19 de abril de 2024

Tudo pela atenção: veja o que a delatora do Facebook revelou sobre a rede social

Durante seu depoimento a congressistas americanos na Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC na sigla em inglês), Frances Haugen, responsável pelo vazamento de documentos do Facebook, foi além de dizer que a rede social prejudica crianças e a democracia.

Ela descreveu detalhes do que seria o funcionamento de parte dos algoritmos da rede social para maximizar a atração da atenção dos usuários, a despeito de possíveis efeitos negativos como desinformação e danos à saúde mental.

A empresa liderada pelo bilionário Mark Zuckerberg contestou o conhecimento dela sobre o funcionamento interno da empresa.

Segundo a ex-gerente de produto da empresa, para que a rede social ganhe dinheiro com publicidade, ela deve garantir que seus membros permaneçam na plataforma o maior tempo possível. É o que faz parte da intitulada “economia da atenção”, segundo especialistas.

E, para isso, o conteúdo odioso e fontes divergentes tendem a atrair mais atenção, disse. Ela afirmou que os algoritmos do Facebook podem afetar o comportamento do usuário por meio da forma como são programados e que o Facebook sabe disso.

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Segundo ela, há processos que funcionam a partir de uma classificação com base no engajamento – o chamado “engagement rate ranking”,  que amplificam os assuntos que os usuários verão nas redes como Facebook ou Instagram.

Identidade revelada na TV

Haugen disse que o Facebook fez testes para confirmar como esses algoritmos podem levar os usuários a permanecerem engajados, ainda que os direcione para conteúdos que podem ser considerados prejudiciais aos usuários.

Depois de vazar documentos do Facebook para o Wall Street Journal anonimamente, a delatora teve sua identidade revelada no domingo, quando, em entrevista ao programa 60 Minutes, da rede de TV CBS, contou como a estratégia do Facebook visava a aumentar o engajamento dos usuários, alimentando divergências entre eles.

Haugen, uma engenheira de computação de 37 anos que se define como uma especialista em algoritmos, trabalhou em vários dos gigantes da tecnologia dos EUA: Google, o aplicativo de namoro Hinge, a página de recomendação de negócios do Yelp, a rede Pinterest, até chegar ao Facebook.

Ela destacou que não “odeia o Facebook”, mas que quer “salvá-lo”.

Limitar desinformação

Questionada pela senadora Amy Klobuchar sobre o papel do Facebook nas eleições norte-americanas de 2020, Haugen disse que o Facebook “investe mais em usuários que lhes fazem mais dinheiro, mesmo que o perigo não seja distribuído de maneira uniforme com base na lucratividade”, e que faz isso a partir do engagement rate ranking.

— As escolhas na plataforma eram a partir do quão reativo era o conteúdo, quão viral era. E o Facebook mudou esses padrões de segurança na corrida para a eleição porque eles sabiam que eram perigosos — disse Haugen aos legisladores.

Haugen disse que o Facebook criou equipes para limitar a desinformação antes das eleições nos Estados Unidos, e modificou seus algoritmos para reduzir a disseminação de informações falsas.

Mas sua equipe, que trabalhava para conter os riscos que alguns usuários ou conteúdos poderiam gerar por ocasião das eleições, foi desmantelada logo após as eleições presidenciais nos Estados Unidos em novembro de 2020.

— E porque eles queriam esse crescimento de volta, eles queriam a aceleração da plataforma de volta após a eleição, eles voltaram aos seus padrões originais. E o fato de que eles tiveram que quebrar o vidro em 6 de janeiro e ligá-los novamente, acho que é profundamente problemático — concluiu.

Menos de dois meses depois, em 6 de janeiro, o Congresso foi invadido por uma horda de partidários de Donald Trump, que não reconheceu a vitória nas urnas de seu sucessor Joe Biden.

O que disse o Facebook

Enquanto os legisladores criticavam o Facebook e Zuckerberg, os porta-vozes da empresa revidaram no Twitter, argumentando que Haugen não trabalhou diretamente em algumas das questões sobre as quais ela estava sendo questionada.

Lena Pietsch, porta-voz do Facebook, contestou o conhecimento de Haugen sobre o funcionamento interno da empresa.

“Não concordamos com sua caracterização das muitas questões sobre as quais ela testemunhou”, disse Pietsch em um comunicado.

Na semana passada, Antigone Davis, chefe global de segurança do Facebook, defendeu a empresa na frente do Congresso e disse que estava tentando lançar estudos internos adicionais em um esforço para ser mais transparente sobre suas descobertas.

Vigilância nas redes

Em sua conta no Twitter, que acaba de criar, Haugen se define como uma “militante da vigilância pública das redes sociais”.

Essas foram suas primeiras palavras: “Juntos podemos criar redes sociais que podem trazer à tona o que há de melhor em nós mesmos.”

Nascida em Iowa, Frances Haugen conta em seu blog que durante sua infância participou, junto com seus pais e professores, das primárias da eleição presidencial, o que “criou um forte sentimento de orgulho pela democracia e pela importância da democracia. participação “.

Em várias ocasiões, ela participou como voluntária do festival Burning Man (um encontro de sete dias onde as pessoas compartilham, dão ou trocam, promovem a “desmercadorização” e cuidam do meio ambiente, seguindo o espírito dos hippies e da contracultura dos anos 60) que antes da pandemia acontecia todos os anos no deserto de Nevada, para explicar as regras do evento aos participantes e ajudá-los a resolver conflitos.

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