Menino entra para a história ao fazer festa de 15 anos no Copacabana Palace

'Ao comemorar meus 15 anos, quero que todo jovem gay, de periferia ou não, afeminado ou não, saiba que ele pode e deve celebrar sua existência', diz Pedro Henrique

Nunca antes na história o Copacabana Palace foi palco de uma festa de debutante de… um menino. E olha que o tradicional hotel fez 100 anos em agosto. O feito se deu no último sábado, quando Pedro Henrique, um jovem negro, gay, morador da Barra da Tijuca, comemorou seus 15 anos com toda pompa, recebendo 400 convidados, lotando os salões Golden e Nobre do Copa.

“Pedro sempre se inspirou muito na irmã”, diz a pedagoga Viviane Moraes, mãe do aniversariante e de Maria Eduarda, de 20 anos e João Marcos, de 18. “Quando ela debutou, ele era muito novinho. Mas curtiu bastante participar de todo o processo e também a festa em si. Minha profissão contribui, diariamente, para eu ter uma visão mais plástica em pensar o jovem de hoje.”

Viviane acaba de voltar à faculdade para cursar psicologia, e se deparou com uma nova matéria que a fez ampliar seu olhar e, diante do pedido do filho em ter uma festa de 15 anos como a da irmã e de algumas amigas, se questionou: por que não? “Essa matéria se chama relações de gênero, raça e sexualidade. Isso tem ampliado minha visão frente ao racismo estrutural e a várias outras questões. Deveria ser obrigatória para as novas, e também antigas gerações. Iria ajudar muitos pais a entenderem seus filhos. Evitando muitos conflitos que, algumas vezes, acabam se sobrepondo ao amor”, reflete.

Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique com os pais, Marcos Pedro e Viviane — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique com os pais, Marcos Pedro e Viviane — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique foi o primeiro menino a fazer uma festa de debutante no Copacabana Palace — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique foi o primeiro menino a fazer uma festa de debutante no Copacabana Palace — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

— Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique e família — Foto: Sabrina Vasconcellos

Pedro Henrique e família — Foto: Sabrina Vasconcellos

Festa marcada, começou então a produção comandada pela cerimonialista Patrícia Kelab, referência na cidade quando o assunto são festas de 15 anos. Vai ter valsa? Foi um dos primeiros questionamentos dela ao aniversariante. “Não me identifico com valsa, queria algo mais moderno. Coisas que eu ouço mesmo, como Pabllo Vittar, Glória Groove e quase todo tipo de ritmo”, diz ele, que contratou o rapper Chefin e o Dj Bhaskar, irmão do Dj Alok, para comandarem o som da festança.

Mas o ponto alto da noite foi o debutante dançando hits de Beyoncé. Momentos depois, ao microfone, o aniversariante agradeceu a presença de todos. Em seguida, seu tio Joel se declarou publicamente ao sobrinho. “Você é um menino maravilhoso. Eu te amo, sua família te ama, seus amigos aqui te amam e ponto final. Isso é o que importa, basta de hipocrisia”, disse, com a voz embargada. Foi ovacionado

Procurado pela reportagem durante a noite, o pai de Pedro — o empresário baiano Marcos dos Santos —, preferiu não dar entrevista. E também optou por não fazer uso do microfone durante a festa. Mas era dos mais animados na pista de dança e ajudava a receber os amigos do filho com desenvoltura. A decoração dos salões, assinada por Patricia Vaks, também fugiu ao que se espera de uma festa tradicional de 15 anos. “Não, ele não quis nada de cores suaves”, diz ela, que usou e abusou do preto e de espelhos no décor.

A roupa do Pedro foi um capítulo à parte na produção do agito. Ele, que pinta as unhas e gosta de roupas chamativas, teve liberdade para escolher o quisesse como modelito, inclusive, um vestido. “Ele não quis, mas não teria problema nenhum se quisesse. O mote dessa festa é realmente mostrar que todo mundo pode ser o que quiser”, explica Viviane.

O brinde no aniversário de Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

O brinde no aniversário de Pedro Henrique — Foto: Sabrina Vasconcellos

O look escolhido foi uma calça e um cropped de couro, arrematado por um blazer, que quase não foi usado. Tudo feito sob medida pela renomada estilista Patricia Viera.

Entre um drink e outro — sem álcool, é bom frisar — Pedro disse. “Tenho a consciência de que não sou só eu, não é só por mim. Outros gostariam de fazer o mesmo. Ao comemorar meus 15 anos, quero que todo jovem gay, de periferia ou não, afeminado ou não, saiba que ele pode e deve celebrar sua existência. Em qualquer lugar, do jeito que quiser. Mas sei que isso não é a realidade, sei dos meus privilégios”, afirmou o debutante.

“Em todo esse tempo trabalhando aqui no Copacabana Palace, nunca vi algo parecido no hotel. O que tivemos recentemente foi um bat mitzva de uma menina, o que também foi um baita avanço”, diz Apério Xavier, maitre executivo do Copa há 37 anos, se referindo à cerimônia masculina judaica que apresenta seus jovens à sociedade como um membro maduro. “Mas debutante de um menino, realmente, foi algo inédito. Os tempos mudaram, ainda bem”, celebra Apério, querido por todo o staff do Copa e um dos funcionários mais antigos de lá.

Essa não é a primeira vez que a família de Pedro Moraes ganha as manchetes. Em agosto de 2022, uma aeronave caiu na piscina da casa da família, em um condomínio de luxo, na Barra. Foi Pedro quem, da varanda, viu quando o ultraleve se aproximou. “Pensei, sei lá, que fosse um ovni”, lembra. Ninguém da família foi atingido, mas os dois integrantes da aeronave, incluindo o piloto, ficaram feridos. “Minha família nasceu de novo e, desde então, não deixamos de celebrar nenhum aniversário. Não deixamos a vida passar em branco e nem perdemos mais a oportunidade de dizer, sempre que possível, o quanto a gente se ama”, finaliza Viviane Moraes.

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