Cientistas vêm acompanhando com perplexidade uma série de episódios de comportamento sexual extremo entre animais em uma ilha remota do Atlântico Sul. Focas da espécie Arctocephalus gazella, conhecidas como focas-antárticas, foram flagradas violentando sexualmente pinguins-reis (Aptenodytes patagonicus) em Marion, território sul-africano localizado entre a África e a Antártida.
Os casos, seguem sendo registrados por pesquisadores desde 2006, e preocupam a comunidade científica por se repetirem de forma incomum e violenta.

Focas da espécie Arctocephalus gazella, conhecidas como focas-antárticas, foram flagradas violentando sexualmente pinguins-reis / Reprodução
Como ocorre o ataque
Segundo o observado, os mamíferos marinhos machos atacam os pinguins, sobem em seus corpos e realizam cópulas forçadas, comportamento caracterizado como estupro pelos pesquisadores. Em alguns casos, as focas chegaram a matar e devorar os pinguins logo após os ataques.
Os episódios foram documentados em vídeos e artigos científicos publicados no periódico Polar Biology. O primeiro registro confirmado aconteceu em 2006. Nos anos seguintes, os pesquisadores continuaram monitorando a colônia e, em 2014, flagraram novos episódios.
O comportamento se repete de forma metódica: as focas perseguem os pinguins, conseguem imobilizá-los com o peso corporal e os violentam por vários minutos.
“Em termos humanos, você chamaria isso de estupro”, disse Ryan Reisinger, um dos responsáveis pela pesquisa, ao jornal Times Live.

O comportamento se repete de forma metódica: as focas perseguem os pinguins, conseguem imobilizá-los com o peso corporal e os violentam por vários minutos / Reprodução
Por que isso acontece?
Ainda não há consenso científico sobre os motivos que levam focas a violentar os pinguins. Algumas hipóteses sugerem desvio comportamental causado por desequilíbrios hormonais, falta de fêmeas disponíveis ou estresse ambiental.
Outra possibilidade considerada é que indivíduos jovens e inexperientes estejam confundindo os pinguins com membros da própria espécie.
Impacto ambiental
O comportamento levantou discussões entre estudiosos do comportamento animal e defensores dos direitos dos animais. Embora a violência entre espécies não seja incomum no mundo animal, estupros interespécies com fins letais são extremamente raros.
Além das questões éticas e comportamentais, o fenômeno pode ter impactos sobre a população de pinguins, que já enfrenta desafios devido à mudança climática e à diminuição do habitat. Os cientistas alertam que se os ataques se tornarem mais frequentes, podem representar um risco adicional para a sobrevivência dessas aves.
Os pesquisadores estão ampliando os esforços de monitoramento para entender melhor o fenômeno. Novos equipamentos de vídeo e sensores estão sendo instalados na ilha de Marion, e há planos para comparar os dados com colônias de focas em outras regiões do Atlântico Sul e da Antártida.
Até o momento, não há indícios de que esse comportamento tenha se espalhado para outras populações de focas.
De todo modo, os incidentes acendem um alerta de preocupação, em relação à saúde física e mental dos pinguins atacados, além da importância de compreender o que leva o ataque das focas.