nvestigação conduzida pela Polícia Federal (PF) revelou que integrantes do esquema criminoso descoberto pela Operação Overclean têm influência dentro da Prefeitura de Maricá, no Rio de Janeiro. Conversas captadas pela PF mostram que uma pessoa teria facilitado o acesso do grupo liderado pelos empresários Alex e Fábio Parente à administração municipal, especialmente por meio de sua proximidade com o vice-prefeito Joãozinho do PT, eleito ao lado do prefeito Washington Quaquá (PT), defensor de um dos réus envolvidos na morte da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.
O diálogo, interceptado em 28 de agosto de 2024, envolve Alex Rezende Parente e um interlocutor identificado apenas como Tiago. A conversa revela o modus operandi do grupo criminoso, que incluía a cooptação de agentes públicos e a utilização de favores para obter acesso privilegiado a administrações municipais, como a de Maricá.
Na ocasião, Tiago questiona Alex sobre a entrega de ingressos a uma mulher não identificada, que seria intermediária para estabelecer conexões com a prefeitura. Tiago destaca que essa mulher teria influência na administração local por meio de sua proximidade com o vice-prefeito Joãozinho do PT. Segundo Tiago, a mulher também era ligada ao ex-deputado federal André Moura.
O diálogo sugere que a entrega dos ingressos fazia parte de uma estratégia para consolidar o acesso ao poder municipal. Tiago menciona que a mulher estava “nos bastidores”, mas ainda atuava para facilitar a execução de contratos fraudulentos. Além disso, ele destaca que o vice-prefeito, Joãozinho do PT, era quem realmente exercia influência sobre as decisões da prefeitura, mesmo com Quaquá no cargo de prefeito.
Confira um trecho da conversa:
Tiago: Se liga. Você vai estar com a moça, lá? Vai conseguir o ingresso dela?
Alex: Vou, pô. Já está tudo lá.
Tiago: Tá. Ela vai buscar, né?
Alex: Sim, mas não vou entregar em Alphaville. Ela vai pegar na empresa.
Tiago: Beleza. Vou mandar ela ir na empresa. Deixa eu só te explicar: ela está dizendo que tem que ser de tal jeito porque é indicação do André Moura.
Alex: Sei quem é.
Tiago: Ela disse que está “fora”, mas ainda está “dentro”. Ela ficou cuidando de alguns processos. Agora quem tem a caneta é o João, o vice do Quá Quá.
Alex: Entendi.
Tiago: Vou te mandar toda a conversa para você entender. Ela disse que João é quem decide, e que está combinada com ele.
Marielle Franco
Nessa sexta-feira (10/11), o prefeito de Maricá, Washington Quaquá, gerou controvérsia ao publicar em suas redes sociais uma mensagem de apoio a Domingos Brazão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, em 2018. Na publicação, Quaquá criticou a Justiça e a prisão de Brazão, alegando que não há provas concretas contra ele e classificando a detenção como injusta.
Na postagem, Quaquá se solidarizou com a esposa e os filhos de Brazão, referindo-se à prisão como “desumana” e criticando a delação premiada de Ronnie Lessa, réu confesso do assassinato. Ele afirmou que a delação foi manipulada para beneficiar o delator, enquanto os Brazão “apodrecem numa cadeia”. Quaquá escreveu:
“Eu não vou assistir à dor desta família que vê dois entes queridos apodrecerem numa cadeia desumana, enquanto os assassinos confessos armam uma delação para reduzir a pena e viver numa boa, numa cadeia boutique. Eu quero afirmar o que já afirmei diversas vezes, porque não só conheço Domingos e Chiquinho Brazão, mas, além disso, li todo o processo e não há sequer uma prova prova contra eles!”
Quaquá também destacou que não se deixaria intimidar pelo que chamou de “condenação midiática” contra Brazão e que não trocaria “a verdade por medo de prejuízos de imagem”.
Recebi aqui com muita dor no coração, mas muita consideração e solidariedade, a esposa e os filhos de Domingos Brazão. pic.twitter.com/vde0JUFXSq
— Washington Quaqua Oficial (@Quaqua13_) January 9, 2025
Operação Overclean
Deflagrada em dezembro do ano passado, a Operação Overclean desvendou um esquema milionário de corrupção envolvendo fraudes em licitações e desvio de recursos públicos por meio de contratos superfaturados. O grupo criminoso centralizava suas operações no Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e utilizava empresas fantasmas para justificar pagamentos ilícitos e lavar dinheiro. Entre os principais responsáveis estavam Alex Rezende Parente, que coordenava o esquema, e seu irmão Fábio Parente, encarregado das operações financeiras.
José Marcos de Moura, também conhecido como Rei do Lixo, articulava politicamente para expandir a rede de influência, enquanto Lucas Maciel Lobão Vieira gerenciava obras e contratos, principalmente no Dnocs, por meio da empresa Allpha Pavimentações.