26 de abril de 2024

Opinião: Corinthians erra na condução do caso Drogba do início ao fim

Criar interesse por um jogador, abrir negociação e não fechar contratação é algo normal no futebol. O que não é normal foi o modo como os dirigentes do Corinthians (ou pessoas usando o nome do clube) conduziram o caso Drogba. O que foi vendido como algo para “dar visibilidade” acabou se transformando em piada dos rivais. Até o Íbis tirou onda. A nota emitida pelo Corinthians para explicar o fim das negociações, com um “Valeu, Drogba”, será lembrada por anos. Coisa de louco.

A comparação com o caso Anelka é inevitável. Pra quem não se lembra: o ex-presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil, precipitou-se ao tuitar “Anelka é do Galo”. O francês, em entrevista recente ao GloboEsporte.com, contou que não curtiu essa fanfarronice e desistiu de vir ao Brasil. Veja: pelo menos ele admitiu que havia uma negociação em curso, e com gente do Atlético-MG.

Será que o mesmo pode se dizer de Drogba? Segundo o próprio marfinense, só nesta terça-feira ele conversou com Roberto de Andrade, presidente do Corinthians. Antes disso, as conversas foram entre seus representantes e as pessoas que falavam em nome do clube. E até isso foi motivo de confusão: teve empresário de Drogba negando contato com o Timão, teve presidente desmentindo viagem de dirigente a Londres…

A preciptação rendeu muita zoação dos adversários/Foto: reprodução

Ou seja, nunca houve nada “encaminhado”. Em nenhum momento Drogba esteve perto de entrar num avião e vir para o Brasil, como foi falado na imprensa em geral nos últimos 15 dias. Foi tudo uma grande fantasia.

Por mais estranho que possa parecer, foram duas semanas em que os principais porta-vozes do clube não foram o presidente, o diretor de futebol ou um chefe de comunicação, mas um ex-dirigente (Gustavo Herbetta), um ex-conselheiro (André Campoy, hoje empresário comissionado pelo próprio Corinthians) e até um ex-jogador (Vampeta). Foram eles os primeiros a darem entrevistas sobre “o projeto Drogba”, animados.

E aí a imprensa se dividiu em duas: uma parte comprou o discurso, a outra fez o que dela se espera (ouvir o outro lado).

E o outro lado, neste caso, era o departamento de futebol. Quando finalmente o diretor de futebol (Flávio Adauto) se pronunciou, depois de um dia sem retornar as ligações dos nossos repórteres, foi pra deixar claro que era contra a negociação – e que nem estava sabendo do tal “projeto”. Depois, em coletiva, o dirigente ainda tentou contemporizar. Mas o racha era evidente.

O fato é que não só Adauto, mas todo o departamento de futebol nunca quis a contratação de Drogba – nada pessoal contra o atacante. A ideia de Alessandro, Fábio Carille & Cia era focar no trabalho com os jogadores que já estavam no clube, focar na construção de um time competitivo para a temporada.

Em outras palavras: as pessoas do futebol queriam trabalhar, não fazer parte de um projeto assumidamente “de marketing”. Se você fosse Drogba, jogaria num clube onde os departamentos não se conversam?

E o presidente? Roberto de Andrade, no início, mostrou-se alheio ao caso. Depois, percebendo a imensa repercussão positiva entre os torcedores apaixonados (aqueles que aparentemente não ligam para o fato de o clube estar pendurado com uma dívida bilionária), resolveu abraçar a ideia. E isso, por 15 dias, foi ótimo pra ele, já que, subitamente, as informações sobre a dívida da Arena e o processo de impeachment “sumiram” do noticiário. As definições de “cortina de fumaça” foram atualizadas com sucesso.

Roberto assinou uma carta autorizando o empresário Franck Assunção a negociar em nome do Corinthians, oferecendo a Drogba um carro blindado, um intérprete 24 horas e uma “casa em bairro nobre”, entre outros mimos. Mas a carta “vazou”, e quando a imprensa percebeu o nome de Franck Assunção no negócio, ficou claro que a chance de dar certo ficara cada vez menor.

Sério: como ninguém no Corinthians deu um Google no nome de Franck Assunção? Ele é o mesmo empresário que tentou colocar o italiano Vieri no Botafogo de Ribeirão Preto e depois foi demitido do Vasco (após um mês de trabalho) quando os dirigentes cariocas se deram conta de que ele havia mentido sobre o próprio currículo. Reforço a pergunta: como o Corinthians pode escolher um empresário com essa fama para ser seu representante numa conversa com um dos maiores atacantes dos últimos 15 anos?

A tal carta ainda revelou outra bizarrice: o papel timbrado do clube está desatualizado, sem a última conquista do Brasileirão (2015). É um errinho besta, claro, mas que serve pra ilustrar a atual situação do Corinthians – um clube literalmente perdido no tempo.

A presença de Drogba no Corinthians seria excelente para todos que amam o futebol, independentemente de paixão clubística e da idade do jogador. Uma pena que não lhe tenham feito uma proposta condizente com seu tamanho.
Por outro lado, Carille agora, enfim, poderá trabalhar em paz na construção de um time. Com a contratação de Jadson e a manutenção de Rodriguinho, aqui sim dois acertos da diretoria, o treinador tem a mão de obra que julga necessária para fazer sua equipe jogar.

* Juliano Costa, 36, é editor executivo do GloboEsporte.com em São Paulo. As opiniões neste texto são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição da empresa

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