Hoje, dia 15, completa 134 anos, no plano espiritual, o fundador da Doutrina do Daime, Mestre Irineu Serra. Comunidades tradicionais o homenageiam com o cântico do hinário: o Cruzeiro Universal, que relata a sua história e os significados da escola espiritual difundida.
Em memória, todos vestem a farda oficial de sua doutrina, tomam o Daime e, perfilados perante o Cruzeiro, rezam, cantam, dão vivas e bailam na presença de entidades espirituais supremas que assistem ao trabalho. O hinário é um dos ritos que Irineu Serra implantou em 1935, com orientações da Rainha da Floresta em louvor a Jesus Cristo Redentor, a Virgem Maria e ao Divino Pai Eterno.
A crença de que Deus é um só Deus em três pessoas: o Pai, o Filho (Jesus) e o Espírito Santo é um dos maiores ensinamentos pregados por Irineu Serra. Segundo a sua Doutrina, estamos na terra por um mandamento de Deus, “sou filho da Virgem Mãe, lá no céu, Jesus Cristo Redentor”, revela.
A conduta das três pessoas da Santíssima Trindade é o que Mestre Irineu prega como “memória divina”. Ele nos convida a sermos filhos do Deus e irmãos de Jesus Cristo.
A vida e trajetória de Raimundo Irineu Serra é caracterizada pela publicação do amor eterno. O conhecimento do poder e a santa luz de Deus verdadeiro. Esta luz é irradiada pelo Daime que ele conheceu com os índios na década de 1930 quando largou as tradições de sua terra natal, São Vicente de Ferret, no Maranhão e se embrenhou na selva amazônica peruana. De ayahuasca para o Daime, Irineu Serra recodifica o aprendizado milenar oriundo dos Incas, ensinando que o poder é da floresta “para Deus amar”.
Em oito décadas o mestre registra uma caminhada filosófica ao encontro do que é sagrado, respondendo aos chamados divinos. Elege a floresta como o canal de comunicação com o plano astral e chama para essa sintonia: o sol, a lua, as estrelas, a terra, o vento, o mar, a luz do firmamento. “É só quem eu devo amar”, nos ensina.
“No poder de Deus verdadeiro é preciso nós ter amor”, acrescenta o grande filósofo, “nas estrelas do firmamento e em tudo que Deus criou”, complementa.
Estamos diante de uma vocação pedagógica espiritual para transmissão do saber codificado pela natureza, literatura primária do que é sagrado. A floresta sendo o centro da educação. Daí a importância atualmente de se transmitir este saber ao mundo.
Este ser que nasceu a 15 de dezembro de 1890 e que está diante de nós em forma de brilhantes pedras finas, de luz, primores e conhecimentos, trouxe como pedra filosofal, como prisma perfeito, uma cosmologia e uma cosmogonia digna de serem estudadas.
Desde ontem, dia 14, que seu sepulcro, localizado no Alto Santo, em Rio Branco, recebe visitas de fiéis, adeptos e admiradores de vários estados brasileiros e do exterior. Pesquisadores e antropólogos manifestam o interesse pelo estudo dos efeitos da utilização do Daime em contextos ritualísticos. Nos Estados Unidos, grupos que cultuam a bebida sagrada, aprendem a falar português para cantar o hinário o Cruzeiro na versão original.
Perfilados nesse batalhão como solados de Maria, vivemos a expansão plenária do “Eu Sou” Raimundo Irineu Serra. O grande desafio é o de manutenção da memória divina por ele ensinada, o Mestre Irineu como ciência e o Daime como via autêntica para o aperfeiçoamento do caráter humano e a salvação espiritual.
“Aqui findei, faço a minha narração, para sempre se lembrarem, do velho Juramidam”. Pede o Mestre Irineu.
Jairo Carioca é escritor, autor do livro: Vovô Irineu, todos vão se recordar e começar do abc”.