A síndrome de pica, conhecida no meio científico como alotriofagia, é um distúrbio alimentar caracterizado pela vontade persistente de ingerir substâncias que não são consideradas alimentos. Entre os itens consumidos por pessoas com o transtorno estão terra, gelo, sabão, pedra, cabelo, papel, giz, carvão, plástico e até tecido. A condição exige atenção, pois pode sinalizar deficiências nutricionais ou questões emocionais mais profundas.
Segundo a nutricionista Jaqueline Lagares, o comportamento começa a levantar suspeitas quando se torna frequente e a pessoa não consegue explicar por que sente vontade de consumir esses materiais. “Às vezes é algo que acontece há meses, e a pessoa só comenta por acaso. Ela nem percebe que é um comportamento fora do comum”, explica a especialista ao Catraca Livre.

A ingestão recorrente dessas substâncias pode trazer sérios riscos à saúde/Foto: Reprodução
O nome “pica” tem origem no pássaro pega-rabuda, também chamado de pega-rabilonga (Pica pica), conhecido por comer quase tudo que encontra. O distúrbio é mais comum em grupos específicos, como crianças pequenas, gestantes, pessoas com transtornos do desenvolvimento ou deficiência intelectual, e indivíduos com baixos níveis de ferro e zinco. Nesses casos, a ingestão de itens não alimentares pode ser uma tentativa do organismo de compensar carências nutricionais, embora nem sempre essa seja a única explicação.
A ingestão recorrente dessas substâncias pode trazer sérios riscos à saúde, incluindo intoxicação, infecções, obstrução intestinal, danos dentários e até envenenamento. Além disso, o consumo desses itens pode comprometer a ingestão de alimentos nutritivos, gerando deficiências ainda mais graves a longo prazo.
A recomendação é buscar ajuda especializada quando o comportamento começa a afetar a saúde física, emocional ou interferir na rotina diária. Outro sinal de alerta é quando o consumo se torna compulsivo ou difícil de controlar, sendo percebido também por familiares ou pessoas próximas.
O diagnóstico da síndrome de pica é clínico e se baseia na ingestão repetida de substâncias não comestíveis por um período mínimo de 30 dias. Exames complementares podem ser solicitados para verificar possíveis complicações ou deficiências nutricionais, e o paciente pode ser encaminhado a outras especialidades médicas, conforme a necessidade.

O tratamento deve ser conduzido de forma multidisciplinar/Foto: Reprodução
O tratamento deve ser conduzido de forma multidisciplinar, envolvendo psicólogos, psiquiatras, nutricionistas e, em alguns casos, médicos pediatras ou clínicos. A abordagem inclui tanto o cuidado com o estado emocional quanto a correção de eventuais desequilíbrios nutricionais. “O papel do nutricionista é essencial, especialmente na investigação de causas como a deficiência de ferro ou zinco. A partir disso, é possível orientar a alimentação e monitorar a evolução do paciente”, afirma Jaqueline.
Embora a correção de carências nutricionais possa contribuir para a redução dos sintomas, é fundamental lembrar que a síndrome de pica nem sempre tem origem apenas física. Por isso, cada caso deve ser analisado individualmente, com o devido cuidado para que o tratamento seja eficaz e completo.