O caso de agressão contra a Miss Universo Rio Branco 2023, Guilheny Abramoski, de 22 anos, veio à tona com exclusividade na Coluna Douglas Richer, do ContilNet, no dia 19 de novembro. O episódio ocorreu após uma denúncia feita pela modelo contra o então companheiro, o empresário e atirador Nasser Chami, por agressões físicas e psicológicas no dia anterior.
Agora, oito dias após expor a violência que sofreu, Guilheny quebra o silêncio e fala pela primeira vez sobre os traumas vividos naquela noite, a dificuldade de enfrentar as memórias e os desafios para recomeçar. A modelo relata como tem lidado com o medo constante e como encontrou forças para usar sua experiência como forma de encorajar outras mulheres a romperem o ciclo de violência.
A agressão, segundo Guilheny, aconteceu em sua casa, no bairro Village Maciel, em Rio Branco, onde morava com Nasser desde janeiro deste ano. Desde então, a miss tem recebido acompanhamento psicológico e apoio de instituições como a Patrulha Maria da Penha e a Casa Rosa Mulher, além de amigos e familiares.
Em uma entrevista exclusiva à Coluna Douglas Richer, do ContilNet, Guilheny detalha os momentos de dor e superação.
Douglas Richer: Como você está se sentindo depois de toda a polêmica? Você poderia falar sobre o assunto?
Guilheny Abramoski: Ainda tô me sentindo muito aflita, com muito medo e receio do que ele pode fazer ou mandar fazer comigo e com minha família. Já tive várias crises de ansiedade, por mais que tenha sido muito bem acompanhada e apoiada pela Patrulha Maria da Penha, Casa Rosa Mulher, Ministério Público, Governo do Estado e Secretaria da Mulher, além da minha família e amigos, que estão sendo uma luz na minha vida, e não sei nem como agradecer tamanho amor, carinho e cuidado por mim.
Já estou conseguindo dormir sem medicamento. E voltei a comer normalmente. Estou tendo acompanhamento psicológico.
Douglas Richer: Qual o seu maior medo hoje? Você teme algo? Ou se sente protegida?
Guilheny Abramoski: Tenho medo até de sair. Não estou saindo, somente para consultas e sempre acompanhada.
Douglas Richer: Sabemos que o silêncio em casos como o seu é muitas vezes imposto pela sociedade ou até pela justiça. O que te encorajou a romper esse silêncio e compartilhar sua história?
Guilheny Abramoski: O fato de eu poder de alguma forma ajudar outras mulheres, seja direta ou indiretamente, através do meu testemunho.
Douglas Richer: Muitas mulheres podem estar vivendo situações semelhantes à que você enfrentou. Que conselhos ou orientações você daria a essas mulheres?
Guilheny Abramoski: Não ficar calada, denunciar e ter coragem pra isso.
Porque o ciclo da violência (como já diz “ciclo”), não para, o ciclo vai se repetindo e ficando cada vez pior, até chegar ao feminicídio, e isso não sou eu quem estou falando, as estatísticas estão aí como prova.
Douglas Richer: Hoje, depois de tudo o que viveu, o que significa para você ser uma sobrevivente?
Guilheny Abramoski: Significa muito. A vida é o que há de mais importante nesse mundo.
Douglas Richer: De que forma essa experiência impactou a forma como você enxerga os relacionamentos e a confiança em outras pessoas?
Guilheny Abramoski: O suficiente para tomar mais cuidado com os detalhes daqui pra frente, porque os sinais estão nos detalhes, e são nítidos. Nós quem vamos perdoando e deixando passar, deixando sermos manipulados, e quando percebemos já estamos dentro de uma bola de neve gigante.
Douglas Richer: Como tem sido o processo de lidar com as memórias e traumas desse período?
Guilheny Abramoski: Olha, vou ser sincera com você, é pior do que eu imaginava. Sempre fui de me solidarizar muito com a dor do outro, mas realmente só entendemos a dor do outro quando passamos pelo mesmo. É algo inexplicável, e cada um lida de uma forma, cada um leva uma lição de vida diferente. Só posso dizer que não é nada fácil e que a dor psicológica é mil vezes pior que a dor física.
Douglas Richer: Qual foi o momento mais difícil que você viveu durante esse relacionamento?
Guilheny Abramoski: As ameaças a quem eu amo e a violência física e psicológica.
Douglas Richer: Muitos casos de violência doméstica permanecem ocultos por medo ou vergonha. O que passava pela sua cabeça enquanto enfrentava essa situação?
Guilheny Abramoski: No início, me sentia muito envergonhada por “me permitir” passar por tudo aquilo. Sofri muito tempo calada até não aguentar mais.
Douglas Richer: Você chegou a procurar ajuda antes da separação? Se sim, como foi essa experiência? Se não, o que te impediu?
Guilheny Abramoski: Nunca procurei ajuda por medo dele.
E graças a Deus não precisei pedir ajuda, o socorro veio até mim. Por isso acredito que Deus envia anjos como pessoas para nos ajudar a sair de situações que não conseguimos sair sozinhos.
Douglas Richer: Como você está lidando hoje com as cicatrizes emocionais e físicas desse trauma?
Guilheny Abramoski: Estou me recuperando aos poucos. Tenho fé que conseguirei vencer essa batalha.
Ao final da entrevista concedida ao ContilNet, Guilheny Abramoski revelou que, durante o relacionamento, foi forçada pelo ex-companheiro a abandonar o trabalho, o que a deixou sem exercer nenhuma profissão atualmente. “No momento, estou sem exercer nenhuma profissão por conta do afastamento. Quando estava com ele, ele me afastou do trabalho”, desabafou a miss, ressaltando mais um dos impactos que a relação abusiva teve em sua vida.
Nasser está sendo monitorado por tornozeleira eletrônica e está proibido de se aproximar a menos de 200 metro da denunciante. Ele também está proibido de frequentar bares ou casas noturnas. Suas armas que usava para prática esportiva foram apreendidas.
O suspeito deverá comparecer semanalmente à Central Integrada de Alternativas Penais (CIAP) para participar de grupos de reabilitação para autores de violência doméstico.