A cúpula da Globo interveio em Velho Chico e impôs três grandes alterações nos rumos da novela das nove. A drástica mudança no caráter do personagem de Marcelo Serrado, o deputado federal Carlos Eduardo Cavalcanti, e a revelação de que Miguel (Gabriel Leone) e Olívia (Giullia Buscacio) não são irmãos não estavam previstos na sinopse da trama. Assim como a antecipação do divórcio de Santo (Domingos Montager) e Luzia (Lucy Alves), essas novidades encontraram forte resistência do autor principal, Benedito Ruy Barbosa, e do diretor artístico, Luiz Fernando Carvalho.
Desde o começo da segunda fase de Velho Chico, em abril, a direção de teledramaturgia diária da Globo vinha tentando fazer ajustes. Baseado em pesquisas com grupos de telespectadores, Silvio de Abreu apontou uma série de fatores que poderiam estar causando rejeição dos telespectadores, como a falta de romance, a narrativa lenta, o figurino incompatível com a região (Nordeste) e época (contemporânea) e erros na caracterização de personagens, como o de Antonio Fagundes (Afrânio).
Carvalho e Barbosa rejeitaram a maioria das sugestões e mantiveram suas opções artísticas. Mas a audiência baixa, então na casa dos 25 pontos, menor do que as novelas das seis e das sete, levou a direção geral da Globo a impor alterações. Para agradar ao público, diretor artístico e autor tiveram que ampliar a vilania de Carlos Eduardo, mudar a paternidade de Olívia e separar mais cedo Santo de Luzia, para que o romance do herói e heroína da história, Tereza (Camila Pitanga), pudesse se desenvolver. Funcionou. A audiência tem superado os 30 pontos na Grande São Paulo.
Inicialmente, Carlos Eduardo seria um político corrupto, de caráter duvidoso, mas não capaz de matar nem de se impor sobre o coronel Afrânio. Nas últimas semanas, ele tentou matar Santo e renunciou ao mandato de deputado federal para virar o novo Saruê, humilhando Afrânio. Na reta final da trama, irá atropelar e matar Martim (Lee Taylor), além de queimar os pertences do jornalista e um dossiê que o incrimina. Virou um supervilão.
A avaliação da teledramaturgia da Globo era a de que faltava um vilão clássico, típico dos folhetins, para que Velho Chico engrenasse. Afrânio e Encarnação (Selma Egrei) eram ambíguos. Com a ascensão de Carlos Eduardo ao posto de malvado-mor, Afrânio ficou mais humano e caminha para uma redenção. Ele sofrerá ainda mais nos próximos capítulos. Ficará praticamente sozinho no casarão após as mortes da mãe e de Martim. Iolanda (Christiane Torloni) voltará a viver em Salvador.
Outra mudança drástica foi a da paternidade de Olívia. Ela seria filha de Santo, assim como Miguel. O público, no entanto, aprovou a paixão entre os dois e passou a torcer para que eles não fossem irmãos e formassem um casal. A solução foi inventar um estupro para o passado de Luzia. A sanfoneira, ficou-se sabendo tardiamente, casou com Santo quando já estava grávida de um homem com o qual flertou em um bar e a violentou.
A separação de Santo e Luzia iria acontecer, mas somente nas últimas semanas da novela. Foi antecipada em quase dois meses.