26 de abril de 2024

Meio Ambiente: ecoturismo é opção para o Amazonas

Quando se fala em Amazônia, o primeiro pensamento que se vem à cabeça é sobre a floresta, os rios e a grande biodiversidade que a região tem. Oferecer atrativos para que as pessoas possam ter a experiência de conhecer tudo isso ao mesmo tempo em que ajuda na sua conservação é o desafio dos Estados, onde se discute a diversificação do uso público, que visa fomentar o desenvolvimento do turismo em áreas protegidas.

Interação com botos nas Anavilhanas é uma das poucas opções que o turista têm de visitar unidades protegidas no Estado (Foto: Acervo/ICMBio)

O Amazonas está nessa lista e os projetos são animadores com a possibilidade de abertura de unidades de conservação (UCs), a princípio federais, para visitação. Trilhas aquáticas, pesca esportiva e turismo de base comunitária são algumas das principais opções de atividades que devem ser desenvolvidas nessas áreas. Hoje, de 43 UCs federais, o Estado conta apenas com os parques nacionais do Jaú e de Anavilhanas abertos para visitação.

O coordenador-geral de Uso Público do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Pedro Menezes, revelou que a Reserva Extrativista do Unini, um dos melhores locais para pesca esportiva no Brasil, está em estudo para também ser aberta para visitação. “Queremos entender o estoque pesqueiro e a capacidade que ele tem de aguentar, em termo de exploração, para que possamos proceder um processo de concessão para que barcos de pesca esportiva possam ir a Unini”, contou.

Outra UC federal localizada no Amazonas que também deve ser aberta para visitação é o Pico da Neblina, o ponto mais alto do País. “Estamos querendo junto com a Funai (Fundação Nacional do Índio) abrir o Pico da Neblina. Há uma decisão judicial contra esse projeto, mas estamos tentando resolver para que possamos ter uma subida estruturada ao ponto culminante do Brasil. Tem muita gente querendo ir”, evidenciou Pedro Menezes.

O coordenador-geral de Uso Público também apontou que tanto no Parque Nacional do Jaú quanto no de Anavilhanas é preciso junto com o Estado desenvolver uma estrutura de recreação maior. “Não é um processo fácil e nem rápido infelizmente, mas é prioritário, cujo planejamento tem que começar a ser feito agora em parcerias. E não precisa de muito investimento para isso”, destacou enfatizando que o ICMBio está elaborando novos projetos para essas áreas.

Um desses projetos foi revelado pelo assessor da coordenação-geral de Uso Público do ICMBio, Fábio Araújo. Trata-se da criação de trilhas aquáticas no Parque Nacional de Anavilhanas. “A Amazônia é um mundo de água. A gente acostuma associar a Amazônia com floresta, mas a quantidade de água que essa região tem é quase tão grande quanto a que tem de floresta. Então pensar em atividades na água tem tudo a ver com a Amazônia”, afirmou.

Ele contou que a ideia de trilhas aquáticas que está sendo definida nada mais é do que definir roteiros ao longo de corpos d’água da Amazônia para que a pessoa possa fazer deslocamento e experienciar esse lado da Amazônia que, em geral, quem faz uma trilha terrestre tem dificuldade de conhecer. “Inclusive tem áreas da Amazônia que só se consegue chegar, de uma forma com contato com a natureza, dentro de uma embarcação”, lembrou.

Conforme ele, o ICMBio está elaborando o plano de uso público do Parque Nacional de Anavilhanas e as trilhas aquáticas terão um papel importante dentro desse plano. Esta semana, uma equipe do órgão viajará para Anavilhanas com um especialista no tema que veio dos Estados Unidos para trabalhar num estudo de diversificação de atividades aquáticas. Ainda não há previsão de quando o serviço será oferecido, mas Fábio ressaltou que muitas coisas vão depender do interesse das comunidades do entorno.

Se tudo der certo, o Estado será pioneiro na implantação da nova atividade em áreas protegidas. Por enquanto, de acordo com Fábio Araújo, o planejamento é só para Anavilhanas, mas o modelo é fácil de replicar-se em outras regiões. “Depende do interesse de outras áreas de conservação, não necessariamente só das unidades federais, mas também estaduais, que podem desenvolver a atividade nas suas próprias áreas. Cada local tem sua dinâmica própria de quando e como vai ser desenvolvido”.

Turismo em terras indígenas

O turismo em terras indígenas é outro nicho que também deve ser mais explorado no Amazonas. Um dos projetos mais importantes é direcionado ao Pico da Neblina. Atualmente, a Funai trabalha junto com o ICMBio auxiliando os yanomamia a elaborar o plano de visitação da área. O objetivo é fazer com que os indígenas se apropriem da cadeia produtiva organizando eles mesmos um receptivo para os turistas que vão escalar o monte.

Conforme o coordenador-geral de Promoção do Etnodesenvolvimento da Funai, Juan Negret, algumas expedições experimentais estão sendo organizadas no Pico da Neblina e a instituição pretende entrar em contato com a Associação Brasileira de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta) para ajudar a refazer todos os parâmetros de segurança da trilha, que é longa e complexa, dentro dos padrões para receber o turista da melhor maneira possível.

“Neste momento, o Pico da Neblina ainda não está aberto para visitação. Estamos fazendo expedições experimentais até que a gente consiga de fato fechar as capacitações necessárias para os indígenas organizar bem toda a segurança. A partir do ano que vem provavelmente o Pico vai está aberto para visitação”, explicou Juan ressaltando que o plano de visitação que está sendo elaborado vai estabelecer as regras de visitação.

Além disso, ele disse que há várias iniciativas de pesca esportiva em andamento no Estado, como no rio Marié, perto de São Gabriel da Cachoeira, e no rio Marmelos, no município de Humaitá, e tem outros pedidos em desenvolvimento. “Tem muitos lugares interessantes, onde os índios querem fazer a visitação. Neste caso, nós trabalhamos para ordenar e conseguir que eles se emponderem da cadeia produtiva. Nos casos onde eles não têm interesse, nós respeitamos”, pontuou.

Negret destacou ainda que também há pedidos para trabalhar com turismo de pesca esportiva na terra indígena de Jurubaxi, nos municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, e outros trabalhos que precisam ser ordenados melhor na região do Coata-Laranjal (Borba) e no Cunhã-Sapucaia (Autazes e Borba). A Funai, conforme ele, tem ainda trabalhos em desenvolvimento junto com os Sataré-Mawé em Parintins e Maués.

“Tem muitas coisas que os índios já estão fazendo junto com os parceiros e nossa intenção é agregar o maior número de parceiros possível para ajudar os indígenas a trabalhar o turismo com menor impacto possível. O Amazonas é o estado com a maior população indígena do Brasil e tem uma grande diversidade enorme. No caso do turismo, tem iniciativas avançadas a lugares onde provavelmente nunca haverá turismo”, apontou Negret.

De acordo com dados da Funai, há 124 terras indígenas plenamente regularizadas, no Amazonas, outras 22 possuem reconhecimento inicial do Estado Brasileiro, e mais 13 demandas por regularização ainda com estudo a iniciar. Isto é, 159 no total. “E o turismo em terras indígenas tem uma cara interessante que é não só observar as riquezas naturais, a paisagens, mas também propiciar o turista vivenciar o mundo a partir da ótica indígena”, contou Juan Negret.

Desafios

Para o ICMBio, o turismo em áreas protegidas é uma forma de promover a conservação da natureza ao mesmo tempo em que se gera emprego, renda e desenvolvimento sustentável da região. O problema de fazê-lo avançar no Amazonas é a falta de infraestrutura logística.

Antônio Menezes destacou que há voos para Manaus, mas praticamente não há para lugar nenhum que chegue as unidades de conservação administradas pelo ICMBio. “Temos que ter uma infraestrutura mais rica. Também precisamos encontrar meios de subsidiar os voos regionais, esse problema foge ao ICMBio, mas estamos buscando encontrar soluções em conjunto com o Ministério do Turismo e a Agência Nacional de Aviação Civil”, disse.

A diretora de Meio Ambiente da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), Anna Toness, também concorda que o principal desafio para o avanço do turismo em áreas protegidas no Amazonas é a falta de infraestrutura logística. Mas ela aponta ainda o ambiente de fazer negócios, a dificuldade com impostos e mão de obra como fatores que podem complicar o começo de funcionamento das empresas na região.

Outro desafio é oferecer uma experiência diferente de qualquer outro lugar. “Também tem floresta na América Central, por exemplo, e a possibilidade de observar animais. Não é a Amazônia, mas é mais perto para chegar. Então temos que fazer o produto brasileiro único e podemos fazer isso com a cultura amazônica, fazendo com que os turistas conheçam as comunidades tradicionais, as terras indígenas, as plantas medicinais, as comidas, enfim, coisas que tem somente no Brasil”, frisou Anna.

Experiências internacionais apontam o caminho do sucesso​

A recomendação da consultora Ana Baez, presidente da empresa costarriquenha Turismo & Conservación Consultores, para o avanço do turismo em áreas protegidas é permitir a participação do setor privado para trabalhar junto com as comunidades na criação de hospedagem, restaurantes e diferentes atividades que permitem ao turista ficar uma, duas e até três noites nas unidades de conservação.

Essa estratégia foi usada pela Costa Rica, que tem 166 áreas protegidas, para se tornar um dos casos mais bem sucedidos de turismo sustentável. “Ter consciência, participação e comprometimento são as coisas mais importantes para o turismo em áreas protegidas. Isso assegura qualidade de serviços, conservação e desenvolvimento sustentável”, destacou.

O co-diretor do Centro de Manejo de Áreas Protegidas da Universidade Estadual do Colorado, Jim Barborak, disse que a Amazônia tem potencial de ser líder mundial em turismo em áreas protegidas. Mas para isso precisa eliminar a distância dos mercados e reduzir os custos das viagens aéreas. “A colaboração dos governos federal, estadual e municipais com o setor empresarial e as linhas aéreas é fundamental”, apontou.

Jim enfatizou que os Estados têm que criar diferentes atrativos complementares em diferentes destinos, como possibilitar que o turista visite uma comunidade ribeirinha, um parque, um sítio onde é possível vê a produção agrícola tradicional ou fazer uma viagem com um pescador artesanal com bons guias que possam fazer interpretação não só sobre a ecologia, mas a história e cultura dos povos.

“A pessoa não aprende se não tem uma experiência agradável durante a visita. Essas são algumas coisas que necessita no Amazonas. Algumas cidades secundárias do Estado podem se torna polo aproveitando todas as comunidades pequenas por perto, atividades tradicionais, as áreas protegidas estaduais e federais que existem ao redor. E outra, não pensar somente no estrangeiro, mas no público brasileiro, inclusive no manauense, fazer com que conheça melhor a região”, destacou.

Jim Barborak revelou que no Colorado, a situação é muito similar ao Estado do Amazonas. “Temos quase 40% do Estado em unidades de conservação federais e estaduais e temos desenvolvidos nelas muitas atividades. A pesca esportiva é uma atividade praticada por muitas pessoas e é regulamentada, temos bons sistemas de trilas em todas as unidades, com boa sinalização e segurança, além de centros de interpretação em muitas delas que dão informação as pessoas”.

Outro ponto importante é a divulgação das unidades de conservação na internet, conforme Jim. “Temos sítios na internet de cada unidade de conservação com informação sobre como chegar, o que se vê e também é possível fazer reservas. Não temos grandes estruturas, mas temos tudo sinalizado, boa presença na internet, bons serviço de guias, trilhas e de proteger a floresta para que as pessoas tenham algo a observar uma vez que chegam as unidades de conservação”, evidenciou.

Entre os últimos dias 18 e 20, o ICMBio em parceria com o Curso de Turismo da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) realizaram o IV Seminário de Turismo em Áreas Protegidas da Amazônia. O evento aconteceu no Centro de Artes (Caua) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no Centro de Manaus, e contou com palestrantes internacionais e nacionais, que debateram sobre temas como a diversificação do uso público, trilhas aquáticas, pesca esportiva e turismo de base comunitária.

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