Líderes da próspera região boliviana de Santa Cruz (Leste), reduto da direita, iniciaram nesta quinta-feira (5) uma greve de dois dias contra o presidente eleito, o esquerdista Luis Arce, que assumirá o cargo no domingo.
— As províncias de Santa Cruz cumprem com disciplina a greve cívica em defesa da democracia e exigem uma auditoria das eleições gerais de 18 de outubro [vencidas por Arce] — disse Fernando Larach, líder cívico da região.
As autoridades eleitorais e os observadores internacionais consideraram que as eleições foram justas. Arce, ex-ministro da Economia, venceu com mais de 54% dos votos, ante 14% do direitista santa cruzense Luis Fernando Camacho.
Em municípios próximos à cidade de Santa Cruz, cabeceira do departamento de mesmo nome, havia trajetos bloqueados com paus, pneus, fios e entulho, segundo imagens veiculadas pela emissora de televisão Unitel.
Em outras localidades rurais da região, porém, a greve não foi observada para não afetar a produção agrícola.
— Rejeitamos categoricamente essa greve cívica, esses bloqueios, porque o município é altamente produtivo — disse o prefeito da cidade rural de San Pedro, José Rojas.
A greve será estendida na sexta-feira à cidade de Santa Cruz, a mais populosa do país, que desde a semana passada é palco de protestos esporádicos contra a Arce, convocados por seu Comitê Cívico, conglomerado de grupos civis e empresariais de direita.
O governo de Santa Cruz “vai acatar as medidas da greve cívica”, disse seu secretário-geral, Roly Aguilera.
O Comitê pede uma auditoria das eleições, vencidas no primeiro turno por Arce, o herdeiro político do ex-presidente Evo Morales, 11 meses após a renúncia do líder indígena que acabou refugiado na Argentina.
Ele também rejeita a polêmica decisão do Congresso, controlado pelo Movimento ao Socialismo, partido de Morales, de baixar o quórum para aprovar determinados projetos, ratificar a promoção de generais e nomear embaixadores.
As organizações de Santa Cruz ameaçaram estender os protestos a La Paz, mas a Central Obrera Boliviana (COB), aliada de Morales e Arce, anunciou que salvaguardará a tranquilidade no domingo, dia da mudança de governo.
— Declaramo-nos em estado de emergência para salvaguardar a paz, o Palácio [do Governo], a Plaza Murillo [das Armas], para que não haja confronto entre irmãos nos dias de transição de comando — disse o líder da COB, Juan Carlos Huarachi. [Capa: David Mercado/Reuters]