e considerado vergonhoso pelo ministro da cultura da Itália, Gennaro Sangiuliano.

“Israel não apenas tem o direito de expressar sua arte, mas tem o dever de testemunhar seu povo precisamente em um momento como este, quando foi brutalmente atingido por terroristas impiedosos”, disse Sangiuliano à época. “A Bienal de Arte de Veneza será sempre um espaço de liberdade, encontro e diálogo e não um espaço de censura e intolerância.”

— Odeio isso, mas acho importante — disse a artista em entrevista ao “!New York Times”. Patir reconhece que a Bienal representa uma grande oportunidade para uma jovem artista como ela, mas alega que a situação em Gaza é “muito maior do que eu”, e afirma que fechar o pavilhão era a única ação que poderia tomar.

Ausências

Durante os quase 130 anos de história da Bienal de Veneza, países enfrentando turbulência política ocasionalmente estiveram ausentes. A África do Sul foi banida durante o boicote cultural por parte da era do apartheid. E o pavilhão imponente da Rússia foi fechado desde sua invasão à Ucrânia.

Em 2022, Kirill Savchenkov e Alexandra Sukhareva, os dois artistas programados para representar a Rússia na Bienal daquele ano, retiraram-se do evento, dizendo que não havia “lugar para arte quando civis estão morrendo sob o fogo de mísseis”. A Bienal anunciou posteriormente que “não aceitaria a presença” de qualquer pessoa com vínculos com o governo russo no evento daquele ano.

Em seu comunicado na quarta-feira, a Bienal enfatizou que foi o governo da Rússia que anunciou “que não participaria” do evento deste ano. A carta aberta pedindo a exclusão de Israel foi publicada na segunda-feira pelo Art Not Genocide Alliance, um grupo ativista. A carta, que citava “atrocidades contínuas contra os palestinos em Gaza” e não mencionava os ataques iniciais do Hamas de 7 de outubro, dizia que “qualquer representação oficial de Israel no palco cultural internacional é um endosso de suas políticas”.

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