Tuta estava foragido e foi capturado em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, com documentos falsos, segundo nota da PF. A ação teve apoio da Fuerza Especial de Lucha contra el Crimen, da Bolívia.

Tuta / Reprodução
Ele é considerado o sucessor de Marcola, o chefe máximo da facção que está preso no sistema penitenciário federal e cumpre penas de mais de 300 anos.
A polícia boliviana informou que o homem detido se apresentou como Maycon Gonçalves da Silva, nascido em 25 de março de 1971, em um centro comercial da cidade, para tentar renovar a Cédula de Identidade de Estrangeiro (CEI), documento necessário para não bolivianos que residem no país.
Ao consultar o sistema internacional de estrangeiros, surgiu um alerta indicando que se tratava de um procurado pela Interpol. A PF, então, foi comunicada.
Marcos Roberto de Almeida permanece preso, sob suspeita de uso de documentos falsos e falsidade ideológica.
Segundo a PF, até a noite de sexta, o suspeito seguia sob custódia das autoridades bolivianas, aguardando a confirmação de sua identidade e os procedimentos legais que podem resultar em sua expulsão e extradição ao Brasil.
Tuta tem duas prisões decretadas e já foi condenado
No Brasil, Marcos Roberto de Almeida tem duas prisões decretadas em investigações do Ministério Público de SP. Ele foi um dos principais alvos da Operação Sharks, deflagrada em 2020.
À época, o MP de São Paulo confirmou que Tuta havia assumido o comando do PCC após a transferência de Marcola para um presídio federal, em fevereiro de 2019.
O criminoso já foi condenado em primeira instância por organização criminosa, com pena de 12 anos e seis meses de prisão. Responde ainda a outro processo por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
“O Marcos Roberto, vulgo Tuta, já era da sintonia de 1, mas não era o número 1 do PCC. Com a remoção do Marcola, ele foi elencado, nominado pelo Marcola para ser o novo n° 1 do PCC, tanto dentro como fora dos presídios. É um velho conhecido nosso. Só que, em liberdade, ele atingiu o status, seria o novo Marcola na nossa concepção”, explicou na ocasião o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o PCC há décadas em São Paulo.
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O novo organograma da cúpula do PCC em São Paulo, apresentado pelo Ministério Público de SP nesta segunda-feira (14). — Foto: Reprodução
Em 2020, após a primeira fase da Operação Sharks, o MP paulista identificou os 21 suspeitos de integrar a nova cúpula do PCC.
Entre eles estava Tuta, que fazia parte da cúpula da facção, chamada de Sintonia Final da Rua.
Segundo o então procurador-geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo, Tuta assumiu o comando do PCC por escolha do próprio Marcola.
Ele estava foragido e chegou a ser identificado, na época, como ocupante de um cargo de adido no consulado de Moçambique em Belo Horizonte. Seria uma estratégia para ocultar sua identidade.
O termo “adido” é usado para designar um agente diplomático que não é um diplomata de carreira.
“A partir da remoção [para o sistema federal], as ordens passaram a ser nas ruas. E um dos indivíduos, Marcos Roberto, vulgo Tuta, ele assumiu a função do Marcola. É um indivíduo que tem contato em consulado, que transita no país e fora do país. É uma operação hoje que a ordem não está mais centralizada dentro do presídio, mas na rua. Por isso a importância da operação de hoje”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya.
Além dele, o Ministério Público identificou outros 20 nomes que fazem parte da nova cúpula da facção.
Entre eles três nomes que seriam o braço financeiro da organização criminosa. Eles administram o dinheiro oriundo do tráfico feito belo bando. Entre os nomes que fazem parte do braço financeiro está uma mulher: Carla Luy Riciotti Lima, além de Robson Sampaio Lima e José Carlos de Oliveira.
Operação Sharks
Deflagrada em fevereiro de 2020, a Operação Sharks tinha objetivo de prender parte da nova cúpula e cumpriu 12 mandados de prisão, além de 40 de busca e apreensão.
A operação foi comandada por uma força-tarefa formada por oito promotores de Justiça de diferentes regiões do Estado. Além dos promotores de justiça, participaram da operação agentes do Ministério Público e mais de 250 policiais militares.
Pelo menos três pessoas foram presas na época e outras nove ainda estavam foragidas e são procuradas no estado, segundo os promotores. Na ação, foram apreendidos explosivos, arma e carros de luxo usados pela organização.
Os mandados foram cumpridos na capital paulista, em cidades da região metropolitana, da Baixada Santista e em cidades do interior. Durante as buscas, os investigadores encontraram uma quantia superior a R$ 100 mil em dinheiro vivo.
Diversos veículos de luxo e porções de drogas foram recolhidos, além de uma pistola calibre 9mm, munição e oito cartuchos de emulsão explosiva (TNT).
Os agentes também localizaram diversos equipamentos eletrônicos e documentos, parte dos quais relacionados à propriedade de bens.
Investigação
Os investigadores apontam que o atual comando seria composto por 21 pessoas. Alvos foram identificados vivendo na Bolívia, no Paraguai e até na África.
“Alguns alvos estão foragidos, possivelmente no Paraguai e na Bolívia, ou até mesmo na África, mas a importância foi reunir provas contra esses elementos, conseguir as prisões temporárias. É a operação hoje considerada mais importante depois da remoção da liderança”, disse o promotor Lincoln Gakyia, integrante da força-tarefa que investiga a facção.
A operação também teve como alvo a prisão dos homens que teriam sido encarregados por Marcola para executar Gakyia. O promotor foi o responsável pelo pedido de transferência dos chefes do PCC para presídios federais no ano passado.
Em agosto de 2020, Marcola se tornou réu pela acusação de dar ordem para matar o promotor de Justiça e o chefe de presídios paulistas em 2018.
Na época, o Departamento Penitenciário Nacional voltou a encaminhar um relatório de inteligência ao MP paulista dizendo que Marcola insiste no plano de assassinar Gakyia. Marcola teria ameaçado matar os criminosos que não conseguissem cumprir essa ordem.
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Explosivos encontrados no endereço de um dos alvos da operação — Foto: Divulgação/MP-SP
Lavagem de dinheiro
Além das prisões, a operação desarticulou um esquema de lavagem de dinheiro feito por meio de dólar-cabo (operação de câmbio informal, na qual são realizadas transferências internacionais de valores mediante compensações, sem respeitar as normas do sistema financeiro nacional) no Paraguai e na Bolívia.
De acordo com o MP, planilhas apreendidas pelos investigadores apontaram que a facção movimentava naquela data cerca de R$ 100 milhões por ano, principalmente com tráfico de drogas e arrecadação de valores de seus integrantes.
Para ocultar o dinheiro arrecadado semanalmente, os investigados compravam veículos e se valiam de imóveis com fundos falsos, onde guardavam dinheiro vivo antes de realizar transferências, muitas vezes por intermédio de doleiros.
Os presos e os objetos apreendidos foram levados para a sede do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), no Centro da capital paulista, mas devem ser transferidos para presídios de segurança máxima na região de Presidente Prudente (CRP de Presidente Bernardes e Penitenciária 2 de Presidente Venceslau) ainda nesta segunda.
Os valores em dinheiro encontrados pela polícia foram depositados judicialmente e poderão ser revertidos para utilização no combate ao tráfico e às organizações criminosas. As drogas apreendidas deverão ser destruídas.
Os investigados podem responder pelos crimes de organização criminosa armada, tráfico de drogas, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro.
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Carro de luxo usado pelo crime organizado em SP — Foto: Divulgação/MP-SP
Histórico
Segundo o Ministério Público, a investigação começou em 2018, após a prisão do homem responsável pelo setor financeiro da facção.
Documentos apreendidos com ele levaram os investigadores a Eduardo Aparecido de Almeida, conhecido como Pisca, preso também em 2018, em uma luxuosa mansão em Assunção, no Paraguai.
Pisca era apontado como um dos principais membros da facção no exterior.