doação de órgãos no Brasil é uma prática vital que, em 2024, continua a salvar milhares de vidas. Com o avanço nas técnicas médicas e no processo de organização de transplantes, este ato de solidariedade se tornou mais acessível e efetivo, embora ainda enfrente desafios importantes, como a falta de doadores e a alta taxa de recusa familiar.
Aqui, vamos explorar como funciona esse processo, quais são as principais etapas, e quem pode se tornar um doador em vida ou após a morte.
O que é a doação de órgãos?
A doação de órgãos é o processo pelo qual órgãos e tecidos de um indivíduo, vivo ou falecido, são retirados cirurgicamente para serem transplantados em outra pessoa que necessita de um órgão saudável para sobreviver. Esta é uma das maneiras mais eficazes de salvar vidas, já que muitos pacientes dependem da doação para continuar vivendo. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) coordena a maior parte dos transplantes, fazendo com que os procedimentos sejam amplamente acessíveis, sem custos diretos aos receptores.
Quem pode doar órgãos?
A princípio, qualquer pessoa saudável pode se tornar um doador de órgãos, seja em vida ou após a morte. No entanto, existem critérios que limitam quem pode ser considerado apto para doar.
- Doação em vida: É possível doar um rim, parte do fígado, parte do pulmão ou medula óssea. Para isso, o doador deve estar em boas condições de saúde e geralmente precisa ser parente do receptor ou, se não for, obter autorização judicial. A doação de medula óssea é relativamente simples e é uma das mais incentivadas, já que pode salvar a vida de pacientes com leucemia e outros tipos de câncer.
- Doação após a morte: No caso de falecimento, a doação pode acontecer em situações específicas, como morte cerebral. Após a confirmação dessa condição, a retirada dos órgãos é autorizada pela família do falecido. Entre os órgãos mais comumente doados estão coração, pulmões, fígado, rins e córneas.
Um ponto importante é que, para que a doação de órgãos seja viável, o doador deve estar em um hospital e em condições que permitam a retirada dos órgãos rapidamente após a constatação da morte cerebral. No caso de pessoas que falecem em casa, por exemplo, os órgãos principais não podem ser doados, restando apenas a possibilidade de doar tecidos como córneas
Processo de doação de órgãos após a morte
O processo de doação de órgãos é complexo e envolve várias etapas cuidadosamente coordenadas:
- Diagnóstico da morte cerebral: Quando um paciente apresenta morte cerebral, ou seja, quando há perda total e irreversível das funções cerebrais, ele é considerado apto para doação de órgãos. Para que essa condição seja confirmada, são necessários testes clínicos rigorosos realizados por mais de um médico.
- Notificação e abordagem familiar: Após a confirmação da morte cerebral, a equipe médica entra em contato com a família para discutir a possibilidade da doação. A legislação brasileira exige que a doação seja autorizada pelos parentes mais próximos. Em 2023, cerca de 42% das famílias recusaram a doação de órgãos, o que ainda representa um grande obstáculo
- Exames e compatibilidade: Se a família concorda com a doação, os médicos iniciam os exames necessários para verificar a viabilidade dos órgãos e identificar possíveis receptores. Nesse momento, são feitas análises para garantir que os órgãos estão saudáveis e aptos para transplante.
- Retirada dos órgãos: Uma vez que todos os preparativos estão completos, os órgãos são retirados em uma cirurgia delicada. Em seguida, são enviados para os receptores compatíveis, que geralmente estão em lista de espera em diferentes regiões do país.
- Transplante e acompanhamento: Os órgãos retirados são transportados para os hospitais onde os receptores estão aguardando. O transplante ocorre de maneira semelhante a outras cirurgias, e os pacientes devem passar por acompanhamento constante, tomando medicamentos imunossupressores para evitar a rejeição do novo órgão
Desafios e avanços no sistema de doação de órgãos
Apesar dos avanços no sistema de doação e transplante de órgãos, ainda há desafios significativos. A alta taxa de recusa familiar continua sendo um dos principais fatores que limitam o número de doações. Outro obstáculo é a falta de conscientização da população sobre a importância de comunicar à família o desejo de ser um doador. Quando a pessoa falecida expressa em vida o desejo de doar, a família tende a autorizar a doação mais facilmente, o que aumenta as chances de sucesso
Por outro lado, o Brasil conta com o maior sistema público de transplantes do mundo, e o SUS realiza cerca de 85% de todos os procedimentos no país. Em algumas regiões, como o Paraná, as taxas de doação são significativamente mais altas, chegando a 40 doadores por milhão de habitantes. Isso se deve a sistemas de notificação mais eficientes e a uma abordagem mais humanizada no tratamento das famílias.
O que pode ser doado?
Os órgãos que podem ser doados variam de acordo com o tipo de doação (em vida ou após a morte). Os principais órgãos e tecidos doados são:
- Córneas: As córneas podem ser retiradas até 6 horas após a morte, permitindo que pessoas com problemas graves de visão voltem a enxergar.
- Coração: O coração é geralmente transplantado em pessoas que sofrem de insuficiência cardíaca terminal.
- Pulmões: Transplantes de pulmão são realizados em pacientes com doenças respiratórias graves, como fibrose pulmonar.
- Fígado: Parte do fígado pode ser doada em vida, graças à sua capacidade de regeneração, ou após a morte.
- Rins: A doação de rins é uma das mais comuns, já que uma pessoa pode viver com apenas um rim.
- Medula óssea: A doação de medula óssea, feita em vida, é fundamental no tratamento de leucemias e outros tipos de câncer
Lista de espera e critérios de prioridade
Uma das principais preocupações relacionadas à doação de órgãos é a lista de espera. Em 2024, mais de 43 mil pessoas aguardam por um transplante no Brasil. A fila é organizada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), que utiliza critérios como o tempo de espera, a compatibilidade entre doador e receptor e a gravidade da condição do paciente para definir as prioridades.
Embora o sistema de transplantes brasileiro seja eficaz, a fila de espera continua sendo um desafio. Em muitos casos, o tempo de espera pode ser longo, o que coloca a vida de muitos pacientes em risco. Por isso, campanhas de conscientização são constantes, com o objetivo de aumentar o número de doadores e reduzir o tempo de espera
A importância de conversar sobre a doação
Uma das maneiras mais eficazes de aumentar as doações de órgãos é garantir que o desejo de ser um doador seja comunicado à família. Apesar de não existir um registro oficial de doadores no Brasil, o simples ato de conversar com os parentes próximos pode fazer toda a diferença no momento da decisão.
Além disso, a abordagem adequada por parte dos profissionais de saúde também é crucial. Famílias que sentem que seus entes queridos foram bem tratados e cuidados durante o atendimento hospitalar tendem a aceitar mais facilmente a doação de órgãos. A humanização do processo de notificação é um fator importante para aumentar a aceitação das famílias.
A doação de órgãos é um ato de solidariedade que salva vidas todos os dias. Embora o Brasil tenha avançado consideravelmente na estruturação do seu sistema de transplantes, ainda há muito a ser feito para aumentar o número de doadores e reduzir a fila de espera. Conscientizar a população sobre a importância desse gesto e garantir que todos saibam como manifestar o desejo de doar são passos fundamentais para melhorar o cenário da doação de órgãos no país.