Ao receber apoio formal da executiva estadual do PRD (Partido Renovação Democrática) no Acre, à sua pré-candidatura ao Governo do Estado, a vice-governadora, Mailza Assis (Progressistas), disse estar preparada para a missão de receber novas adesões e liderar as forças políticas que a acompanham para uma nova vitória em 2026. Embora pouco conhecido no país, o PRD é o terceiro maior partido do Brasil em número de filiados, com 1,3 milhão de pessoas que fazem parte da mais nova sigla brasileira, resultante da fusão do antigo PTB e do Patriota.
A sigla tem pelo menos quatro deputados federais e está se preparando para receber mais cinco, entre eles o ex-dirigente do PSL e do União Brasil, Luciano Bivar.

Mailza Assis recebe o apoio formal da executiva estadual do PRD à sua pré-candidatura ao governo do Acre em 2026, ao lado de representantes do partido durante encontro político em Rio Branco/Foto: Assessoria
Como partido formal, depois do Progressistas, ao qual a vice-governadora é filiada desde 2012, o PRD foi a primeira sigla a declarar apoio a Mailza Assis na sua corrida rumo ao Palácio Rio Branco. Ela disse receber o apoio com humildade e responsabilidade e que está pronta para novas adesões e, assim, dar continuidade ao projeto do governador Gladson Cameli de governar de forma democrática, com a participação de todos e sem perseguir quem quer que seja, nem mesmo adversários.
“O governador Gladson Cameli tem sido um grande professor nesse sentido, em matéria de democracia e de respeito às pessoas, aos servidores públicos e à população em geral, e nós vamos seguir tudo o que ele nos ensinou e está nos ensinando, procurando fazer ainda mais em relação às grandes obras que ele sonhou fazer e que não conseguiu por conta da pandemia e das dificuldades de ter pegado um Estado administrado por 20 anos por um mesmo grupo que não projetou o Estado para as dificuldades futuras”, disse.
Mailza Assis disse que vem conversando com todos os setores da sociedade, principalmente com as lideranças políticas aliadas para, a partir daí, construir um plano de governo a ser apresentado assim que começar a campanha eleitoral. Um plano que, segundo ela, continue o que Gladson Cameli tem programado e que possa criar políticas voltadas para a juventude, para a educação, para a geração de emprego e renda e que possa, por fim, de uma vez por todas, pôr fim à desgraça da violência em geral, mas, principalmente, contra a mulher.

A vice-governadora concedeu entrevista ao ContilNet/ Foto: ContilNet
“O Acre, um Estado ainda pequeno, onde é possível se construir relação saudável de uma sociedade em formação, não pode continuar convivendo com os índices de violência inerentes aos grandes centros, pelo menos em relação à violência doméstica e ao feminicídio. Nós temos que acabar com isso”, disse ela.
Após reunir-se com os dirigentes do mais novo partido a aderir a seu movimento, a vice-governadora concedeu, em seu escritório particular, a seguinte entrevista ao ContilNet.
Veja os principais trechos:

Mailza concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Tião Maia/ Foto: ContilNet
Como a senhora recebe o apoio de um partido formal ao seu projeto de ser candidata ao Governo do Estado em 2026?
Mailza Assis – Fico muito honrada em receber esse tipo de apoio. Creio que estamos no caminho certo, que começamos a construir um projeto político. Não estamos construindo um projeto simplesmente voltado à política partidária, de conquista de mandatos, de conjectura de alianças, mas também de participação da sociedade executiva, a participação da sociedade nas eleições. Tudo se combina para um projeto que cresce, um projeto de gestão. Espero poder contar com cada um dos acreanos para essa batalha que eu acredito, tenho muita esperança e quero ver o nosso Acre muito melhor do que encontramos e que vamos deixar.
Isso significa então que a senhora de fato já abraçou a ideia de suceder o governador Gladson Cameli?
Mailza Assis – Penso que quem abraça a política tem que estar disposto e preparado para esses desafios e situações que vão além da busca do mandato, a ferramenta que a gente tem de construir um projeto participativo. No meu caso, recebo isso com muita naturalidade, porque sou a vice-governadora, e buscar suceder ao governador Gladson Cameli é um processo natural e legítimo, que eu tenha minha pré-candidatura lançada e para isso estou trabalhando. Mas tudo isso vamos tratar no ano que vem. Por enquanto, estamos conversando. Agora, é tempo de focarmos no trabalho porque o governo precisa também apresentar bons resultados. Mas este é o momento também de focar nas alianças, na discussão em torno disso, que precisa ser diária.
Mas é inegável que já há uma movimentação em torno de seu nome, que, aliás, vem crescendo e aparecendo com mais de dois dígitos em pesquisas de opinião pública. Isso já é resultado dessas movimentações, não é?
Mailza Assis – É claro que todo nosso trabalho busca isso. E todos nós sabemos que a política é um exercício diário. É claro que essas discussões mais calorosas, de sentido mais concreto, se darão lá na frente, no período correto. Mas é normal que a gente discuta agora, internamente, as perspectivas e os planos para o que queremos. Isso também é necessário.
Como é que a senhora responde aos críticos de sua possível candidatura, que dizem ser o seu nome fraco porque a senhora jamais teve um voto à senhora dirigido, que nunca foi testada nas urnas, já que chegou ao Senado como primeira suplente e deverá chegar ao exercício pleno do governo por ter sido vice-governadora?
Mailza Assis – Isso é uma crítica infundada porque, na vida de todos nós, tudo há que ter, sim, uma primeira vez. Acho infundada porque eu fui votada lá em 2014, quando fui primeira suplente do então senador Gladson Cameli. Eu registrei a minha candidatura na Justiça Eleitoral. Fui votada também como candidata à vice-governadora.
Então, o seu nome também rendeu votos para o senador e o governador Gladson?
Mailza Assis – Sim, e eu não acho que isso possa descredibilizar uma candidatura. Até pelo meu trabalho prestado. O fato é que eu nunca havia sido senadora da República e fui uma senadora que, pelo menos eu vejo assim, representou bem o meu Estado. Eu não dei escândalo para o meu Estado e fui uma senadora que trouxe recursos, muitos recursos, algo em torno de R$ 570 milhões para o Estado. Muita coisa já foi entregue, já foi executada, muita coisa ainda está em andamento, com recursos de emendas do mandato que tive como senadora. Todos os recursos estão garantidos, empenhados e estão sendo pagos. Ou seja, ao menos mais de R$ 150 milhões por ano. No meu mandato todo, de quatro anos, eu trouxe quase R$ 600 milhões.
E quanto à sua pretensão de ser governadora eleita pelo voto popular?
Mailza Assis – Penso que o Acre não deve estranhar o que está acontecendo porque aqui já tivemos uma vice-governadora que chegou ao governo. A diferença é que ela não buscou suceder a si própria, o que eu devo fazer.
A senhora já conversou com a ex-governadora Iolanda Fleming? O que ela acha disso?
Mailza Assis – Tenho, sim, conversado com a querida Iolanda e há, sim, semelhanças em nossas histórias de mulheres simples, donas de casa que, de repente, têm que abraçar a política. Tenho a governadora Iolanda como uma grande amiga e uma pessoa incentivadora que eu tenho. A conheço desde quando estive no Senado e, conhecendo sua história, tive a oportunidade de indicá-la para ganhar o Prêmio Bertha Lutz.
Essa sua relação com ela já era alguma premonição do que iria acontecer no futuro, do que está acontecendo agora?
Mailza Assis – Não, de jeito nenhum. Até porque eu estava no Senado e estava me preparando para a candidatura à reeleição. Mas indiquei a governadora Iolanda para dar valorização à mulher, porque reconheci nela uma pessoa intensa que cumpriu o seu mandato como mulher numa época em que o machismo era ainda algo muito arraigado. Eu a indiquei ao prêmio já com base nesta luta de busca do fortalecimento da mulher, porque a luta da mulher por espaço na política e em todas as esferas de poder não é uma questão para estar em segundo ou terceiro plano. E uma vez no poder, a mulher tem que se esmerar para dar o melhor de si porque o sistema não perdoa o fracasso das mulheres, se isso ocorrer. Eu penso que uma mulher no poder pode, sim, fazer sempre um bom trabalho face à sensibilidade, do olhar maternal sobre a vida.
A senhora está tocando num ponto crucial: no momento em que o Acre se prepara para ter uma segunda mulher como governadora, é também um dos estados líderes nas estatísticas de crimes de feminicídio no país, um Estado que, em três meses de 2025, já registrou mais de 1.200 casos de violência doméstica. Como a senhora encara isso?
Mailza Assis – Encaro como uma tragédia que precisa acabar, e nós vamos acabar com esse absurdo. Mas não se acaba isso apenas com uma decisão de governo, um pensamento, uma fala ou uma campanha. É algo que precisa de ações conjuntas de todos os segmentos do Estado, de todas as forças. É algo que inclui desde a educação, e eu acho que se combate também com a geração de emprego, com a geração de renda. Penso que precisamos iniciar o combate a isso desde a escola, nas primeiras séries, e também incentivar a educação da família, com apoio das igrejas, de todo o conjunto da sociedade. Eu penso num combate permanente à violência, à proliferação das drogas. Está na hora de fazermos questionamentos a nós mesmos, enquanto sociedade: qual é a base que nós estamos dando para as nossas famílias? É preciso lembrar também que a violência às mulheres não ocorre apenas nos segmentos mais pobres da população. Então, é algo que vai além das políticas públicas de combate a esse tipo de crime. É algo que precisa vir do seio da própria sociedade, em avanços que tirem o Acre das estatísticas de um Estado perigoso para uma mulher viver.

Mailza durante reunião, reforçando o combate à violência contra a mulher, ao feminicídio e à proteção das crianças vítimas de violência/Foto: Esther Menezes/SEASDH
Essa situação de violência à mulher não seria também um reflexo de que mulher não vota em mulher, ao ponto de as casas políticas terem menos representatividade feminina, mesmo sendo as mulheres a maioria no eleitorado?
Mailza Assis – Sim, nós temos pouquíssima representatividade. Mas, no Acre, nós ainda somos exemplo, não somos tão poucas. Nós temos muita participação, tanto na política como nas outras esferas de poder. O Acre não é tão ruim nesse campo como parece, embora precise avançar mais. O Acre não é o pior estado em representatividade feminina e nós ainda estamos distantes do ideal. Mas está provado que mulher não vota em mulher, na sua grande maioria. Mas isso está mudando. A mulher precisa ser acreditada e ter as mesmas condições e oportunidades que os homens, inclusive na política.

Evento na sede do Partido Progressistas, focado para as mulheres do estado do estado, reforçando a participação feminina na política/ Foto: ContilNet
A senhora acha que o grosso do eleitorado feminino vai acompanhar uma candidatura sua ao Governo? Por quê?
Mailza Assis – Acredito. Acho que a gente precisa fazer um trabalho de convencimento que permita à mulher entrar em campanhas de forma competitiva, porque o jogo ainda é muito desigual. As pessoas ainda têm aquela questão de defender o lado mais forte, com o engano de estar ao lado do mais protetor. A mulher nunca tem essa prioridade, sendo que o princípio de qualquer proteção passa, necessariamente, pela mulher. Não proteção física, mas emocional, do carinho, da sensibilidade. É verdade que nossas candidaturas nunca são colocadas de forma robusta quanto às dos homens. A chapa da mulher é sempre a mais fraca. É nisso que nós precisamos brigar. Nós precisamos entrar com a mesma estrutura, com as mesmas condições de uma candidatura masculina. Aí o senhor vai ver como a mulher vai votar em mulher.
Por que a senhora quer ser governadora?
Mailza Assis – Porque compreendo que, depois dos avanços, do legado que o governador Gladson Cameli e sua equipe vão deixar em relação às obras estruturantes, é chegado o momento de o Acre avançar na geração de riquezas, geração de empregos e renda, com melhoria nos índices sociais. E, para chegarmos à produção para além do nosso consumo, nem é preciso desmatar mais. Nas áreas que nós temos abertas, é possível produzir, é possível fazer com que o Acre, com o que já tem, possa expandir, por exemplo, a cultura do café. O café pode ser a nossa redenção, porque está avançando cada dia mais como uma grande fonte de investimento; é algo que pode transformar a realidade da economia do nosso Estado. Temos também outras culturas. E tantas outras culturas através das quais o nosso Acre já provou que faz muito bem, como a extração do açaí. Podemos avançar na produção do cacau, do amendoim, do abacaxi, da mandioca, da castanha e até mesmo o extrativismo, com a borracha e a castanha. Nós temos essas riquezas, nós precisamos trabalhar uma forma para que essas riquezas sejam extraídas e sejam devolvidas à nossa população, ao produtor rural, ao morador das florestas. Porque isso vai dar condições de a gente ter cidades bem desenvolvidas, porque estaremos utilizando nossas riquezas naturais. É isso o que penso, e é isso que vou defender em nosso projeto futuro de governo.