Vacina ‘não está comprovada cientificamente’, diz Bolsonaro, contrariando a Anvisa

O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta sexta-feira (22), que “não há nada comprovado cientificamente sobre essa vacina aí”. A única vacina aplicada no Brasil até o momento é a CoronaVac, que teve uso emergencial aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 17. A aprovação da Anvisa significa que a vacina tem a eficácia e a segurança necessárias para ser aplicada emergencialmente.

A afirmação do presidente Jair Bolsonaro não é verdadeira. A eficácia e a segurança da CoronaVac foram comprovadas em ensaios clínicos conduzidos no Brasil. No país, a vacina é fabricada pelo Instituto Butantan, em São Paulo, instituição pública de pesquisa ligada ao governo do estado.

Bolsonaro deu a declaração a jornalistas na porta do Palácio da Alvorada. Ele repetiu, como tem feito nas últimas semanas, que a vacinação não será obrigatória.

“Eu não posso obrigar ninguém a tomar vacina, como um governador um tempo atrás falou que ia obrigar. Eu não sou inconsequente a esse ponto. Ela tem que ser voluntária, afinal de contas, não está nada comprovado cientificamente com essa vacina aí”, afirmou o presidente.

“O pessoal dizia que eu era contra a vacina. Eu era contra a vacina sem passar pela Anvisa. Passou pela Anvisa, eu não tenho mais o que discutir, eu tenho que distribuir a vacina”, completou Bolsonaro.

A Anvisa aprovou tanto o uso emergencial da CoronaVac quanto o da vacina da Universidade de Oxford e da farmacêutica AstraZeneca por unanimidade dos votos da diretoria.

Na ocasião, a diretora Meiruze Freitas, relatora do pedido de uso emergencial, declarou que ambas as vacinas atendiam “aos critérios de qualidade e segurança para uso emergencial”.

As duas vacinas são seguras e têm capacidade de gerar uma resposta do sistema de defesa. Os estudos foram publicados na revista científica “The Lancet”. Veja as publicações: vacina de Oxford e vacina CoronaVac.

Não foram registrados efeitos adversos graves em nenhuma das duas vacinas. Os efeitos mais comuns foram dor no local da injeção, febre e dor de cabeça de intensidade leve ou moderada.

A CoronaVac usa a tecnologia de vírus inativado. Esse tipo de vacina usa o vírus inteiro para induzir a resposta do sistema de defesa do corpo (mas ele não causa doença, porque, como o nome diz, está inativado, ou seja, “morto”).

Nós já usamos várias vacinas de vírus inativado contra outras doenças – como a da hepatite A, da gripe e da raiva. Também existe uma vacina contra a pólio que é injetável e feita com o vírus inativado.

“É o vírus inativado com adjuvante, que potencializa a resposta imunológica. É uma vacina cuja tecnologia é muito antiga, se conhece bem os efeitos colaterais que são muito poucos. Eu acredito que vai ser uma ferramenta muito importante nessa luta contra a Covid”, avaliou o virologista Eduardo Flores, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em entrevista ao G1.

Especialistas ouvidos pelo G1 já explicaram que a CoronaVac é segura e vai ajudar a frear a pandemia do coronavírus.

“Também não tivemos nenhuma reação adversa grave. Para nós, cientistas, isso traz uma confiança muito boa. É uma vacina boa, que não tem efeito adverso, que não gerou efeito grave, que não levou a hospitalização”, explicou o imunologista e pesquisador da USP Gustavo Cabral.

A pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra, idealizadora da Rede Análise Covid-19 e pós-doutoranda em bioquímica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ressaltou a necessidade de uma boa campanha de vacinação para acabar com a pandemia.

“É uma vacina boa, que foi testada de forma adequada e do padrão de maior rigor de testes clínicos, num estudo com protocolo pré-publicado”, acrescentou.

Já a vacina de Oxford usa a tecnologia de vetor viral. Nesse tipo de vacina, os pesquisadores usam um outro vírus, modificado, para introduzir parte do material genético do coronavírus Sars-CoV-2 no organismo e induzir a resposta do sistema de defesa do corpo. Nenhuma vacina é capaz de causar a Covid-19 e nem de alterar o nosso DNA.

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