A facção criminosa venezuelana Tren de Aragua segue expandindo sua presença no Brasil e estreitando relações com organizações como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV). A mais recente evidência dessa expansão ocorreu em Chapecó, no oeste de Santa Catarina, onde a Polícia Civil prendeu o venezuelano Andrés Marcelo Mendez Perez, de 34 anos. Ele estava foragido há um ano e meio, acusado de envolvimento no assassinato de um adolescente em Boa Vista (RR).
Perez foi localizado enquanto trabalhava em um frigorífico da cidade. Durante a abordagem, os policiais encontraram pequenas porções de drogas com ele e, segundo depoimento dos agentes, o próprio venezuelano indicou que havia mais entorpecentes em sua residência, incluindo maconha, cocaína e uma balança de precisão. Em sua defesa, Perez negou participação no homicídio e afirmou ser apenas usuário, alegando que a balança pertencia a um colega de casa.
A facção criminosa venezuelana Tren de Aragua segue expandindo sua presença no Brasil e estreitando relações com organizações / Reprodução
O assassinato que motivou a busca pelo venezuelano ocorreu em maio de 2020. Um adolescente de 16 anos, também venezuelano e morador de um dos abrigos da Operação Acolhida, foi encontrado morto às margens do Rio Branco, em Boa Vista, com sinais de execução. A vítima tinha as mãos amarradas e uma perfuração no pescoço.
Para a Polícia Civil de Roraima, há indícios claros de conexão entre esse crime e a atuação do Tren de Aragua, facção que se fortaleceu na região nos últimos anos. O grupo, que nasceu na Venezuela em 2005, no seio de um sindicato de ferroviários, consolidou sua liderança a partir de 2013, quando o presídio de Tocorón passou a servir como base de operações. Seu principal chefe, Héctor Rustherford Guerrero Flores, o “Niño Guerrero”, permanece foragido após escapar da prisão.
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As autoridades brasileiras alertam para a ausência de mecanismos que verifiquem antecedentes criminais de imigrantes, o que, segundo o delegado Wesley Costa de Oliveira, facilitou o avanço da facção no país. Ele critica o processo de interiorização da Operação Acolhida, afirmando que criminosos conseguem se infiltrar entre os migrantes. “Eles entram no território brasileiro e é como se não tivessem nenhum registro formal. Podem até usar nomes falsos ou verdadeiros, mas aqui é como se começassem do zero”, disse.
A facção venezuelana já mantém, de acordo com investigações, um papel estratégico no tráfico de drogas e armas para o PCC e o CV, sobretudo em áreas de fronteira como Pacaraima (RR). As mercadorias são transportadas por “trouxeiros” — homens e mulheres que atravessam a mata levando armas e entorpecentes. Há registros de remessas para o Rio de Janeiro, Manaus e até garimpos ilegais na Amazônia, controlados pelo CV.
A facção venezuelana já mantém, de acordo com investigações, um papel estratégico no tráfico de drogas e armas para o PCC e o CV / Reprodução
Os próprios venezuelanos são as principais vítimas da facção em solo brasileiro. Casos de assassinatos brutais, esquartejamentos e desaparecimentos foram registrados em Roraima. Em um deles, um cemitério clandestino com nove corpos foi descoberto em Boa Vista no ano passado, todos de venezuelanos.
A relação do Tren de Aragua com o PCC e o CV, segundo a polícia, ocorre de forma pragmática: o grupo colabora com ambos para fortalecer seu domínio sobre rotas de tráfico e ampliar lucros. Para os Estados Unidos, o Tren de Aragua já é classificado como organização terrorista, o que resultou na deportação de mais de 200 venezuelanos detidos em El Salvador.